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11/Jan/2024

Clima: 2023 se confirma como o ano mais quente

Segundo relatório divulgado no dia 9 de janeiro, pelo observatório europeu Copernicus (C3S), o ano de 2023 foi confirmado como o mais quente já registrado. A temperatura média foi 1,48 ºC mais quente do que na era pré-industrial (meados do século 19). Este valor é pouco inferior ao 1,5°C que o mundo havia proposto como limite, no âmbito do Acordo Climático de Paris em 2015, a fim de evitar os efeitos mais graves do aquecimento global. E janeiro de 2024 está a caminho de ser tão quente que, pela primeira vez, um período de 12 meses excederá o limite de 1,5°C. Um dos fatores para isso é a influência do El Niño, que deve se estender até a metade deste ano. Ele já esteve relacionado a eventos extremos, como ciclones extratropicais na Região Sul do Brasil e a estiagem acompanhada de queimadas na Amazônia, além das ondas de calor em várias regiões do País. A temperatura global média em 2023 foi de 14,98°C. Os recordes foram quebrados durante sete meses. Junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro foram mais quentes.

Não foi apenas uma temporada ou apenas um mês que foi excepcional. Foi excepcional por mais de metade do ano. O ano passado também foi o primeiro na história em que, em cada dia separado, a temperatura média excedeu os níveis pré-industriais em ao menos 1°C, com quase metade dos dias excedendo o limite crítico de 1,5°C (dois dias em novembro passaram 2°C). Para se ter ideia, o recorde anterior, de 2016, foi quando 20% dos dias ficaram acima de 1,5°C. Os números do ano passado são superiores a todos os registros de temperatura global desde 1850. Quando comparado com dados paleoclimáticos de fontes como anéis de árvores e bolhas de ar em geleiras, se tratou provavelmente do ano mais quente dos últimos 100 mil anos. Basicamente, isso significa que as cidades, estradas, monumentos, fazendas e todas as atividades, em geral, nunca tiveram que lidar com um clima tão quente.

Para completar, as temperaturas médias globais da superfície do mar foram excepcionalmente altas, atingindo recordes no período de abril a dezembro, e foram associadas a ondas de calor marinhas em partes do Mediterrâneo, no Golfo do México e no Caribe, no Oceano Índico e no Pacífico Norte, bem como em grande parte do Atlântico Norte. Segundo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o principal fator por trás do aumento das temperaturas é o aquecimento global, somado ao El Niño, que tem impacto na temperatura global, especialmente no ano seguinte ao de sua formação. Os cientistas sustentam que o planeta precisaria de um aquecimento médio de 1,5°C ao longo de duas ou três décadas para se chegar ao pior cenário, só que o alerta está dado. A meta de aquecimento de 1,5°C tem de ser mantida porque vidas estão em risco e há decisões que terão de ser tomadas e essas decisões não afetarão não só a todos agora, mas também as futuras gerações.

O calor recorde causou estragos e até mortes em Europa, América do Norte e China. Além disso, há fenômenos climáticos extremos ocorrendo, como a seca prolongada na África, as chuvas torrenciais que destruíram barragens e mataram milhares de pessoas na Líbia e os incêndios florestais no Canadá, que poluíram o ar do Hemisfério Norte. Segundo Copernicus, existem vários fatores que contribuíram para que 2023 fosse o ano mais quente, mas de longe o maior foram os gases de efeito estufa. Esses gases retêm o calor na atmosfera e provêm da queima de carvão, petróleo e gás natural. Pela primeira vez, os países reunidos na conferência anual das Nações Unidas sobre o clima, em dezembro, selaram um acordo histórico para transição de combustíveis fósseis, mas não citaram prazos de eliminação total. Se esse processo (que inclui os gases de efeito estufa) não for revertido, não há razão para esperar resultados diferentes no futuro. Caso isso não aconteça, em alguns anos, 2023, que bateu um recorde, provavelmente será lembrado como um ano ameno.

A ONU afirmou que o registro é um “um simples aviso do futuro catastrófico que nos espera”. O secretário-geral, Antonio Guterres, afirma que a humanidade está queimando a Terra. E os líderes mundiais precisam se comprometer com novos planos de ação. Ainda dá para evitar o pior. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as temperaturas ficaram acima da média histórica no Brasil por pelo menos cinco meses consecutivos, de julho a novembro. Setembro teve o maior desvio (diferença entre o valor registrado e a média histórica) já registrado desde 1961, de 1,6ºC, seguido do mês de novembro, de 1,5ºC. A cidade de Araçuai, por exemplo, no vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, bateu o recorde de dia mais quente da história em 19 de novembro, quando a temperatura máxima chegou aos 44,8ºC. Em São Paulo, no dia 13 de novembro, a temperatura chegou a 37,8ºC - o maior já registrado para o mês. A maior máxima absoluta (aquela registrada em um único lugar) para novembro ocorreu no bairro da Vila Madalena, na zona sul da cidade de São Paulo, com 39,5ºC.

Em 2023, mais da metade dos 5.568 municípios brasileiros foi afetada por algum evento climático extremo, como tempestades, enchentes e secas. Segundo a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, 2.797 municípios foram reconhecidos em situação de emergência ou estado de calamidade pública. Ao todo, 14.541.438 pessoas foram afetadas e R$ 1,4 bilhão foram gastos na contenção de danos. O início do ano foi marcado por chuvas intensas em inundações no litoral de São Paulo, que deixaram 64 mortos e resultaram na interdição da Rodovia Rio-Santos. Ciclones extratropicais atingiram a Região Sul do País em junho, deixando 49 mortos e mais de 100 municípios afetados, sobretudo no Rio Grande do Sul. Também no Rio Grande do Sul, uma forte estiagem levou à situação de emergência em 252 municípios. Na Região Norte, 100 municípios registraram escassez hídrica por causa da seca histórica. Os rios na Região Amazônica tiveram baixas históricas no período.

Em um evento na semana passada, cientistas climáticos já tentavam mensurar os efeitos desse recorde de calor. Segundo o Imperial College de Londres, há um grande impacto. A World Weather Attribution analisa apenas eventos que afetem mais de 1 milhão de pessoas ou que resultem em mais de cem mortes. Foram relatados 160 eventos desse tipo só no ano passado. Só foi possível conduzir 14 estudos, a maioria sobre ondas de calor. Resumindo, todas as ondas de calor que ocorrem hoje estão mais quentes. Só nos Estados Unidos ocorreram 28 desastres climáticos em 2023, outro recorde. Na lista estão 19 tempestades severas, 2 furacões, um incêndio florestal e uma tempestade de inverno, que mataram ao menos 492 pessoas e causaram quase US$ 93 bilhões em danos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.