23/Apr/2024
No Brasil, o temor de que os Estados Unidos mantenham suas taxas altas por mais tempo diante da inflação doméstica e que as tensões no Oriente Médio tomem maiores proporções fizeram o dólar disparar e as saídas de ações brasileiras ultrapassarem R$ 1 bilhão no ano. Enquanto isso, no Hemisfério Norte, ministros das finanças e banqueiros centrais alertaram que o atraso do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) é uma ameaça à flexibilização monetária em curso, durante as reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, realizadas em Washington DC, ao longo da semana passada. As autoridades monetárias do Brasil e de outros países da América Latina indicaram que o ciclo de queda de juros pode ser menos intenso, bem como parar antes do previsto diante o quadro atual.
Por sua vez, as questões domésticas passam a ter mais evidência, com um lembrete da necessidade de colocar o fiscal em ordem. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, houve uma reversão drástica de expectativas em março e isso mudou o humor em relação a como vão se comportar as variáveis macroeconômicas nos Estados Unidos, na Europa, no Brasil, nos países emergentes e assim por diante. Isso está se acomodando e é preciso ter cautela para saber onde vai parar. Depois de bater R$ 5,29, o dólar fechou a semana passada com alta de 1,53%, nos maiores níveis desde o fim de março do ano passado. Por sua vez, as ações brasileiras sofreram resgates de R$ 116 milhões na semana encerrada no dia 18 de abril, levando o acumulado no ano para mais de R$ 1 bilhão, de acordo com levantamento do Bank of America.
Sem investimento estrangeiro, a sangria acumulada sobe para R$ 3,2 bilhões. Segundo o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, houve uma grande reprecificação dos ativos globais causada, principalmente, pelo cenário externo. E, diante disso, houve uma perda na visibilidade que gera um custo para a política monetária. O Banco central decidiu não mais usar o 'forward guidance' (sinalização futura), porque a visibilidade é menor. As falas do banqueiro central, em especial a investidores, fizeram o mercado mudar as expectativas para o futuro da Selic. O corte de 0,5% em maio ‘subiu no telhado’ e a expectativa de uma redução de 0,25% para a próxima reunião ganhou força. Mas, a Monte Bravo Corretora, por exemplo, preferiu não seguir a maioria. Assim como o cenário mudou muito rápido para pior, pode mudar muito rápido para alguma coisa parecida com o que estava antes.
O alerta para o efeito dos juros norte-americanos elevados reforçou outro temor da comunidade internacional: a situação fiscal mundo afora e os dilemas domésticos, em especial, nas economias emergentes e em desenvolvimento. Desde a pandemia, os países abriram as torneiras de gastos e, agora, têm dificuldade de estancar a gastança. O FMI instou ministros de finanças a reconstruírem os colchões fiscais, diminuídos na esteira da pandemia. Para o Brasil, o alerta veio traduzido em piores projeções para o déficit fiscal neste e nos próximos anos. O FMI estima que o Brasil tenha déficit primário de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 e de 0,3% em 2025. Apesar de não acreditar em um superávit até o fim do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o organismo melhorou as projeções para o endividamento do Brasil e passou a projetar um crescimento menor e, ainda assim, para patamares que só perdem para países como o Egito e a Ucrânia.
Haddad ignorou a parte do déficit e celebrou o reconhecimento do FMI para a trajetória da dívida brasileira. Mas, reforçou sua preocupação com o quadro fiscal do País, na esteira de o governo anunciar metas menos ambiciosas para 2025 e 2026. Ele voltou a cobrar a responsabilidade do Congresso e do Executivo com a sustentabilidade das contas públicas. Para a Monte Bravo Corretora, há um difícil e complexo jogo fiscal no Brasil, com ações no sentido apenas de elevar a receita, e não direcionadas ao corte de gastos. Apesar de ter suavizado as projeções para o crescimento da dívida, o FMI reforçou o alerta para a necessidade de o País avançar na agenda de reformas e se engajar em um esforço fiscal sustentado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.