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17/Jan/2024

Brasil precisa agregar valor e diversidade à exportação

Não deixa de ser auspicioso o fato de as exportações brasileiras para a China terem cruzado pela primeira vez a vistosa fronteira dos US$ 100 bilhões, como sublinhou a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) na divulgação da balança comercial de 2023. Há menos de 30 anos, o Brasil sonhava com esse valor para o total de seus embarques. A perspectiva de o governo Lula da Silva ver esse resultado ainda mais robusto neste e nos próximos anos, entretanto, está entremeada por justas preocupações em torno da diversidade e da qualidade de seu comércio exterior. A dependência cada vez maior em relação ao mercado chinês, consumidor quase exclusivo de três commodities brasileiras, é a principal delas. A China foi o destino de 37,2% das exportações brasileiras em 2023, quase exclusivamente de commodities. Há 18 anos, não passavam de 10%. A escalada deu-se em paralelo à redução da participação de mercados que, tradicionalmente, absorvem manufaturas brasileiras, em especial os Estados Unidos e a Argentina.

O resultado mais visível dessa equação está na presença da indústria de transformação nos embarques do País, que caiu de 66,2%, em 2016, para 52,2% no ano passado. Pode-se concluir que a qualidade das exportações brasileiras, medida pelo seu valor agregado, recuou. É certo que, no comércio exterior, muito vale a pressão da demanda. A voracidade chinesa por minério de ferro, alimentos in natura e petróleo (os principais bens brasileiros escoados para a China) têm sido satisfeita pela alta produtividade da soja e outros grãos e da mineração do País. O benefício, entretanto, está longe de ser totalmente mútuo. Primeiro, pela resistência histórica da China em adquirir os produtos acabados do Brasil, em vez da soja, mais carnes; em vez do minério, chapas e bens siderúrgicos. Segundo, porque, no setor de commodities, as condições dos importadores valem bem mais do que as expectativas dos exportadores. Em linguagem comercial, o País se mantém na condição de “vendido” diante da China.

Será difícil a China ceder nesses padrões, que tanto beneficiam sua economia. Mas, nada impede um esforço concentrado do governo e do setor privado brasileiros para buscar outros mercados para suas commodities e, especialmente, para seus produtos com maior valor agregado. Na pauta exportadora do Brasil, não faltam bens altamente competitivos no agronegócio e na indústria de transformação. Nem outros setores cuja atratividade externa possa ser alavancada pelo uso comprovado de energia limpa e pelo respeito a normas ambientais. É indiscutível que o embarque recorde para a China contribuiu significativamente para o superávit total da balança comercial de US$ 98,8 bilhões em 2023. Mas manter ou ampliar a dependência brasileira da demanda chinesa exclusiva por commodities não deixa ser uma lógica comodista. Passou da hora da adoção de políticas públicas e de demonstração de maior ousadia do setor privado para agregar valor às exportações e diversificar os mercados do Brasil. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.