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19/Mar/2024

China: desafios para crescimento econômico de 5%

O governo da China fixou o crescimento econômico de 5% como sua meta para este ano. Não se trata de estimativa, mas de um marco que, embora mais modesto, não será nada fácil de ser alcançado. Maior do que a mais recente projeção do Banco Mundial, de expansão de 4,6%, e abaixo do desempenho de 5,2% no ano passado, a meta exibe os limites para o país retomar o nível de atividade mais robusto da década passada. Nos detalhes do plano, entretanto, não figura apenas a estratégia de contornar os fatores que puxam para baixo o crescimento chinês. Há também a reorientação para uma economia mais competitiva em alta tecnologia e energia limpa e impulsionada pelo setor privado. A China dificilmente voltará a crescer a taxas de dois dígitos, como nos anos 2000.

Mas, o anúncio do primeiro-ministro Li Qiang na abertura do ano legislativo do Congresso Nacional do Povo, no dia 5 de março, expressa a convicção do Politburo chinês de que deve haver um piso a ser observado para o crescimento do Produto Interno Bruto. Se conseguirá cumprir, é outra história. Crescer a 5% será um desafio. A China enfrenta, sobretudo, uma queda acentuada no consumo doméstico, que resulta em alto nível de capacidade ociosa de produção e em deflação. Elevar a confiança do consumidor não depende apenas da expansão monetária, já em curso. Essencial será eliminar a sensação de risco provocada pela crise imobiliária, que levou consumidores chineses, prejudicados ou não pelo estouro da bolha, a limitar os gastos e a poupar ainda mais.

Uma solução definitiva para o setor imobiliário, por mais crucial que seja, demandará tempo e energia. O governo chinês tem evitado a quebradeira das empreiteiras, estatizou o segmento da construção habitacional, antes dominado por gigantes como a Evergrande, e restringiu o acesso dessas empresas ao crédito de bancos comerciais. Tudo indica que as medidas anunciadas até o momento são insuficientes. A crise irradiou-se no setor financeiro, nas contas públicas de governos locais e no bolso de cidadãos que investiram em imóveis. Substancial parte do plano para este ano envolve o investimento público adicional de US$ 138,9 bilhões. Boa parte desses recursos será direcionada aos setores de alta tecnologia e de energia limpa e à pesquisa científica.

O governo chinês não esconde seus objetivos de alavancar a produção de bens de alta qualidade, sobretudo pelo setor privado, e de atingir autossuficiência na fabricação de semicondutores. A nova estratégia corrige a política de Xi de privilegiar as estatais na concessão de crédito e de incentivos. Será novamente a vez das empresas privadas. A China, obviamente, terá de lidar com problemas de fundo, como o desemprego elevado entre os jovens e a ausência de políticas de proteção social. A redução da população chinesa é um dilema ainda mais complexo. Ao fixar uma diretriz menos ambiciosa para seu crescimento econômico neste ano, o país revela seus limites e desafios. Ao resto do mundo, a China pelo menos oferece alguma previsibilidade no campo econômico-comercial. Se atingir sua meta de 5%, já terá feito muito.

Após a divulgação de dados da China, a Oxford Economics avalia que, apesar da “normalização” da atividade, a economia do país ainda está longe do considerado "normal", principalmente do lado da demanda. A Oxford manteve a projeção de crescimento da China de 4,7% em 2024, sem atingir a meta de "cerca de 5%" do governo do país. Apesar de reconhecer que os dados do lado da oferta superaram as expectativas e regressaram tendência pré-pandemia, a Oxford Economics aponta que o desequilíbrio entre oferta e demanda poderá alimentar receios sobre mais desinflação. Os dados foram consistentes com a procura lenta por crédito. Em particular, continua-se assistindo a empréstimos bancários fracos às famílias (particularmente em empréstimos de médio a longo prazo relacionados a imóveis), em um contexto de dificuldades no setor imobiliário para encontrar um ponto de suporte e de um sentimento de consumo ainda péssimo.

A Capital Economics avalia que os dados de produção industrial e de vendas no varejo da China sugerem que a economia do país segue melhorando, em um movimento que deverá se estender pelos próximos meses. A consultoria ressalta, entretanto, que alcançar a meta do governo de "cerca de 5%" de crescimento econômico em 2024 ainda parece um desafio. A projeção da Capital Economics é de uma melhora ainda mais acentuada no curto prazo, mas a recuperação poderá se revelar de curta duração devido aos "desafios estruturais da economia" e, em particular, à queda nas vendas de imóveis. A taxa de desemprego na China aumentou pelo terceiro mês consecutivo, a 5,3%. Com o resultado, o desemprego voltou ao nível de julho, revertendo quase meio ano de progresso estável e gerando um novo problema para a economia chinesa. O aumento do desemprego vem acompanhado de evidências de um declínio na média de horas de trabalho na China, o que os economistas geralmente interpretam como um sinal de que as pessoas estão subempregadas ou trabalhando bem abaixo de seu potencial.

Outro ponto de preocupação, a taxa de desemprego entre jovens de 16 a 24 anos deixou de ser publicada regularmente desde o salto a 21% em junho do ano passado. Juntos, esses sinais do mercado de trabalho apontam para "bolsões de fraqueza" na economia da China e sugerem que, apesar da atividade se beneficiar de um modesto estímulo do governo, será necessário mais para garantir uma recuperação duradoura. Agora não é o momento para complacência, afirmou a Nomura. A Oxford Economics analisa que o aumento da taxa de desemprego aponta que as empresas não veem demanda suficiente para justificar a contratação de mais funcionários, mesmo que estejam aumentando sua capacidade produtiva recentemente. O desemprego na China deveria estar em torno de 4% se a economia estivesse operando em seu potencial máximo. Isso como um sintoma de fraqueza da demanda. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.