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16/Jan/2024

Exportação brasileira é muito dependente da China

Muito comemorada pelo governo, a sucessão de recordes na balança comercial desvia as atenções da dificuldade que o País tem de diversificar suas relações de comércio exterior com o resto do mundo. Para chegar à marca histórica de US$ 339,7 bilhões em exportações em 2023, o Brasil contou novamente com a China e seu inesgotável apetite por commodities. Depois de uma interrupção de tendência nos dois anos anteriores, explicada pela rígida política de Covid zero determinada pela China, a dependência das exportações brasileiras do mercado chinês voltou a aumentar em 2023. O gigante asiático foi destino de 30,7% do total de produtos brasileiros embarcados. Há dez anos, a China já era com folga o maior mercado do Brasil no exterior, mas sua participação nas exportações totais não chegava a 20%. A China foi o primeiro país a comprar mais de US$ 100 bilhões do Brasil em um ano, mais precisamente US$ 104,3 bilhões, em 2023, US$ 14,9 bilhões a mais do que a já expressiva cifra, de quase US$ 90 bilhões, registrada em 2022.

Sem o impulso de seu maior parceiro, o Brasil teria resultados bem mais modestos na balança comercial. A começar pelo fato de que as vendas a outros mercados caíram, na média, 3,8% no ano passado, incluindo aí o recuo de 1,5% das exportações aos Estados Unidos, segundo maior comprador de produtos brasileiros. Para a China, ao contrário, as vendas subiram 16,6%, assegurando o recorde de quase US$ 340 bilhões exportados pelo Brasil em 2023, conforme os números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Mais do que isso: sem o saldo positivo de US$ 51,1 bilhões nas trocas de produtos com os chineses, o Brasil teria apenas pouco mais da metade do superávit comercial, também recorde, de US$ 98,8 bilhões do ano passado. Para especialistas em comércio exterior, mesmo com a tendência de desaceleração da economia chinesa, essa dependência comercial não é motivo de preocupação por enquanto. O Brasil, dizem, deve continuar sendo um pilar da segurança alimentar na China, ao mesmo tempo em que a expansão da classe média chinesa abre oportunidades de expansão da pauta com seu parceiro comercial.

Na avaliação da Bradesco Asset, por trás desses recordes existe uma bem-sucedida estratégia do Brasil de expandir a produção de itens cujas opções de fornecedores são restritas. No caso do minério de ferro, não há outros países que concorrem em escala com Brasil e Austrália. Na soja, o Brasil se beneficia da substituição do fornecimento dos Estados Unidos, com quem a China trava uma guerra comercial. São mercados em que não há tantas alternativas. Os prognósticos do mercado para este ano apontam para a manutenção das exportações em nível próximo ao recorde de 2023, com projeções também otimistas, de crescimento das vendas, para os próximos três anos. A posição do Brasil como um dos maiores produtores de alimentos do mundo se alinha com a prioridade da China de assegurar segurança alimentar com parceiros estratégicos, o que deve ajudar a manter as exportações em alta, a despeito da desaceleração econômica.

Embora os riscos associados a guerras e adversidades climáticas com o El Niño não possam ser ignorados, especialistas apostam, em geral, na estabilidade de preços e volumes tanto do petróleo quanto da soja. O maior risco está no impacto da crise do mercado imobiliário chinês sobre o preço do minério de ferro. Apesar de não verem riscos imediatos, no longo prazo essa dependência da China não é saudável para o Brasil. No médio e longo prazos, é complicado depender tanto das exportações de commodities a um único país. Seria melhor exportar produtos de maior valor agregado, diz a Coface, especializada em seguro de crédito. Nas últimas décadas, porém, o Brasil seguiu na direção contrária à da diversificação e qualificação da pauta de exportações, tanto em produtos como em destinos. Enquanto a indústria extrativa e a agropecuária expandiram a produção para atender a China, a indústria de transformação perdeu espaço para a concorrência da própria China em mercados vizinhos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.