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17/Jan/2024

Economia Verde: entrevista Pedro Wongtschowski

As precondições naturais do Brasil para ocupar o protagonismo mundial na transição energética e na economia verde são favoráveis, mas há uma janela de tempo curta para que o País assuma esse posto. “Temos os próximos cinco anos para ocupar esse espaço”, avalia o empresário Pedro Wongtschowski, um dos nomes mais respeitados da indústria química no País. “Estamos falando de 110 milhões de hectares de terras degradadas disponíveis, água, energia, sol, uma população empreendedora. As precondições são tão fortes que se o governo regulamentar as coisas de maneira adequada, der suporte, prover segurança jurídica, segurança pública, investir em educação, em ciência e tecnologia, eu acho que o resto vem”, afirma. Segue a entrevista:

Como o sr. vê o cenário empresarial no Brasil em termos de preparação e implementação de uma agenda de economia verde?

Pedro Wongtschowski: As empresas estão olhando com enorme interesse essa agenda. Na maioria dos casos, ainda estamos na fase de preparação, de análise de cenários, de escolha de alternativas, estudos preliminares de viabilidade. Evidentemente, tem muita coisa que já se faz no Brasil tradicionalmente e que hoje é classificado como sendo a economia verde. Isso vai desde fontes de energia como a eólica, biogás, a solar e PCH, até grandes usinas hidrelétricas - o que ambientalmente hoje ficou muito complicado. Minha impressão é que vai acontecer um salto grande no volume desses investimentos nos próximos anos e as companhias estão se posicionando nessa direção. No primeiro momento, o que eu acho que vai prevalecer é o que já está comprovado e conhecido numa escala maior, mais ampla, porque a própria expressão de economia verde é um pouco imprecisa. Ela inclui desde energias limpas até produção de uma agricultura sustentável, regeneração florestal. Tem uma série de negócios convencionais que podem ser feitos de outra maneira, se encaixando, portanto, no que se chama de economia verde e se beneficiando do tratamento diferenciado que a economia verde provavelmente terá no futuro. Isso vai desde um tratamento tributário diferente, a um tratamento regulatório mais favorável e à disponibilidade de financiamento.

Esse arcabouço que o sr. menciona, de tratamento diferenciado regulatório, tributário e financeiro, está em qual estágio no Brasil?

Pedro Wongtschowski: Esta moldura está toda em construção. A legislação sobre créditos de carbono está sendo negociada e já há um começo de financiamentos verdes em condições mais favoráveis e prazos mais longos disponíveis. Mas você ainda tem muitas questões não resolvidas como, por exemplo, toda a legislação relativa à geração de energia eólica offshore; todo o sistema de rastreabilidade do gado. Tudo isso está em construção. São coisas que ainda têm muitos obstáculos e, para que desabrochem, há algumas precondições que o Brasil vai ter de atender.

Que precondições são essas?

Pedro Wongtschowski: Primeiro, a questão da higidez macroeconômica. Especialmente para os investidores estrangeiros, as condições objetivas da economia brasileira são importantes. É higidez macroeconômica significando estabilidade de câmbio, estabilidade fiscal e uma política monetária moderada.

Sobre a macroeconomia, qual a leitura do sr. do País hoje?

Pedro Wongtschowski: Há uma tentativa do ministro Fernando Haddad de encaminhar essas coisas corretamente. Ele tem defendido o déficit primário zero. Quando se fala do déficit primário zero, só o custo do serviço da dívida ocupa 7% ou 8% do PIB. Então, se você tiver um déficit primário de zero, você tem um déficit fiscal da ordem de 7%, 8% do PIB já contratado. O ministro tem feito um esforço enorme para equilibrar as contas no ano que vem e eu tenho esperanças que ele consiga chegar perto.

Muito se fala sobre esse potencial brasileiro em termos de recursos naturais, até de recursos humanos, para ocupar o lugar de um grande player mundial na agenda verde. Estamos nos movendo em um ritmo suficiente para assumir esse papel?

Pedro Wongtschowski: Eu sou otimista. A humanidade do Brasil e as condições objetivas do Brasil são tão favoráveis quando comparadas aos outros países… A biodiversidade, disponibilidade de terras em grande volume, nós estamos falando de 110 milhões de hectares de terras degradadas disponíveis, água, energia, sol, uma população empreendedora. As precondições são tão fortes que se o governo regulamentar as coisas de maneira adequada, der suporte, prover segurança jurídica, segurança pública, investir em educação, em ciência e tecnologia, eu acho que o resto vem. Então, sim, eu sou otimista. Agora, é uma janela que temos nos próximos cinco anos para ocupar esse espaço.

Fonte: Broadcast Agro.