28/Feb/2024
De acordo com avaliação do climatologista e membro da Academia Brasileira de Ciências, Carlos Nobre, a agropecuária é o setor menos adaptado às mudanças climáticas e um dos mais resistentes em aceitar o impacto das ações humanas para a mudança do clima. Vários setores econômicos do mundo ainda não estão se preparando para a adaptação. O setor agrícola está com alguma resistência em aceitar, de fato, isso, com os extremos climáticos se tornando muito mais frequente e quebrando safras em todo o mundo. Grande parte dos produtores rurais ainda acredita que as mudanças climáticas decorrem de variabilidades naturais. Apesar da resistência do setor, a agropecuária é um dos setores mais afetados pelos efeitos climáticos adversos cada vez mais frequentes e intensos. É muito importante que o setor agrícola entenda que não tem mais volta.
No ano passado, a temperatura do planeta bateu recordes históricos, quase 1,5ºC mais quente. Esses eventos extremos, como El Niño, La Niña, secas, ondas de calor e tempestades, que afetam a agricultura do Brasil e em todo o mundo, vão continuar. Neste ano, El Niño deve perdurar até meados de junho e já se prevê a probabilidade de ocorrência de La Niña no segundo semestre. Para o climatologista, a maior objeção do agronegócio às mudanças climáticas antropogênicas (associadas ao aumento da emissão de gases de efeito estufa por queima de combustíveis fósseis e uso da terra) não se restringe ao Brasil, sendo vista também em importantes produtores, como Estados Unidos, Japão, Europa e Austrália. A agropecuária do Brasil, que se beneficia da tecnologia e da ciência para aumento de produtividade, não pode ser somente pró-ciência para aumento da produção agrícola e anticiência quando se trata dos riscos.
Em particular o Brasil, que é tão importante para a segurança alimentar do mundo, sendo o quarto maior produtor de alimentos e segundo maior exportador. A segurança alimentar está totalmente conectada à segurança climática. Se continuar as emissões como vêm ocorrendo, a temperatura chegará em 2050 em 2,4°C a 2,5°C mais quente. Se chegar nesse ponto, os eventos extremos serão muito mais frequentes. É um risco enorme para a agricultura e para a segurança alimentar do mundo, não só do Brasil. O Brasil, como um grande produtor de alimentos, deveria estar na liderança para, por um lado, reduzir as emissões e, por outro, tornar a agricultura mais resiliente e regenerativa. Nobre citou casos de países como a China, que investem para a expansão da agricultura urbana para se protegerem de riscos de quebra de safra nos países fornecedores. Carlos Nobre se diz otimista com as políticas públicas adotadas no País para o enfrentamento e a mitigação das mudanças climáticas.
O Brasil é hoje o quinto maior emissor de gases de efeito estufa, mas será o primeiro que vai atingir a meta de emissão líquida zero, antes da China, dos Estados Unidos, da Rússia e da Índia. O País está indo muito bem nessa direção, com a redução do desmatamento na Amazônia. O desafio agora é a redução do desmatamento no Cerrado. É factível. Se o Brasil mostrar a redução do desmatamento no Cerrado e conseguir a redução da degradação em todos os biomas até 2025, chegará à COP30, no Pará, como grande líder na redução das emissões de gases de efeito estufa. Entre as políticas públicas necessárias, Nobre aponta o investimento público para conversão de pastagens degradadas para agricultura e pecuária regenerativa e um Plano Safra atrelado à transição para agricultura de baixo carbono. O Brasil pode se tornar também o país com maior índice de restauração florestal em área tropical. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.