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23/Jan/2024

Inflação: desancoragem de expectativas continuará

As expectativas de inflação de médio e longo prazo permanecerão acima do centro da meta, de 3%, este ano. Esse é o cenário visto como mais provável por economistas do mercado financeiro. Eles dizem que a desancoragem das projeções se deve a duas incertezas, com a trajetória da política fiscal nos próximos anos em meio à pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva por aumento de gastos e com o nome do próximo presidente do Banco Central e, por isso, não deve ser revertida no curto prazo. A incerteza fiscal diz respeito a bem mais do que a manutenção ou não da meta de déficit primário zero este ano. Na verdade, o mercado ainda não se convenceu de que o novo arcabouço desenhado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se sustentará nos próximos anos. Por isso, continua embutindo algum prêmio nas projeções. As dúvidas sobre o nome que substituirá Roberto Campos Neto no comando do Banco Central a partir de 2025 também aumentam os prêmios.

Embora o mercado tenha recebido bem os quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado, o discurso beligerante de Lula contra o presidente da autarquia mantém no radar a possibilidade de indicação que mire uma redução mais intensa da taxa Selic. Provavelmente, haverá uma certa resistência a uma rápida convergência enquanto as dúvidas fiscais e sobre a composição do Banco Central em 2025 persistirem, afirma o Bradesco. Essa ancoragem pode até acontecer, mas não será completa: uma queda das expectativas para 3%, por exemplo, pode ser um pouco mais demorada. Nem a eventual manutenção da meta fiscal de 2024 deve contribuir para ancorar as expectativas longas, já que a incerteza do mercado está mais concentrada na sustentabilidade do arcabouço. As contas do Bradesco indicam que a regra será capaz de comportar as despesas federais em 2025 e 2026, mas isso precisará ser demonstrado para sanar as dúvidas dos agentes. Da mesma forma, a incerteza em torno do novo presidente do Banco Central só será dirimida quando o substituto de Campos Neto for indicado.

Não tem muito o que a diretoria atual possa fazer para retirar essas dúvidas, até porque calcula-se a meta implícita perseguida pelo Banco Central e chegou-se exatamente no centro da meta, o que quer dizer que o Banco Central já está sendo crível, não mais duro ou mais leniente. O PicPay também vê pouco espaço para convergência das expectativas de inflação longas ao centro da meta. O mix de política econômica defendido desde o início do governo cria para os agentes a percepção de um risco para cima no IPCA, devido ao aumento dos gastos públicos e à política de valorização do salário-mínimo. Ao mesmo tempo, algumas preferências manifestadas pelo governo mantêm o risco de uma piora do cenário até 2026. Com a PEC da transição, o governo já demonstrou a vontade de aumentar as despesas. E, quando o presidente Lula defendeu ainda no início do ano passado o aumento da meta de inflação, acabou abrindo a porta para uma desconfiança do mercado. Esse “pecado original” da meta de inflação acaba deixando dúvidas porque, num segundo momento, se a inflação piorar e isso fizer com que o Banco Central não possa cortar mais juros, será que não vão tentar fazer essa jogada?

Em toda reunião do Conselho Monetário Nacional, a probabilidade é não-zero para a chance de aumentarem a meta. As críticas de Lula a Campos Neto ao longo do ano passado também foram um dos "pecados originais" que levantam desconfianças com o governo. Optou-se por fritar o presidente do Banco Central ao longo de 2023, o que sugere uma preferência por uma certa condução da política monetária, que dá a chance de ser menos técnica. Para o Banco Pine, é provável que a ancoragem das expectativas não ocorra nos próximos trimestres, já que o mercado parece inclinado a entender que a política fiscal é incompatível com uma trajetória de estabilização da dívida/PIB. Sem esse sinal positivo, os agentes embutem nos modelos uma taxa neutra real de juros mais alta no futuro e, consequentemente, uma inflação maior. O fiscal é a variável relevante, e a palavra mágica é credibilidade. Há dúvidas se a política fiscal tem credibilidade para fazer com que a dinâmica da dívida/PIB seja menos ruim? Se tiver, vai ter uma reprecificação do prêmio de risco atual. O País tem um longo histórico de entregar a inflação de cada ano acima do centro da meta.

Apesar da dificuldade na ancoragem das expectativas de longo prazo, há espaço para uma queda das projeções mais curtas, de 2024 e 2025, a depender do comportamento da inflação corrente. No ano passado, a inflação de preços livres, que são sensíveis à política monetária, já ficou em 3,1% e, este ano, projeta desaceleração a 2,9%, ou seja, abaixo do centro da meta, de 3%. As expectativas longas dependem do fiscal, mas as de curto prazo podem convergir, não é impossível. O Bradesco espera uma queda das projeções do mercado para o IPCA de 2025 a 3,2% a partir da metade deste ano. Conforme o tempo vai passando, começa a fazer as contas para o ano que vem na planilha, com inputs de câmbio, PIB e inércia. Essas contas vão se tornando mais matemáticas, mais econométricas, e isso pode levar a uma convergência das projeções para 2025. O PicPay afirma que uma sequência de fortes surpresas para baixo na inflação corrente poderia acabar derrubando as expectativas mais longas, embora isso seja improvável. A expectativa para o IPCA é de 3,7% em 2024 e de 4% de 2025 em diante. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.