11/Apr/2024
A Petrobras comunicou na terça-feira (09/04) que descobriu uma acumulação de petróleo em águas ultra profundas da Bacia Potiguar, no poço exploratório Anhangá, da Concessão POT-M-762_R15. O poço está situado próximo à fronteira entre Ceará e Rio Grande do Norte, a cerca de 190 quilômetros de Fortaleza (CE) e 250 quilômetros de Natal (RN), a 2.196 metros de profundidade, na Margem Equatorial brasileira. Esta é a segunda descoberta na Bacia Potiguar em 2024 e foi precedida pela comprovação da presença de hidrocarboneto no Poço Pitu Oeste, localizado na Concessão BM-POT-17, a cerca de 24 quilômetros de Anhangá. A Petrobras é a operadora de ambas as concessões com 100% de participação. As descobertas ainda necessitam de avaliações complementares. As atividades exploratórias na Margem Equatorial representam mais um passo no compromisso da Petrobras em buscar a reposição de reservas e o desenvolvimento de novas fronteiras exploratórias que assegurem o atendimento à demanda global de energia durante a transição energética.
A estatal acrescenta que a constatação de reservatórios turbidíticos de idade Albiana portador de petróleo é inédita na Bacia Potiguar. A companhia pretende investir US$ 7,5 bilhões em exploração até 2028, sendo US$ 3,1 bilhões na Margem Equatorial, que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte. Está prevista a perfuração de 50 novos poços exploratórios no período, sendo 16 na região da Margem Equatorial. Caso o Brasil mantenha a demanda de petróleo nos patamares atuais e não sejam incorporadas novas reservas, o País poderá se tornar um importador de petróleo, daí a importância da diversificação energética, garantindo tanto a oferta de petróleo, como também investimentos em novas energias de baixo carbono. Em meio à crise política que assola a Petrobras, a descoberta no poço Anhangá, ainda sem tamanho claro, não deve empolgar o mercado por si só, mas, devido a suas especificidades geológicas, pode funcionar como fator de pressão para o início da exploração em bacias contíguas, mais acima na Margem Equatorial, caso da Foz do Amazonas, onde a Petrobras tenta uma licença ambiental negada há mais de um ano pelo Ibama.
Ao fim do comunicado sobre a descoberta, a estatal informa ter descoberto óleo em reservatórios "turbidíticos de idade Albiana", algo inédito Bacia Potiguar e que coincide com as formações encontradas em grandes reservatórios na Guiana e no Suriname, na fronteira norte do litoral brasileiro, e em Gana e na Costa do Marfim, onde também aconteceram descobertas promissoras recentemente. Esse tipo de sistema petrolífero, de arenito turbidítico albiano, é o que se espera encontrar nas bacias da Foz do Amazonas, Pará-Maranhão e Barreirinhas. Isso foi encontrado agora na Bacia Potiguar, no extremo da Margem Equatorial, região das menos aptas a isso. Então, as chances de encontrar o mesmo nas outras bacias de cima aumentam. Não é a mesma coisa que foi encontrada em Pitu Oeste, é melhor e abre fronteira grande para a Margem Equatorial. Já se sabe, pelas sísmicas, que as outras bacias da Margem Equatorial têm essa característica geológica, mas agora essa descoberta deixa isso ainda mais claro.
A terminologia "acumulação de petróleo", usada pela Petrobras é mais significativa do que o termo "presença de hidrocarboneto", usado no comunicado da Petrobras sobre a descoberta do fim de janeiro, no poço de Pitu Oeste, a apenas 24 quilômetros de distância de Anhangá, o poço da vez. À época, a estatal informou que a descoberta em Pitu Oeste era inconclusiva quanto a viabilidade econômica e não mais voltou a fazer atualizações sobre a avaliação do poço, o que apontaria para baixa atratividade econômico-financeira. Mesmo que a descoberta de momento tenda a ser superior àquela do início do ano, ainda não é possível avaliar a nova descoberta nesse sentido e o principal é mesmo a pista sobre a geologia da Margem Equatorial. No anúncio, a Petrobras se limita a dizer que a descoberta é "inédita" na Bacia Potiguar, tendo sido realizada através de perfis elétricos e amostras de óleo, e que dará continuidade às atividades exploratórias na concessão, visando avaliar a qualidade dos reservatórios, as características do óleo e a viabilidade técnico-comercial da acumulação.
O engenheiro químico especializado em upstream, Marcelo de Assis, se diz cauteloso. É realmente uma rocha boa, mas tende a não ser um super-reservatório, afirma, descartando efeito positivo sobre as ações no momento em que uma crise política afeta as expectativas do mercado. Essa descoberta não é `game changer' como seria se tivessem perfurado no Amapá e encontrado petróleo. É sim uma notícia boa, mas nada retumbante com efeito positivo para o papel. Vai servir mais para dizer que existe petróleo na Margem Equatorial e gerar `momentum' favorável à perfuração da região, completa. Ele observa a distância entre o local do poço onde foi feita a descoberta e o Amapá, região com as maiores chances da Margem Equatorial. É muito longe, não é o mesmo sistema e é difícil fazer paralelos. Esse anúncio pode mais confundir do que ajudar. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.