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31/Jan/2024

China está “exportando” sua deflação para o mundo

Os produtos da China, que já são normalmente competitivos, ficaram ainda mais baratos, dificultando aumentos de preços dos concorrentes mundo afora. No Brasil, a situação não é diferente. A China tornou-se uma força adicional à tendência de queda da inflação de bens de consumo, somando-se aos efeitos do crédito caro na demanda, do comportamento mais estável do câmbio e da normalização da oferta após a superação de gargalos de produção. Conforme a Warren Investimentos, a inflação de bens industriais (um grupo que abrange produtos duráveis e semiduráveis, além de materiais de construção) ficou em 1,09% em 2023, a menor taxa em cinco anos, sendo que os preços chegaram a cair, ou seja, marcaram deflação, em junho (-0,57%), setembro (-0,20%) e novembro (-0,54%). Ficaram mais barato, ao longo do ano passado, eletrodomésticos como geladeira, máquina de lavar roupa e tevê, aparelhos eletrônicos como videogame e computador pessoal, e alguns itens de vestuário, como vestido e roupa infantil, além de pneus e bicicletas (abaixo a lista com as variações em 2023).

O comportamento dos preços de bens é muito benigno e está relacionado, principalmente a câmbio e inflação externa. A tendência de curto prazo é que a inflação de bens continue desacelerando. A China influencia o comportamento da inflação não apenas pela concorrência direta dos produtos finais que estão nas prateleiras das lojas, ou que podem ser importados diretamente nas plataformas de comércio eletrônico estrangeiras. O país é também um grande fornecedor de insumos usados por diversas indústrias, como peças de smartphones, componentes eletrônicos e aço. Preços mais baixos da China ajudam, assim, a aliviar o custo dos produtos nacionais. Os produtos industriais acabados ou intermediários respondem por praticamente tudo o que o Brasil importa da China. No último ano, os preços cobrados pelos produtores (PPI) caíram na China 3%, após a inflação de 4,1% de 2022. Por trás desse dado estão as dificuldades tanto internas quanto externas da indústria chinesa. No mercado doméstico, a recuperação do consumo pós-pandemia não acontece como esperado, refletindo a cautela associada à queda nos preços dos imóveis, que faz os chineses preferirem poupar a consumir.

No exterior, o país perde vendas em seus principais destinos comerciais, entre eles, Estados Unidos, Japão e Alemanha, em razão do esfriamento do comércio pelos juros mais altos e pela substituição da China por outros parceiros nos movimentos de nearshoring, isto é, a busca por fornecedores geograficamente mais próximos, e friendshoring, ou seja, a troca por aliados geopolíticos. Mesmo com o relaxamento das rígidas restrições da política de Covid zero, a China não conseguiu mais repetir o aproveitamento da capacidade industrial de antes. O excesso de capacidade na indústria de transformação, que três anos antes estava em 21,6%, chegou a 24% na última leitura, referente ao quarto trimestre de 2023. A China passou, assim, a "exportar deflação", contribuindo aos bancos centrais do resto do mundo no controle da inflação. A ajuda chinesa vale ainda mais para as economias emergentes, onde os bens têm, na comparação com os países ricos, um peso maior nos índices de inflação. Economistas entendem, porém, que a contribuição chinesa nos próximos passos das autoridades monetárias será limitada.

Em outras palavras, não deve ser determinante para acelerar cortes de juros, em economias como o Brasil, ou para antecipar o início de ciclo de flexibilização monetária nos Estados Unidos e na Europa. Essa expectativa tem como base o foco dos bancos centrais na inflação de serviços, mais resiliente e cujo comportamento é mais determinado por variáveis domésticas. Para o Itaú Asset, a China terá participação relevante em manter a inflação de bens industriais baixa e ajudar na desinflação geral ao longo deste e do próximo ano. Não será razão suficiente, porém, para levar a cortes mais agressivos da Selic, já que o consumo das famílias continua surpreendendo no Brasil, embalado pelo mercado de trabalho aquecido. Requer cuidado o impacto do consumo sobre a inflação de serviços, onde já se observa que sinais de que a desinflação chegou ao fim. O Brasil precisa da desinflação de bens vinda da China mais um câmbio comportado para poder atingir cuidadosamente a expectativa do mercado para a Selic, entre 9% e 9,5%.

Para o Citi, a queda brusca nos preços dos produtos exportados pela China vem contribuindo para a desinflação global de bens, que já vinha acontecendo pela migração dos gastos ao consumo, junto com a normalização das cadeias de produção. Enquanto as pressões inflacionárias dentro da China continuarem suaves, a economia chinesa provavelmente continuará contribuindo à pressão baixista dos preços globais de bens. No entanto, ainda que seja aliada do resto do mundo na convergência da inflação às metas perseguidas pelos bancos centrais, é improvável que a China guie o ciclo monetário global. Os bancos centrais estão menos focados nos preços dos bens porque eles já estão amplamente normalizados. A China também vem se tornando menos influente na dinâmica de preços nas economias desenvolvidas, na medida em que os países ricos descentralizam suas fontes de fornecimento para reduzir a dependência da China. Os economistas não ignoram que movimentos como nearshoring e friendshoring também têm efeitos desinflacionários, por levarem a um aumento de oferta global pela duplicação de cadeias em setores importantes, isto é, a produção em novos mercados de produtos que continuarão sendo feitos pela China.

Contudo, nos Estados Unidos, por exemplo, a substituição se dá por fornecedores do México, da Índia ou do Vietnã que nem sempre são tão competitivos quanto a China. Então, existe um custo de transição nos rearranjos das cadeias, de forma que, para os Estados Unidos, o impacto da desinflação em função da China é menor do que em emergentes. Há ainda uma preocupação importante dos bancos centrais com os riscos de geopolítica, sendo o mais recente o conflito no Mar Vermelho, que volta a trazer estresse no transporte de cargas marítimo e a elevar os preços de frete. Limita-se, dessa forma, o potencial de redução mais expressiva na inflação de produtos. A preocupação maior são os vários riscos de ruptura no cenário geopolítico internacional, como o bloqueio no Mar Vermelho, a eleição presidencial em Taiwan (vencida por partido contrário à unificação com a China), a guerra na Ucrânia e a grande chance de maior instabilidade no Oriente Médio. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.