20/Mar/2024
As fusões e aquisições de empresas listadas em Bolsa sem controlador definido começam a virar tendência no mercado. Nos últimos meses, várias transações foram feitas por meio de compras “silenciosas” de ações ou fusão de companhias. A expectativa é de que esse tipo de operação continue crescendo nos próximos meses. Entre os casos recentes, a aquisição do controle da Zamp, a dona do Burger King no Brasil, pelo Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, é um exemplo de compras gradativas de ações na Bolsa. Fundos proprietários da XP também entraram na onda e compraram uma fatia de mais de 8% na Petz, tornando-se o segundo maior acionista da empresa. Dois casos emblemáticos são da aquisição de 4,9% da Vale pela Cosan, envolvendo cerca de R$ 17 bilhões, e da tomada de controle da BRF pela Marfrig, por meio de compras de ações que duraram mais de um ano. Entre operações de união de empresas, o caso recente é da aquisição da Soma pela Arezzo, e das petroleiras 3R e Petroreconcavo, não concluído, mas já sinalizado.
Para o futuro, um negócio potencial visto pelo mercado é o Grupo Pão de Açúcar (GPA). A empresa já anunciou que fará uma oferta de ações de até R$ 1 bilhão. Caso consiga vender todos os papéis, a fatia do controlador Casino, que não deve participar da operação, cairá pela metade, para 20%, e 80% do capital da rede de supermercados estará no mercado. Segundo o Bank of America, esse é um movimento que pode se acentuar neste ano. São transações que ficaram favorecidas pela melhora do cenário macroeconômico e pelo valor de mercado ainda muito deslocado na Bolsa de algumas empresas. Os investidores que estão com capital em mãos estão se sentindo mais seguros para fazer o movimento neste momento em que a visibilidade do ambiente macroeconômico e político está mais clara. A alta da Bolsa ficou concentrada em alguns setores e há empresas negociadas abaixo de seu valor potencial. Nas operações de aquisição de participação sem conhecimento do mercado, o investidor adquire ações, tendo um banco ou corretora como comprador.
Pelas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a identificação do negócio ao mercado e à companhia somente é obrigatória quando a transação alcança participação de 5% e múltiplos de 5%. As compras silenciosas evitam alguns ruídos que podem, em alguns casos, inviabilizar negócios, como oscilações no preço das ações em Bolsa vistas em transações anunciadas ao mercado. A ausência de um controlador definido, por sua vez, evita potenciais desgastes com sócios controladores e pode ser vista com bons olhos pelos demais acionistas, que enxergam ganho de valor em suas posições no futuro. O Itaú BBA afirma que o mercado de capitais brasileiro evoluiu a um ponto em que o grande número de empresas sem acionistas controladores torna natural a combinação de companhias por meio da Bolsa. Esse ano ficou ainda mais claro que essa tendência vai continuar. Uma das primeiras operações de aquisição de empresa via bolsa foi da Fibria pela Suzano, ambas do setor de papel e celulose, com uma oferta superior ao preço de mercado, o que fez sentido para os investidores.
Isso só acontece porque as empresas são listadas, têm referência de mercado e nenhum acionista tem 50% das ações, então é muito mais fácil uni-las para gerar valor. Várias empresas que estrearam na B3 depois do Novo Mercado, em 2002, hoje têm capital diluído. Essas operações entre empresas com capital diluído têm uma agilidade muito grande e há operações semelhantes ao que acontece no mercado norte-americano. Para o Bank of America, o mercado vem aprimorando sua capacidade técnica para criar estruturas para assessorar esses clientes sem assumir eventuais riscos financeiros por ter sido o comprador. No caso da aquisição da fatia da Vale pela Cosan, no final de 2022, a operação incluiu compra de papéis no mercado à vista e uma sofisticada estrutura de “colar”, formada por opções de compra e venda que dava direito de garantir ações futuras da mineradora. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.