12/Apr/2024
Ao adotar o Plano de Transformação Ecológica, programa encabeçado pelo Ministério da Fazenda para promover o desenvolvimento sustentável, o Brasil deu os primeiros passos para se tornar protagonista de um mundo que busca reduzir as emissões de gás carbônico, de acordo com a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), Marina Grossi. Agora, porém, ela diz que é preciso melhorar o ambiente de negócios para atrair o capital externo que permita ao País fazer a transição para uma economia de baixo carbono. “Para atrair os recursos e redirecionar nosso desenvolvimento, precisamos de previsibilidade, de incentivos e políticas públicas.” Segue a entrevista:
Qual o maior desafio do Brasil para implementar uma agenda econômica sustentável?
Marina Grossi: A agenda do desenvolvimento sustentável requer um grande nível de transversalidade, com medidas abrangentes do poder público e das empresas, além de uma visão de médio e longo prazos. Ela passa por temas como regulação, financiamento e cadeia de fornecedores. Exige uma visão de Estado. No ano passado, o Cebds lançou, em parceria com a consultoria BCG, o estudo Desafios do Setor Empresarial Brasileiro na Jornada Net Zero. Essa pesquisa contou com respostas de mais de 50 companhias, e mostrou que as principais dificuldades estão ligadas a incertezas regulatórias, para 64%, a engajamento dos fornecedores, para 49%, e à ausência de referências setoriais, para 38%.
O Brasil está preparado para assumir protagonismo na agenda global de descarbonização?
Marina Grossi: O Brasil é um dos países mais bem posicionados do mundo para realizar a transição justa para uma economia net zero (em que as emissões de carbono são neutralizadas por medidas que retiram o gás da atmosfera) e com impacto positivo para a natureza até 2030. Somos uma potência ambiental e temos vantagens comparativas que nos posicionam na frente dos demais países. O desafio é transformá-las em vantagens competitivas. Um importante passo foi dado com a adoção do Plano de Transformação Ecológica, que sinaliza internamente e para o mundo que nossa trajetória econômica vai na direção de uma economia de baixo carbono, inclusiva e com valorização dos ativos ambientais. No entanto, é preciso melhorar o ambiente de negócios para atrair capital externo, já que os nossos recursos (financeiros) são mais limitados.
Como atrair recursos quando se compete com EUA e União Europeia?
Marina Grossi: Precisamos de previsibilidade, de incentivos e políticas públicas que apontem nesta direção. Temos uma NDC (compromisso do País de redução de emissões) ambiciosa, podemos ser net zero antes do resto do mundo e temos um plano em construção, mas precisamos acelerar este processo por meio de maior articulação com a sociedade e de uma estratégia clara da trajetória que faremos para cumprir o que anunciamos. A estratégia para descarbonizar a economia brasileira passa também pelo firme combate ao desmatamento ilegal, por estratégias de regeneração de ecossistemas e pela redução das emissões de gases de efeito estufa na agropecuária. Também é mais do que necessário olhar para a transição energética.
Fonte: Broadcast Agro.