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12/Dec/2023

Agronegócio já sente os efeitos do clima extremo

As mudanças climáticas têm modificado o cenário agrícola global já há algum tempo. Um levantamento recente, contratado pela multinacional Bayer e conduzido pela empresa global de comunicação estratégica Kekst CNC, com 800 produtores agrícolas de Brasil, Austrália, China, Alemanha, Índia, Quênia, Ucrânia e Estados Unidos mostrou que 70% deles já observam impactos expressivos em suas propriedades e que 76% estão preocupados com os efeitos futuros das alterações do clima para o seu negócio. No Brasil, neste ano, as recentes ondas de calor são um exemplo concreto. Há reflexos nas lavouras de soja, milho, algodão e café nas principais regiões produtoras. Já se fala em queda na produção de grãos, café e fibras. Na pecuária, o gado de corte e leite está sofrendo com a exposição ao calor e com a queda na qualidade dos pastos.

O atraso no plantio da soja em razão da inconstância do tempo, com seca em algumas regiões e chuvas demais em outras, e das temperaturas elevadas compromete o calendário das próximas safras e pode se refletir também nos preços dos produtos e, consequentemente, na inflação. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou sua projeção para a safra 2023/2024: a previsão é de atingir 312,3 milhões de toneladas de grãos, volume 2,4% inferior ao obtido na safra 2022/23 (319,9 milhões de toneladas). A justificativa é a baixa ocorrência de chuvas e as altas temperaturas registradas nos Estados da Região Centro-Oeste, enquanto na Região Sul do País, principalmente no Rio Grande do Sul, há um excesso das precipitações. Essas condições climáticas adversas afetaram o desenvolvimento de importantes culturas, como a soja e o trigo. A perspectiva de queda ocorre depois de três altas seguidas na safra: em 2020/2021 foram colhidas 252,3 milhões de toneladas e, em 2021/22, 271,2 milhões de toneladas.

O calor altíssimo e os temporais associados ao El Niño têm causado eventos extremos no Brasil e em várias partes do mundo. O fenômeno atmosférico se caracteriza pelo aumento significativo e anormal da temperatura em determinadas regiões, comparado aos valores máximos históricos. Nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, houve picos de temperatura de 35°C durante cinco dias seguidos. Modelos de previsão do Instituto Internacional de Pesquisa e Clima indicam que a fase quente do El Niño vai se prolongar por todo o verão, até o final de março. Durante o período, as temperaturas ficarão acima da média climatológica em todo o País. A cultura mais atingida é a soja, principal cultivo de verão do País. Culturas tradicionais, como soja, milho, café, feijão, arroz, e algodão, vão sentir o impacto das ondas de calor e dos temporais que atingem todo o País. A estimativa de produção da soja nesta safra é de 160,2 milhões de toneladas, uma alta de 3,6%. No entanto, segundo a Conab, o plantio da oleaginosa continua atrasado em todas as regiões produtoras.

Conforme a Embrapa Soja, temperaturas acima de 30ºC aceleram o ciclo vegetativo da cultura, com as plantas muito baixas, o que acarreta produtividade menor. A Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja-MT) afirmou que os produtores estão apreensivos com a seca e as ondas de calor que têm afetado o Estado, maior produtor nacional do grão. A entidade tem acompanhado as situações de campo e ainda é difícil mensurar o impacto das perdas. O fato é que já existem. Na produção de milho, segundo grão mais cultivado no País, 21,1 milhões de hectares que devem produzir 119 milhões de toneladas, o risco está no aumento de pragas. O ciclo da cultura é adiantado e a produção cai. Só o calor não seria tanto problema, mas ele é associado à alta demanda de água. A alta temperatura provoca um consumo energético mais elevado e a planta precisa retirar mais água do solo. É quando acontece o estresse hídrico, que reduz a produção. Os produtores de café já dão como certa a redução na safra 2024/2025 em relação à anterior.

Em Minas Gerais, maior produtor de café arábica do País, as floradas foram antecipadas e os grãos estão sem uniformidade e em menor volume. Quando o calor passa de 30ºC, a planta diminui a fotossíntese, reduz o desenvolvimento e emite uma florada irregular e não há uma granação uniforme, afirmou a Cooperativa de Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo. Os cafezais da região floresceram em outubro, após uma sequência de dias de muito calor. Agora é a fase de emissão dos chumbinhos (grãos pequenos), mas as rosetas de café estão ficando banguelas, ou seja, onde era para ter 20 chumbinhos têm apenas 6. Cultura essencial para a cesta básica do brasileiro, o feijão teve um aumento de área nesta safra, segundo a Conab, mas as lavouras podem ser muito afetadas pelo calor intenso. A expectativa é de produção de 3,1 milhões de toneladas em 2,78 milhões de hectares. O arroz está em fase de semeadura e o calor excessivo pode prejudicar a formação das lavouras. Segundo a Conab, o cereal tem previsão de aumento na área plantada e na produção, que pode chegar a 10,8 milhões de toneladas.

A maior parte do arroz brasileiro é irrigada e tem sido prejudicada pela chuva. Em Dom Pedrito (RS), muitos produtores deixaram de semear devido aos alagamentos. As ondas de calor intenso afetam também a produção brasileira de leite e carne. O País tem o maior rebanho bovino do mundo, com 234 milhões de cabeças, e é também o principal exportador de carne. De acordo com o a Embrapa Pecuária Sudeste, 80% da produção brasileira de carne e leite está concentrada na faixa intertropical, onde os efeitos das ondas de calor são mais intensos. Sob alta temperatura, o bovino não se desloca para comer a fim de preservar sua energia, e acaba aumentando o estresse, que pode impactar sua saúde. No caso dos frangos, em casos extremos, há risco de mortandade. Uma redução na produção de grãos, carnes e ovos por causa das condições climáticas pode interferir na trajetória da inflação nos próximos meses. Segundo analistas, alimentos mais sensíveis ao clima, como verduras, legumes e frutas já sofrem com as alterações climáticas.

Os preços do arroz e do feijão também podem sentir reflexos da queda de produção devido ao calor intenso. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) da USP afirma que os impactos na oferta de pastagem devem interferir na produtividade e resultar na falta de bois para abate. No fim de ano, geralmente o consumidor compra mais carne bovina. Aumento na demanda e redução na oferta podem trazer esse impacto na inflação. A carne bovina representa 2% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). O momento desse impacto, tanto na carne como no leite, vai depender de o consumidor se dispor a absorver o preço. O leite está com preços baixos, mas pode haver problemas na captação. Então, é de se esperar que os preços subam e isso traz efeito na inflação. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.