01/Mar/2024
Segundo dados desagregados do Monitor do PIB, apurados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), o consumo das famílias renovou patamar recorde ao fim de 2023, mas os investimentos na economia completaram cinco trimestres consecutivos de retração. Com isso, permanecem quase 20% abaixo do pico alcançado uma década antes. A combinação sinaliza uma redução no potencial de crescimento futuro da atividade econômica. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 3,0% em 2023, de acordo com os cálculos do Monitor do PIB. Em termos monetários, a economia brasileira somou um recorde de R$ 10,740 trilhões no ano, em valores correntes. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias avançou 3,2% e o consumo do governo, 1,3%.
No entanto, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida dos investimentos no PIB) encolheu 3,4%. Isso acaba afetando o PIB potencial do Brasil. A capacidade de crescimento da economia fica comprometida, compromete o crescimento dos próximos anos. Por isso, a qualidade desse crescimento do PIB fica comprometida. Por mais que o País cresça, e o PIB cresceu bastante em 2023, como a Formação Bruta de Capital Fixo teve esse desempenho, isso deixa uma fragilidade nesse crescimento do ano passado. No quarto trimestre de 2023, o PIB atingiu o ápice da série histórica, iniciada no ano 2000. A economia brasileira acumulou crescimento de 7,24% em relação ao quarto trimestre de 2019, no pré-pandemia de Covid-19.
Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias já cresceu 5,70%, também atingindo recorde. Devido a uma base de comparação depreciada, o componente de Formação Bruta de Capital Fixo teve uma expansão ainda mais significativa no período, com avanço de 8,86%. Mas encerrou o ano passado amargando uma sequência de cinco trimestres seguidos de perdas, descendo a nível 19,46% aquém do pico alcançado no segundo trimestre de 2013. Os cálculos consideram a série encadeada trimestral do índice de volume dos componentes do PIB com ajuste sazonal, estimados pelo Monitor do PIB. Segundo o Banco BV, é preocupante o descompasso entre o bom desempenho do consumo das famílias e o mau resultado dos investimentos.
Tanto a importação quanto a produção doméstica de máquinas e equipamentos estão em queda. Todo o setor que sugere investimentos no País, esteja ligado a ciclos de investimento, está indo muito mal. Isso não é costume. Normalmente investimento e consumo caminham juntos. Investimento um pouco antes, mas quase coincidente. O descompasso só aconteceu em momentos de muito estímulo na economia. Foi de 2006 até 2010. Ali o consumo cresceu muito forte e o investimento ficou para trás. Quando isso acontece, é pressão inflacionária. Nos últimos 20 anos, esse desequilíbrio na economia ocorreu apenas no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Talvez o setor de máquinas e equipamentos, os investimentos, estejam sofrendo por conta dos juros elevados. Então é cedo tirar qualquer conclusão.
Mas, uma preocupação para o Brasil é a questão fiscal, além desse descompasso de oferta e demanda. Isso normalmente é sinal de “confusão". Ressalta-se que os juros altos podem estar abalando também a confiança do empresariado, que toma decisões sobre a realização de investimentos. Os dados do Monitor do PIB estimam que a Formação Bruta de Capital Fixo foi derrubada em 2023 por um tombo de 8,5% nos investimentos em máquinas e equipamentos. O componente da construção recuou 0,5%, e o componente que reúne as demais classes de ativos cresceu 3,7%. Para 2024, os pesquisadores do Ibre/FGV esperam alguma recuperação na FBCF, diante de uma expectativa de juros mais baixos e obras de prefeituras em ano de eleições municipais. Os prefeitos das cidades que estão com recursos vão gastar, então o ano eleitoral puxa a construção.
Além da própria proposta do governo com relação ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Também deve colaborar a base comparação baixa. Então, a expectativa realmente é de crescimento para a Formação Bruta em 2024. Mas, a defasagem entre o ciclo de corte de juros e seu impacto na economia pode levar a uma reação do investimento apenas no segundo semestre deste ano, para enfim encerrar 2024 em crescimento. O Monitor do PIB da FGV busca antecipar a tendência do principal índice da economia a partir das mesmas fontes de dados e metodologia empregadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo das Contas Nacionais. Os dados oficiais do PIB de 2023 serão divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (1º/03). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.