01/Mar/2024
De acordo com Relatório econômico para a América Latina que a Companhia Francesa de Seguros (Coface), a economia da América Latina, incluindo o Brasil, vem encadeando uma sequência de desaceleração desde 2022, podendo fechar este ano em linha com o segundo recuo consecutivo do PIB mundial. Os economistas da empresa classificam de "um ano crucial". Este ano, o crescimento econômico global deve ser de 2,4%, depois de registrar 2,6% em 2023 e 3,1% em 2022. Essa tendência vale para o Brasil que deve ter o menor nível de expansão na comparação com o planeta. Pela previsão da Coface o PIB brasileiro vai crescer 1,7% esse ano, em comparação a 2,9% em 2023 e 3,0% em 2022. Considerando a América Latina como um todo, o quadro é semelhante, com o PIB da região podendo crescer em média 1,6%, depois de registrar 2,2% no ano passado e 3,6% em 2022.
A desaceleração no continente será puxada pela Argentina, que terá recuo de 2,5% no PIB em 2024, e que já tinha caído 1,8% em 2023. O país cresceu 5,0% em 2022. Um ponto de atenção é o nível de insolvência das empresas, que tem tendência de continuar crescendo principalmente nos Estados Unidos e no Brasil, onde o número de pedidos de recuperação judicial bateu recorde em 2023 e deu um salto em janeiro deste ano. A inflação está em queda moderada em quase todo o planeta, mas em função da guerra na Faixa de Gaza requer atenção redobrada para o comportamento dos preços. Há fatores que devem ser acompanhados de perto, como as tensões no Mar Vermelho, que ameaçam as cadeias de abastecimento, e a incerteza em relação ao prazo e à dimensão de mudanças na política monetária. Na América Latina, a tendência geral é de desaceleração do ritmo de aumento da inflação, sendo que no Brasil, o índice deve desacelerar para 3,8% este ano de uma alta de 4,6% estimados para 2023.
A exceção será a Argentina, onde os preços devem novamente disparar. Quanto à taxa referencial de juros, a previsão é de queda na América Latina, incluindo o Brasil que deve fechar 2024 com taxa de juros reais de 6,7%. O Brasil está na classificação A4, ou seja, com risco moderadamente alto de default, mesmo nível do Peru. A Argentina e a Bolívia receberam a classificação "D", isto é, com risco muito alto. O maior risco é da Venezuela, classificada como "E", que significa risco extremo. O Índice Mundial de Risco Político da Coface alcançou nível recorde, principalmente porque 50% da população mundial, em 70 países, irá às urnas este ano. No que se refere à globalização, o processo não acabou, mas está em processo de mudança principalmente pelas perdas de eficiência e custos crescentes. O México é o país da América Latina que mais está se beneficiando da globalização, com crescimento do investimento fixo bruto e salto nas exportações para os Estados Unidos, que já superam o total em dólares exportado pela China.
Há preocupação com a situação da China. A recuperação do crescimento continuará sendo difícil em 2024, devido a dois fatores cruciais: a demanda interna insuficiente, com pressão de desinflação e correção do mercado imobiliário, e a reduzida possibilidade da um grande estímulo por parte do governo, devido a seus efeitos secundários. No entanto, serão mantidas as políticas favoráveis ao crescimento chinês e deverá haver melhor coordenação entre as políticas fiscais e monetárias. Os objetivos do governo chinês são conseguir um crescimento mais equilibrado, um forte aumento da produtividade, ter uma produção com maior valor agregado e uma distribuição de recursos mais eficiente por meio de uma melhora do sistema financeiro. Mas, o crescimento sustentável da China enfrenta também como obstáculos um modelo desequilibrado liderado por investimentos com rentabilidade cada vez menor.
O crescimento das exportações não pode ser o único motor da economia, assim como o consumo não conseguirá ser o principal impulso para uma retomada. No entanto, a despeito esta situação, a China continuará a ser importante para a economia da América Latina. As exportações brasileiras para o mercado chinês, por exemplo, representaram 31% do total exportado pelo Brasil em 2023, em comparação a 20% em 2013. O salto nas exportações para a China foi ainda maior no Peru, com 36% embarques feitos pelo país vizinho sendo direcionado ao mercado chinês no ano passado contra 17% dez anos antes. No entanto, os investimentos chineses na América Latina despencaram depois de chegarem próximos a US$ 40 bilhões em 2010. Em 2022, o total ficou na casa de US$ 1 bilhão. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.