02/Apr/2024
A crescente discussão sobre inadimplência em títulos do agronegócio tem se refletido em uma “safra ruim” para os fundos de investimento em cadeias agroindustriais (Fiagros), refletindo-se em cotas desvalorizadas e investidores ressabiados. Mas, especialistas em investimentos não acreditam em uma crise sistêmica nessa indústria, para a qual a perspectiva positiva é mantida. A XP observa que, em meados de 2023, pedidos de recuperação judicial e inadimplências já haviam impactado negativamente os Fiagros, o que resultou na desvalorização do valor de suas cotas. Alguns fundos foram impactados diretamente pelas inadimplências, mas outros sofreram com o pessimismo gerado sobre a classe. Agora, trata-se de uma questão mais macroeconômica do que jurídica, segundo o escritório Candido Martins. O ano passado não foi tão positivo para o agronegócio como vinha sendo antes, as margens estavam mais apertadas.
E, neste ano, há um reflexo macroeconômico afetando a cadeia, com queda de preço de commodities, juro alto pressionando preços, muitos produtores alavancados e alguns problemas climáticos que estão gerando prejuízo. Isso gera um cenário de instabilidade e certo estresse. Não é diferente de qualquer setor da economia. A Nomos Investimentos afirma ter conversado com fundos da carteira recomendada da casa e não observa um problema generalizado. Mas, devido à dinâmica de mercado, a Nomos reduziu a exposição a Fiagros. No início da recomendação, em julho de 2023, a carteira agro tinha 50% de fundos e 50% de ações; hoje a proporção é de 35% e 65%, respectivamente. Não que haja receio de que seja algo sistêmico. Mas, esse ‘burburinho’ envolvendo a classe tem levado à uma performance negativa como um todo. É uma proteção. Porém, a visão para frente continua muito positiva.
A carteira agro recomendada pela Nomos é composta pelos seguintes ativos: KLBN11, Boa Safra Sementes e SLC Agrícola (peso 9% cada), Jalles, Kepler Weber e BrasilAgro (peso 8% cada), VGIA11, São Martinho e Minerva Foods (peso 7% cada), RZAG11, CPTR11 e KNCA11 (peso 6% cada), e RURA11 e SNAG11 (peso 5% cada). O mercado está começando a entender que o agronegócio tem outros fatores de risco que são característicos dele. É um setor que está mais sujeito à exposição climática e tem muitas diferenças entre os tipos de produção. Há uma série de nuances e é um mundo bastante novo para a maioria dos investidores. É apenas um momento em que os investidores vivem uma “curva de aprendizado” e os gestores desenvolvem “mecanismos de adaptação”. E como mitigar os riscos em meio a esse processo?
Do lado das gestoras, a movimentação deve se dar por meio de maior pulverização dos ativos, tanto por região geográfica quanto tipo de cultura. Outro cuidado é em relação ao fluxo financeiro dos emissores de certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs), uma vez que o capital costuma estar atrelado aos períodos de 1ª safra e 2ª safra. Do lado dos investidores, esses pontos podem ser acompanhados mediante a transparência na divulgação de informações das gestoras. A XP compila os principais riscos associados aos Fiagros: risco de crédito, liquidez, mercado, governança, concentração e clima. O gestor é responsável pela alocação de ativos do fundo e pela contratação dos prestadores de serviços que fazem análise de rating dos papéis. Segundo o escritório Candido Martins, os investidores questionam se há responsabilidade dos gestores por problemas nos CRAs, que podem penalizar o fundo, e a resposta, via de regra, é que não.
A não ser que se comprove que um gestor comprou um papel com conflito de interesses, por exemplo. Mas, parece um cenário normal de mercado, isso não é exclusividade do agronegócio. Se olhar qualquer setor da economia há empresas com dificuldade de crédito. O investidor precisa ter paciência e acreditar na tese dos fundos em que estão investindo, pois são ciclos. Além da isenção fiscal para o investidor pessoa física, os Fiagros atraem pela distribuição de dividendos. A XP, descreve que, em comparação aos seus “primos” (fundos de investimento imobiliário de recebíveis), os Fiagros, em média, costumam apresentar maiores dividend yields. A distribuição é de algo como 1% ao mês e líquido de imposto. Clientes que visam renda gostam bastante, diz a Nomos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.