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16/Jan/2024

Agronegócio precisa de uma política de renda rural

O último levantamento de safra anunciado pela Conab na semana passada confirma expectativas de redução das produções de grãos em 2024, devendo chegar a 306,4 milhões de toneladas. Em soja e milho, os efeitos do rigoroso El Niño se manifestam: atraso na semeadura de soja, falhas no nascimento, abortamento de flores, estandes reduzidos e calor exagerado foram comuns em várias regiões do País, especialmente no Centro-Oeste, no Matopiba e no Sudeste. No Sul houve excesso de chuvas, atrasando as colheitas da safra de inverno e a semeadura da de verão. Com tudo isso, a Conab estima uma produção de 155,3 milhões de toneladas de soja, ante a previsão inicial de 162 milhões, uma queda de 4,2%, quase 7 milhões de toneladas. Vale dizer que agentes de mercado são mais pessimistas, avaliando a colheita em 152/153 milhões de toneladas. Adicionalmente, o ciclo da soja foi antecipado pelas mesmas razões e já tem muita gente colhendo a oleaginosa no País, especialmente em Mato Grosso, com produtividades decepcionantes.

No caso do milho, ante uma previsão inicial de 132 milhões de toneladas, o levantamento da semana passada aponta para 117,6 milhões (10,9% a menos). A quebra na safra de verão, que representa cerca de 20% do total, se deve aos mesmos fatores que perturbaram as lavouras de soja. Mas o atraso do plantio dela estreitou a janela para a 2ª safra de milho, sinalizando menos produtividade. Para as demais culturas importantes, os números são menos díspares. A Conab fala em 10,8 milhões de toneladas de arroz, 3 milhões de feijão, 8,1 milhões de toneladas de trigo e 3,1 de algodão. Por outro lado, os preços agrícolas devem voltar aos patamares mais próximos aos valores prévios à pandemia. Com isso, o Ministério da Agricultura prevê uma queda do VBP da agropecuária brasileira em 2024 de cerca de 0,2% em relação ao do ano passado, devendo alcançar R$ 1,166 trilhão. A queda de produção e de preço dos principais grãos deixa a impressão de que a redução do VBP deveria ser maior. Mas acontece que outros produtos terão melhor rendimento econômico no ano. É o caso do arroz, da laranja, do trigo.

Amendoim, batata inglesa, cacau, café, feijão são outras lavouras com perspectivas de crescimento em relação a 2023. Mais uma vez, a extensão territorial brasileira e as variações referentes ao clima e às culturas praticadas trarão uma consequência conhecida para a renda rural, com produtores perdendo dinheiro na atividade (quando tiverem menor produtividade e preços mais baixos) vis-à-vis produtores com ganhos relativos quanto ao ano anterior. Estes fatos demonstram a importância de uma política de renda rural nacional consistente, com o reforço de pontos cruciais para a estabilidade produtiva, como um seguro rural mais abrangente e mais ambicioso, cobrindo não apenas acidentes climáticos, mas também a volatilidade de preços. Já passa da hora de o governo entender essa recorrente demanda, essencial até para a economia em geral. Afinal, o agronegócio representa mais de 25% do PIB, gera quase 30% dos empregos e é o responsável por cerca de 50% do valor das exportações, com um adicional muito relevante: a indústria de alimentos tem sido a grande campeã do setor industrial brasileiro. Fonte: Roberto Rodrigues. Broadcast Agro.