16/Apr/2024
A escalada das tensões no Oriente Médio durante o fim de semana deve gerar volatilidade no curto prazo aos contratos futuros de petróleo, em uma pressão que tende a se estender às expectativas para a inflação nos Estados Unidos e, por consequência, para os juros na maior economia do mundo. Na visão de especialistas, este cenário pode reduzir o espaço para que o Banco Central brasileiro corte a taxa Selic já a partir de junho. A pressão pode crescer ao longo dos próximos dias caso continuem as incertezas sobre a reação de Israel, ou o país decida revidar o Irã militarmente. Para a G5 Partners, toda a reação do mercado vai depender muito do que Israel fizer.
O ataque do sábado (13/04) foi uma resposta do Irã ao bombardeio à embaixada do país em Damasco, no Síria, em 1º de abril, que o Irã acusa ter sido feito por Israel. Uma contraofensiva militar poderia desencadear um conflito maior na região, que concentra boa parte da produção mundial de petróleo. O Irã e países aliados são grandes produtores da commodity, e uma guerra poderia levar a sanções ou dificuldades de produção e escoamento. Segundo a MB Associados, enquanto a crise estava circunscrita a Israel e Gaza, os preços dos principais ativos tinham menos impacto. O grande risco era o envolvimento maior de países mais frontalmente inimigos de Israel, e com um peso maior em petróleo. O ataque em Damasco e a contraofensiva do Irã transformaram esse envolvimento em uma possibilidade maior.
Para a André Perfeito Consultoria Econômica (APCE), o ataque iraniano parece ter sido arquitetado para ser um recado, dado que os sistemas de defesa de Israel conseguiram contê-lo, mas que deixa incertezas no ar. O conflito pode levar a impactos também no mercado de juros, porque uma eventual alta do petróleo pressionaria a inflação e ampliaria no mercado as apostas de que o corte de juros nos Estados Unidos virá apenas no final do ano. Essa previsão ganhou força após a inflação norte-americana ao consumidor (CPI) subir 0,4% em março, contra uma expectativa do mercado de alta de 0,3%. Se juntar o cenário norte-americano com este cenário novo, recente, da guerra do Oriente Médio, está montado o discurso para talvez o Banco Central desacelerar a queda de juros depois da próxima reunião.
Uma piora no conflito poderia levar o Banco Central brasileiro a sinalizar na reunião de maio que, a partir do encontro de junho, reduzirá de 0,50% para 0,25% o ritmo de cortes na Selic, que hoje está em 10,75%. No comunicado da última decisão de política monetária, em março, o Copom retirou a chamada prescrição futura (forward guidance) sobre manter o corte de juros em 0,50%. O motivo foi a maior incerteza externa, diante da inflação resiliente nos Estados Unidos. Isso tudo, obviamente, é mais inflação, e aumenta o motivo principal que o Banco Central deu para retirar o forward guidance para a reunião de junho, que era o aumento das incertezas.
A APCE afirma que a Selic ao final do ciclo de cortes deve ficar em 9,75%, acima dos 9% esperados por parte do mercado, e a escalada do conflito entre Israel e países alinhados ao Irã pode contribuir para este menor afrouxamento monetário. Se é verdade que isso vai dar um estresse grande a curto prazo, implica em dizer que os graus de liberdade que a autoridade monetária tem para reduzir os juros no Brasil diminuíram. O resultado deve ser uma atividade econômica mais lenta que o esperado. Para a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), isso também implica em uma inflação mais alta. Com isso, os juros sobem e afetam a atividade econômica. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.