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11/Dec/2023

Grãos: adversidades climáticas da safra 2023/2024

Adversidades climáticas da safra 2023/2024 impactam em uma produção de grãos consideravelmente menor nesta temporada. Desde que o vazio sanitário permitiu gradualmente os trabalhos em campos em setembro, as famílias produtoras brasileiras se deparam diante de muitos desafios. Em um Brasil continental foi o excesso de chuva que na maior parte da Região Sul determinou o atraso do plantio e no Centro-Oeste, Sudeste, Nordeste e Norte foi uma incessante estiagem que terminou atrasos históricos, levou regiões a dois replantios seguidos, áreas abandonadas para troca de cultura e muitas perdas. A onda de calor extremo que acometeu o País de sul a norte foi determinante para o abortamento das flores e antecipação do ciclo da soja e historicamente relatos de colheita com rendimentos variados entre 20 até máximos de 30 sacas por hectare na região de Ipiranga do Norte, em Mato Grosso, circularam o mercado.

Na semana da colheita estive presencialmente no Estado e percorri a região norte e médio-norte e constatei áreas que haviam sido replantadas duas vezes e que foram dessecadas para migrar para algodão, realidade registrada em outras regiões do Estado, maior produtor da oleaginosa e milho segunda safra. Com a divulgação do terceiro levantamento de grão da safra 2023/2024, a Conab apontou uma redução de apenas 4,4 milhões de toneladas na produção total de grãos do Brasil. Em um mês, segundo o órgão, o El Niño determinou perdas de 2.243.700 toneladas na soja, 1.069.400 toneladas no milho e 1.490.300 toneladas no trigo. Como especialista em commodities agrícolas, destaco que, diante deste cenário adverso e de mudanças ainda em construção, precisamos ser ágeis e pensar os próximos passos. O mercado precisa de direcionadores contundentes para as perdas do maior produtor e exportador de soja mundial e o terceiro maior produtor e principal exportador de milho.

O Brasil tem um papel de peso no quadro da segurança alimentar e transparecer o que acontece aqui é vital. Após a divulgação do levantamento, eu me perguntei algumas vezes: “É possível que o Brasil tenha de fato perdido apenas 2,242 milhões de toneladas de soja?” Certamente que o País tinha um potencial de produção muito maior pela tecnologia aplicada nos campos, mas para que isso acontecesse precisávamos partir de um número base e termos condições ideais de temperatura e chuvas. Outra pergunta que seguidamente fiz: “Aceitando um quadro de regularização climática a partir de dezembro, as chuvas são suficientes para compensar todas as perdas efetivadas até então?” Outro ponto de reflexão que gerou dúvidas que precisei explicar para analistas estrangeiros foi o porquê de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em seu segundo prognóstico para a produção agrícola, prever uma safra de grãos em 306,2 milhões de toneladas quando no mesmo dia a Conab divulgou uma projeção de 312,3 milhões de toneladas.

Aqui fica a reflexão: O estudo foi atualizado com pesquisas em campo ou está parametrizado com dados da safra de 2023? Pelo texto divulgado do estudo para 2024, falando em safra recorde histórica e não pontuando as adversidades climáticas, me passou a ideia de que a projeção da soja estimada em 152,5 milhões de toneladas para a próxima temporada está defasada. Mas aí está fácil de ajustar. Mesmo defasado, o órgão está mais perto hoje de acertar o número do que a própria Conab. E por que eu trago estes pontos aqui na minha última coluna em 2023? Porque diante de abandonos de safra, replantios, adiantamento de ciclo, de quebras infelizmente confirmadas e casas de consultoria revisando seus números, estamos perdendo o tempo de posicionar e direcionar ao mercado mundial sobre o que está de fato acontecendo com a safra no Brasil este ano. Como decorrência disso, o mercado global de commodities agrícolas, cria ainda maior expectativa para a divulgação das projeções de oferta mundial de grãos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Mesmo que alguns analistas não projetem números arrojados, eu acredito serem viáveis cortes para a safra de soja e milho do Brasil além de possível aumento para a safra de soja da Argentina como decorrência da vitória recente de governo pro agro. Nos últimos 15 dias, analistas, associações e mídias norte-americanas sondaram o mercado sul-americano sobre o tema e essas informações podem tender a formar opinião aos adidos do órgão. Como complemento, considerando o cenário brasileiro atual, minha estimativa para a safra de soja brasileira está em 153,9 milhões de toneladas. Os atrasos no plantio da soja, cancelamento de pedidos de semente de milho e a consequente troca de cultura para algodão e na safrinha para gergelim, milheto e sorgo geram um potencial de uma safra de 114 milhões de toneladas.

Importante pontuar que perdas adicionais ainda podem ser contabilizadas caso o clima não seja favorável durante o restante do ciclo da soja e safrinha. Nós nos veremos somente em 2024, no início de ano, em um período de novas projeções, novos outros desafios como o de logística, afinal a safra de Mato Grosso já estará sendo colhida, não com tantos atropelos quanto os que presenciamos neste ano, pois a safra foi plantada mais escalonada (e replantada). Teremos indústria começando a receber os primeiros contratos e os portos começando a se preparar para os embarques provavelmente já congestionados pela virada que tiveram dos portos do Norte em razão da seca. Quero aqui deixar meus votos de um final de safra muito abençoado e desejar um toque de ousadia para 2024, mas sem esquecer, é claro, de proteger os seus negócios, afinal dinheiro não aceita desaforo, ok? Fonte: Andrea Cordeiro. Fonte: Broadcast Agro.