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07/Feb/2024

Elisa Agro entra com pedido recuperação judicial

A Elisa Agro, que concentra suas operações agrícolas na região do Vale do Araguaia, no nordeste de Goiás, e é uma das maiores empresas de agricultura irrigada do País, acaba de entrar com pedido de recuperação judicial. A companhia quer reestruturar as dívidas que tem com bancos, fundos de investimentos e fornecedores e que somam R$ 680 milhões. Desse montante, R$ 327 milhões são débitos que a empresa tem com os detentores de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), papéis que ela emitiu para financiar sua expansão. A companhia apresentou o pedido de recuperação ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. A tentativa de reestruturação da Elisa Agro é a materialização mais recente dos problemas em série que abalaram as finanças de dezenas de empresas do agronegócio e de produtores rurais nos últimos anos.

A confluência entre pandemia, guerra na Ucrânia, forte alta dos juros, problemas climáticos e desvalorização das commodities agrícolas fez com que 80 produtores rurais entrassem com pedido de recuperação judicial entre janeiro e setembro de 2023. Esse contingente é 300% maior que o de todo o ano anterior, quando 20 produtores recorreram ao instrumento legal de proteção contra credores. O caso da Elisa Agro tem particularidades. Quando a pandemia de Covid-19 estourou, a empresa estava na fase mais aguda de instalação de seus pivôs de irrigação, estruturas que dependem de materiais importados, dos 76 pivôs que irrigam uma área de 7,2 mil hectares, a companhia instalou 58 entre 2020 e 2021. Como a pandemia desorganizou a logística do comércio global, a chegada de muitos dos equipamentos atrasou.

Além disso, os casos de Covid-19 entre os operários responsáveis pelas obras exigiam a interdição ocasional dos alojamentos dos trabalhadores, o que também foi um fator de adiamento dos trabalhos, e de atraso no cronograma de geração de receita do projeto. Entrar com o pedido de recuperação judicial foi uma escolha difícil, mas necessária para preservar a companhia e os empregos. Ao todo, a Elisa emprega 180 pessoas em Britânia (GO), a 330 quilômetros de Goiânia, o que faz da empresa o segundo maior empregador da cidade. Adepta da agricultura regenerativa, a Elisa instala suas lavouras em áreas de pastagem degradada, nas quais cultiva algodão, feijão, milho, e, principalmente, soja.

Os preços de todos esses produtos subiram no auge da pandemia e em decorrência das restrições na oferta de alimentos que se seguiram ao início da guerra na Ucrânia, mas as cotações já caíram bastante desde seus picos históricos, em meados de 2022. Na soja, o preço chegou a ser negociado por R$ 200,00 por saca de 60 Kg há dois anos, mas, hoje, está na casa de R$ 120,00 de saca de 60 Kg e sem que os custos tenham caído na mesma proporção. A companhia investiu cerca de R$ 500 milhões na instalação de sua estrutura operacional física. Boa parte desse valor a empresa obteve com a emissão de CRAs, instrumentos financeiros que representam hoje quase metade do endividamento da Elisa. Em maio do ano passado, a empresa pagou R$ 53 milhões em juros e amortização anual desses papéis.

Outra fatia dos juros, de R$ 29 milhões, venceria em novembro, mas, já em dificuldades, a empresa conseguiu negociar com os detentores dos títulos o adiamento dessa parcela para maio deste ano. A empresa tem agricultura regenerativa, conseguiu gerar crédito de carbono e tem projetos sociais. Essa é uma empresa que estava na hora certa e no lugar certo, mas com uma estrutura de capital errada. A pretensão é corrigir com a recuperação judicial. A consultoria Alvarez & Marsal, especializada em reestruturações corporativas, assessora a companhia nessa frente. Em um processo que correrá em paralelo com a reorganização dos débitos, a empresa tem avaliado ofertas para vender seu controle.

A consultoria One Partners ajudou a empresa a identificar potenciais compradores na primeira fase do processo, que seguirá agora para a segunda etapa, de avaliação de algumas das ofertas. A Elisa Agro pertence à família que também controla a Mitre, incorporadora de São Paulo especializada no mercado de imóveis de alto padrão. Em janeiro, como parte dos ajustes necessários na estrutura de capital da Elisa, a família vendeu quase 10% do capital da incorporadora. Os controladores haviam dado ações da Mitre como garantia para empréstimos que a Elisa tomou, e, agora, a família fez acordo com os bancos credores para desvincular as ações da incorporadora. O movimento exigiu a negociação de uma fatia dos papéis da empresa do segmento imobiliário, mas, de acordo com o executivo, assegurou a segregação completa dos dois negócios. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.