22/Apr/2024
O governo federal está enfrentando o duro teste de realidade de quem prometeu atender demandas praticamente impossíveis de cumprir, sobretudo diante de sindicatos e de movimentos sociais que equiparam a eleição de Lula da Silva à volta do messias. Passados mais de 15 meses de mandato, as pressões são evidentes, e o governo parece mais atônito do que nunca nas suas respostas. Fazendo jus à sua vocação para emparedar governos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) puxa o grito, com sua tradicional sequência de invasões e delitos a que chama de “Abril Vermelho”.
Enquanto o governo anunciava o Programa Terra da Gente, destinado a acelerar assentamentos, o MST invadia propriedades privadas e públicas em pelo menos 11 Unidades da Federação, incluindo áreas de pesquisa da Embrapa e da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), ambas ligadas ao Ministério da Agricultura. Enquanto isso, a paralisação dos profissionais do meio ambiente ameaça, desde janeiro, a fiscalização ambiental e a emissão de licenças para obras de infraestrutura suspensas. Uma ‘bomba-relógio’ com perigo iminente para o que se imagina ser estratégia do governo Lula para o País, isto é, a economia e o meio ambiente. Antes, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, defendeu distorções em favor dos privilégios das guildas.
Primeiro, Marinho tentou arruinar a reforma trabalhista, com mudanças que feririam de morte a modernização da legislação implementada no governo Temer; depois, seguiu numa ofensiva atabalhoada em nome do projeto de lei que cria direitos trabalhistas para motoristas de aplicativos. Agora, professores de universidades e institutos federais entraram em greve reivindicando reajuste salarial, reestruturação de carreira e equiparação dos benefícios dos servidores públicos federais àqueles concedidos ao Legislativo e Judiciário. O diálogo aberto com o governo não freou o ímpeto da categoria para suspender as aulas. Trata-se de uma iniciativa que, como se sabe, prejudica tão somente os alunos e o País, como bem resumiu o ministro da Educação, Camilo Santana.
Servidores técnico-administrativos de institutos federais já estão em greve desde março, pedindo a revogação de diversas iniciativas de governos anteriores, ao pregar inclusive uma contrarreforma da Previdência Social. Não satisfeito, o PT tem reforçado as pressões ao liderar a sabotagem ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para os petistas, Haddad erra ao se esforçar pelo elementar: a responsabilidade das contas públicas. Um esforço vão, como se viu na revisão da meta fiscal para este ano. Pressões de toda ordem fazem parte da rotina de governos, à esquerda e à direita, responsáveis ou populistas.
Sobretudo quando demandas ficaram represadas durante quatro anos, como foi o caso do governo de Jair Bolsonaro, marcado por arrocho salarial e absoluta ausência de diálogo. O problema das pressões atuais é que exigem uma habilidade política que Lula não parece demonstrar no momento. Ele e seus ministros vêm se desequilibrando num perigoso pêndulo, ou a dificuldade de atender as demandas ou a tentação de atendê-las em demasia. Seus efeitos são trágicos e conhecidos: desarranjos institucionais, greves, invasões de terra e a areia movediça da instabilidade e do risco permanentes. Uma tentação adicional para abrir os cofres onde não há espaço para concessões. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.