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11/Dec/2023

Entrevista com Helder Barbalho - governador do PA

Sem o luxo de Dubai, mas com a biodiversidade e a cultura da Floresta Amazônica. Esse é o plano do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), para a 30ª. Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (COP30), que a capital de seu Estado, Belém, sedia em 2025. "Nossa ambição é fazer a COP da floresta. Devemos valorizar aquilo que nos coloca em absoluta singularidade". Com planos sobre como preparar o Estado e a região metropolitana para receber o evento, Barbalho não sabe "a dimensão de investimentos" que a Organização das Nações Unidas (ONU) vai demandar. Ele conta que, da porta da COP para dentro, o evento é 100% da ONU. Mas da porta para fora, os governos estadual e federal irão atuar conjuntamente. Do evento no deserto dos Emirados Árabes Unidos para mais de 97 mil participantes inscritos, Barbalho já tirou alguns aprendizados. Um deles é investir em tecnologia e na conectividade dos participantes. Segue a entrevista:

O presidente Lula já advertiu que ninguém deve esperar o luxo de Dubai na COP de Belém e disse que as reuniões poderão acontecer embaixo de árvores. O que esperar da COP30?

Helder Barbalho: Nossa ambição é fazer a COP da floresta. Devemos valorizar aquilo que nos coloca em absoluta singularidade do mundo como sede do maior evento climático do mundo. Respeitamos e reconhecemos a nossa singularidade. Queremos fazer uma COP que permita que a floresta esteja no centro das atenções, das discussões e das soluções. Queremos que a COP seja a oportunidade de as pessoas conhecerem a realidade da Amazônia e dos povos amazônicos. Uma solução para a floresta passa por solução para as pessoas. O principal legado da COP30 vai ser colocar a floresta no centro das discussões de transição energética, regeneração de áreas, agricultura regenerativa. O que queremos? Queremos que a COP em Belém torne mais alto o valor da floresta viva do que o da floresta morta.

Qual o investimento necessário para realizar a COP?

Helder Barbalho: Estamos trabalhando na agenda do legado ambiental e no legado de infraestrutura. Do evento em si, ainda não tivemos acesso a qual dimensão dos investimentos que serão necessários. Isso será repassado pelas Nações Unidas ao governo brasileiro.

Mas o governo do Pará já teve reunião com a ONU?

Helder Barbalho: As Nações Unidas já estiveram em Belém. Fizeram uma imersão para conhecer a cidade e os desafios. Apresentamos diagnósticos dos gargalos e as soluções possíveis para que eles pudessem validar. A nossa expectativa é que o anúncio aconteça aqui [em Dubai] até o final do evento. A partir do anúncio, há uma formalização do processo e, então, serão definidas carteira de encargos, responsabilidades, a quem vai caber cada tarefa. Essa é uma agenda que vai ocorrer pós-Dubai. Antes disso, o que estamos fazendo é isso: pensar no legado ambiental e no legado urbanístico. Nesse sentido, estamos trabalhando com obras de mobilidade, de saneamento e abastecimento de água, apoio ao mercado de serviços com aportes do banco do Estado e do BNDES.

A rede hoteleira cidade tem um total de 20 mil leitos, correto?

Helder Barbalho: São 12 mil leitos. Na região metropolitana, há 18 mil. E há mais 8 mil em uma cidade próxima a Belém que está sendo analisada como alternativa.

Já se falou em os participantes da COP30 terem a opção de se hospedarem em navios transatlânticos que ficariam atracados no porto de Belém. Faz sentido?

Helder Barbalho: Essa é uma das soluções que estão sendo apresentadas e estudadas. Nesse caso, também está sendo estudada uma solução sobre como zerar as emissões que esses navios irão emitir.

O porto tem calado, área de receptivo para acomodar os cruzeiros?

Helder Barbalho: Esse vai ser um dos legados. Já está em fase de contratação a dragagem do canal de navegação do porto de Belém para sair de 6,8 metros para 9,8 metros e permitir com isto que esses navios possam estar atracados no porto de Belém.

Aqui na COP28, as pessoas enfrentam muita dificuldade para saber onde estão ocorrendo os painéis, os eventos paralelos mesmo a organização tendo desenvolvido um aplicativo de celular. A COP30 vai investir em um app para orientar os participantes?

Helder Barbalho: Esse problema foi visto em Glasgow (sede da COP26), em Sharm El-Sheikh (COP27). Esse é um desafio que estamos discutindo como resolver, seja em estrutura pública ou em parceria privada. Mas acredito que podemos trazer a experiência da iniciativa privada para melhorar a conectividade das pessoas. Em Belém, teremos um incremento de demanda.

O anúncio oficial de Belém como sede da COP30 ainda será feito. Há a possibilidade de mudança?

Helder Barbalho: Mesmo sem que tenha havido um anúncio formal, Belém está escolhida. O processo funciona assim. Cada ano é uma região do mundo que recebe a conferência. E, em 2024, será a vez da região do Caribe e América Latina, que subscreveu uma candidatura apenas, a de Belém. Por essa razão, a ONU já esteve com uma delegação responsável pelo planejamento da COP em Belém. E eles reconheceram que esse planejamento é um ponto favorável [para a oficialização da escolha da cidade]. Ou seja, nós estamos trabalhando pela COP30 e ainda nem se sabe onde será a COP29. Vamos saber aqui, em Dubai, onde será a COP29.

Em termos de infraestrutura de água, esgoto, mobilidade, como a região metropolitana de Belém está hoje e o que deve ser feito para receber os quase 100 mil participantes da COP?

Helder Barbalho: Vamos requalificar a mobilidade urbana.

Isso significa o quê? Novos corredores de ônibus?

Helder Barbalho: Corredores de ônibus, renovação da frota de transporte coletivo, inclusive com a introdução de veículos elétricos. O Estado deve, no segundo semestre de 2024, deve ter o leilão de concessão de saneamento, estruturado pelo BNDES.

Hoje como está a cobertura?

Helder Barbalho: O serviço de fornecimento de água tem a cobertura de 60% e o de esgoto, 25% no Estado. Em termos de legados de infraestrutura, há diversas outras oportunidades que a COP trará. O aeroporto de Belém, que foi o último lote de concessão [passou para iniciativa privada em abril deste ano], terá a antecipação das melhorias previstas para 2025. Os locais do evento, que são Parque da Cidade de Porto Futuro, também estarão dentro da agenda de entregas. Esses são dois grandes complexos urbanísticos que servirão como pontos centrais da COP. A hotelaria terá um incremento importante.

Como será a ampliação da estrutura de hospedagem para receber os visitantes? Há um projeto de construir uma operação hoteleira que, depois, irá se transformar em um estabelecimento de educação?

Helder Barbalho: Estamos discutindo a construção dessa estrutura com a qualidade necessária e que se torne viável pós-COP. Não queremos deixar o que aconteceu em grandes eventos como Copa, Olimpíadas no Brasil e em outros lugares. Uma sugestão que foi apresentada pela iniciativa privada é de que possamos nos tornar um grande um grande cluster de conhecimento. Essa proposta foi apresentada ao BNDES e é uma negociação privada. O papel do Estado é estudar modelos e captar oportunidades. No momento, temos conversas com quatro operadores hoteleiros privados.

Brasileiros?

Helder Barbalho: Brasileiros e estrangeiros que têm interesse em investir em novos hotéis. Então, nós estamos trabalhando com novas operações hoteleiras, com requalificação das operações existentes e com a reestruturação de imóveis públicos e privados. Fechamos um acordo com o Airbnb, que estará fazendo uma grande divulgação da plataforma. E provavelmente vamos oferecer, junto com o Exército, estruturas provisórias que possam incrementar a oferta de leitos. São várias frentes para poder solucionar sua primeira pergunta nós estamos falando de possibilidade de 100 mil pessoas para uma cidade que tem 20 mil leitos no dia de hoje. Agora, é importante o seguinte: do total de inscritos, uma parte não comparece, uma outra parte é prestador de serviço [que mora na cidade e região]. Nós trabalhamos com o número de 50 mil pessoas. O Itamaraty fala em 40 mil.

Na Cúpula da Amazônia, a segurança pública foi destacada como ponto crítico na região. Como o governo está se preparando para a conferência?

Helder Barbalho: A equipe da segurança pública do Estado está aqui, dialogando com a ONU, com a prefeitura de Dubai. Mas dentro da conferência, a segurança é pensada pela ONU. Obviamente, cada delegação terá suas exigências junto ao governo do Estado. Caberá ao governo do Estado a segurança da população nas ruas de Belém. A quantidade de chefes de Estado deve desafiar o governo brasileiro a ter suas forças de segurança estejam presentes.

Mas e no interior do Estado? O que está sendo pensado para aumentar a segurança pública para os visitantes que quiserem conhecer o interior, fazer a viagem de barco a Santarém, por exemplo?

Helder Barbalho: Os investimentos de segurança pública que fizemos e estamos fazendo são no intuito de deixar como legado a redução da criminalidade no Estado. Há cinco anos, Belém era a capital mais violenta do Brasil. No último anuário da violência, a cidade aparece como sétima capital mais segura do Brasil. Estamos fazendo concurso público para contratar 4.000 novos policiais que serão formados para o calendário da COP.

Fonte: Broadcast Agro.