06/Feb/2024

A corrente de comércio exterior brasileira em 2023 subiu a mais de US$ 580 bilhões, com US$ 339,7 bilhões de exportação, um aumento de 1,7% em relação a 2022, e US$ 240,8 bilhões de importação, queda de 11,7% em relação a 2022. O superávit recorde chegou a US$ 98,8 bilhões, crescimento de 60% em relação a 2022 (mais da metade com um único país, China). As exportações do agronegócio representaram 49% do total das exportações brasileiras e 8% do total do comércio exterior brasileiro. O Brasil se consolidou como um dos maiores exportadores mundiais de alimentos (3 a 4% da produção mundial) e minério com mais de 18% e 26% das exportações totais do país respectivamente. Acentuou-se a importância do mercado asiático (cerca de 55% das exportações totais do agronegócio), em especial o da China, Hong Kong e Macau, que representaram US$ 105,75 bi, mais de 30% das exportações totais brasileiras.

A concentração no comércio exterior brasileiro de poucos produtos (soja, petróleo e minério de ferro representam 40% das exportações e 8 produtos, 2/3 do total exportado) e poucos mercados (Ásia, Oriente Médio e Norte da África, representam 65% do total exportado) expõe o crescimento da economia, caso haja desaceleração do mercado externo (em especial, o da China) e redução da produção agrícola nacional por fatores climáticos, como está ocorrendo este ano. O mercado chinês absorveu cerca de 35% dos produtos do agro nacional. Em 2023, cresceu o número dos produtos agrícolas em que o Brasil se tornou o principal país exportador. Agora são dez produtos: complexo soja, carnes, açúcar, milho, celulose, café, madeira, algodão, tabaco e suco de laranja. As exportações do agro nacional em 2023 alcançaram US$ 167 bilhões, com aumento de 5% em relação a 2022. O crescimento das vendas no exterior do agro está relacionado, entre outros fatores, às safras recordes de milho e de soja, o principal produto exportado pelo Brasil.

As importações (alimentos e insumos), em virtude da queda do preço dos insumos, representaram US$ 39,5 bilhões, com a redução de 24%. As importações de lácteos subiram 57% somando US$ 11 bi. A produção de trigo em 2023 ficou abaixo do esperado em 8,1 milhões de toneladas, com queda da qualidade em função das chuvas, o que vai significar maior importação do produto. A guerra da Rússia na Ucrânia continuou a afetar o mercado pela dificuldade de escoamento da safra ucraniana e pela desorganização do mercado de energia e agrícola. Preços e fornecimento de commodities e de insumos, sobretudo fertilizantes, sofreram efeitos negativos. Para o agronegócio brasileiro, a guerra na Ucrânia teve consequências relevantes, com o incremento dos custos e o aumento da exportação de trigo para países do Norte da África e do Oriente Médio, dependentes das exportações ucranianas.

Manifestações políticas de agricultores na França, na Alemanha, na Espanha, na Polônia e na Romênia, pelo aumento dos custos de produção (diesel, legislação ambiental rigorosa), pelo acúmulo de regras, inclusive fitossanitárias, e pelo baixo preço de produtos agrícolas, especialmente vindos a Ucrânia e resvalando no acordo do Mercosul com a União Europeia pela posição pública do presidente francês, Macron, tudo isso representa novos desafios para o setor no Brasil. As transformações da economia global e da geopolítica mostraram as vulnerabilidades do agro nacional, em função da dependência de fertilizantes importados da Rússia, da concentração das exportações em poucos produtos e poucos mercados. Novas restrições em função das preocupações com o meio ambiente e a mudança de clima, como as restrições à importação de produtos agrícolas provenientes de áreas desmatadas de florestas, terão impacto sobre o agro nacional, em razão do que ocorre na Amazônia. As últimas projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a produção de grãos em 2023/2024 apresentam uma queda de 4,2% em relação à safra 2022/2023.

A produção estimada sobe a 306,368 milhões de toneladas, abaixo das 322 milhões de toneladas do ano anterior, resultado do clima desfavorável com chuvas escassas e mal distribuídas e altas temperaturas na região central do Brasil e de precipitação volumosas no Sul, afetando sobretudo a soja, o milho e o trigo. A produção do trigo vinha crescendo de maneira consistente nos últimos 4 ou 5 anos, chegando a quase 11 milhões de toneladas, não deverá apresentar mais de 8,1 milhões de toneladas, segundo a Conab, o que acarretará um aumento das importações e uma redução das exportações. Os preços dos produtos agrícolas, por uma série de fatores, caíram, afetando os números totais no Brasil. Fatores geopolíticos e climáticos podem ser apontados como responsáveis pela oscilação das cotações no mercado internacional e no Brasil. A ocorrência simultânea da queda das safras de grãos por questões de mudança de clima e a redução dos preços desses produtos no mercado internacional tornou-se um desafio para a execução da política agrícola em 2024, a fim de minimizar o impacto negativo sobre o setor.

O agro, que representa pouco mais de 8% do total do comércio exterior brasileiro, continuará a ter um papel de destaque nos próximos anos e permanecerá como o motor da economia nacional ainda por um bom tempo. Por essa relevância na economia nacional, torna-se urgente reduzir as vulnerabilidades que hoje caracterizam o agronegócio no contexto do comércio exterior brasileiro. O ministro Carlos Fávaro soou o alarme ao afirmar que o "agro está na iminência de uma crise, mas vamos agir antes". Medidas são anunciadas para minimizar a quebra de safra, a redução dos preços das commodities e a alta dos custos no campo. Na última sexta-feira (02/02), o governo, por meio do BNDES, anunciou que deverá liberar R$ 6 bi em créditos para o setor agrícola. Talvez a ameaça não seja tão grave e urgente como comenta o ministro, mas será importante discutir o conjunto das vulnerabilidades aqui mencionadas para evitar uma crise para a economia como um todo. Fonte: Rubens Barbosa. Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Broadcast Agro.