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07/Dec/2023

Educação: ensino mundial registra queda histórica

O desempenho dos estudantes em Matemática e Leitura nos países ricos durante a pandemia teve a maior queda da história na prova mais importante da educação do mundo, o Pisa. Os resultados do exame, que avalia alunos de 15 anos, foram divulgados no dia 5 de dezembro. Já com notas muito baixas ao longo das edições do exame, a do Brasil se manteve praticamente estável, mas subiu algumas posições no ranking. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela prova, considerou a queda mundial como “sem precedentes” e “dramática”. O Brasil foi um dos países considerados como “sortudos”, onde o desempenho não foi tão prejudicado na crise sanitária. Para o Ministério da Educação, isso foi reflexo do esforço de Estados e dos governadores, mesmo na ausência do MEC no período. Segundo os novos resultados do Pisa, 1 em cada quatro adolescentes de 15 anos dos países mais ricos do mundo agora tem baixo desempenho em Matemática, Leitura e Ciências.

Isso significa que eles têm dificuldades para fazer tarefas como aplicar operações matemáticas básicas ou interpretar textos simples. Não conseguem fazer contas com percentagens ou distinguir fatos de opiniões. Apesar da estabilidade, no Brasil, muito mais alunos estão no grupo considerado abaixo do básico em Matemática para a OCDE: 73% do total. Para a OCDE, a redução nas notas foi causada pela pandemia, mas não somente por ela. O relatório menciona que o fechamento das escolas impulsionou uma conversão global para a aprendizagem remota, aumentando os desafios a longo prazo que já haviam surgido, como o uso da tecnologia nas salas de aula. Os dados revelam a demanda de estratégias de recomposição de aprendizagem e acompanhamento de alunos nos sistemas educacionais. Além de lacunas de conteúdo, especialistas alertam sobre desafios provenientes do uso da tecnologia. Pesam ainda questões socioemocionais para uma geração que teve parte do desenvolvimento na quarentena, com efeitos na saúde mental de crianças e jovens.

Em Matemática, a diferença entre a prova feita em 2018 e a do ano passado foi de 15 pontos a menos nos países ricos (membros da OCDE), o equivalente aos alunos terem perdido três quartos de um ano escolar. O desempenho foi pior entre alunos de todos os perfis socioeconômicos. O Pisa não tem escala máxima ou mínima de pontos. As nações são divididas em uma média de aproximadamente 500 pontos, com desvio-padrão de 100 pontos. O exame, que seria realizado em 2021, foi adiado por causa do fechamento das escolas na pandemia. Quase 700 mil alunos em 81 países participaram da avaliação, entre os que fazem parte da OCDE e nações convidadas, como o Brasil. Os estudantes brasileiros ficaram com nota 379 em Matemática, no 65º lugar do ranking, atrás de Colômbia e Cazaquistão. Em Leitura, foram 410 pontos e a 52ª colocação, desta vez na frente dos mesmos dois países.

Em Ciências, o Brasil aparece em 61º, abaixo da Argentina e do Peru, e com 403 pontos. Em 2018, as notas tinham sido 384, 413 e 404, respectivamente, o que foi considerado como estabilidade. O fato de o Brasil ter a maioria dos alunos nos níveis mais baixos de desempenho pode ter feito com que a nota geral não caísse tanto. Isso ocorreu mesmo depois de o Brasil ter mais dias com escolas fechadas por causa da Covid. Em média, os estudantes de países da OCDE tiveram 101 dias com ensino remoto na pandemia. No Brasil, essa quarentena durou 253 dias. Observou-se que 81% dos alunos que fazem o Pisa são do ensino médio, então o resultado foi reflexo do esforço dos governos estaduais, dos governadores, para garantir as aulas e permanência da aprendizagem, frente às dificuldades da pandemia que enfrentamos, mesmo com a ausência do MEC, disse o ministro da Educação do Brasil, Camilo Santana, referindo-se ao governo anterior.

Para o ministro, o resultado do Pisa é uma comprovação da necessidade de reforçar as disciplinas básicas, de Matemática e Português. A proposta do governo, que está no Congresso e enfrenta críticas do relator, aumenta a carga horária da formação básica no ensino médio, que havia sido reduzida na reforma. Apenas 1% dos brasileiros conseguem chegar às notas mais altas em Matemática, o que significa que encontram melhores estratégias para resolver problemas usando um conhecimento não explícito na questão. Em Singapura, 41% estão nesses níveis; em Taiwan, 32%. A média da OCDE é de 9%. Os alunos não têm de demonstrar só conhecimento do conteúdo, mas também pensar como um matemático, traduzir problemas do mundo real para o mundo da Matemática, raciocinar matematicamente e interpretar soluções. Quase 6 em cada 10 (57,2%) brasileiros relatam ficar “muito nervosos” ao resolver problemas matemáticos. Essa é a 6ª maior taxa em relação aos demais países avaliados pelo Pisa. Mais da metade (54,4%) também se sente assim quando faz o dever de casa.

Os níveis mais baixos de ansiedade tendem a ocorrer em países cuja pontuação média em Matemática está acima da média da OCDE, mais notavelmente em Dinamarca, Finlândia, Suíça e nos Países Baixos. Curiosamente, 4 países asiáticos com alta ansiedade (Hong Kong, Japão, China e Taiwan) também estão no topo do ranking. De maneira geral, o Brasil aparece entre os que mais pontuaram no índice de “ansiedade matemática”, que afere os sentimentos e sensações dos estudantes em relação à matéria. Para se ter ideia, a média da percentagem de estudantes de países da OCDE que ficam muito nervosos ao resolver problemas matemáticos é de 39,4%. A ansiedade matemática está associada negativamente aos resultados dos estudantes na disciplina, como o Pisa já havia demonstrado em 2012. No Brasil, especificamente, os menos ansiosos tiveram uma vantagem de 34 pontos. Os mais apreensivos, desvantagem de 10.

Segundo o relatório, para enfrentar a ansiedade matemática, é preciso melhorar o ensino da disciplina, com foco em resolução de problemas do “mundo real”, mas também compreender e abordar as atitudes e emoções dos alunos em relação a cálculos. O documento frisa que algo que pode ajudar os estudantes a superar a ansiedade relacionada ao desempenho é o que o Pisa chama de “mindset” (mentalidade, em tradução livre ao português). Ele basicamente diz respeito à crença do estudante sobre a possibilidade de transformação (maleabilidade, nas palavras do documento) de suas habilidades e inteligência. Para conseguir calcular isso, a pesquisa perguntou se os estudantes concordavam com a frase: “Sua inteligência é algo sobre você que você não pode mudar muito”. Aqueles que concordaram têm um ‘mindset’ fixo (fixed mindset), já os que discordam têm uma mentalidade de crescimento (growth mindset), segundo o estudo.

O mindset de crescimento, ao contrário da ansiedade matemática, está positivamente associado a resultados. Os dados mostram que mesmo os estudantes mais ansiosos se beneficiam de ter mentalidade de crescimento. Entre os alunos dos níveis mais elevados de ansiedade matemática, ter um mindset de crescimento representou uma vantagem de até 18 pontos na nota. Mais de 45% dos estudantes brasileiros relatam se distraírem por causa de dispositivos digitais em todas ou quase todas as aulas de Matemática. A taxa é a sexta maior entre todos os países que participaram do Pisa. Quatro em cada dez (40,3%) também dizem se dispersar quando veem outros colegas usando os aparelhos. As duas taxas estão acima da média dos países da OCDE. Nas nações mais ricas, 30,5% se distraem por causa dos dispositivos digitais, e 25,2% se dispersam ao observar os colegas fazerem o uso.

Mas é o caso de vetar celular? O Pisa aponta que estudantes que usam dispositivos na escola, tanto para estudar como para lazer, têm resultados melhores em Matemática. Os números do Pisa estão alinhados com estudos que apontam que o uso moderado desses aparelhos não é intrinsecamente danoso e, por isso, é preciso de diretrizes. Em média, alunos que usaram dispositivos digitais por até uma hora para estudar na escola tiveram uma vantagem de 25 pontos em relação aos que não utilizaram. Com diferença menor, até os estudantes que ultrapassaram sete horas de uso tiveram nota melhor do que aqueles que não tocaram nesses aparelhos sequer por um minuto. O uso de celular para lazer na escola também esteve associado com resultados melhores em Matemática. Na média da OCDE, quem usou por até 1 hora teve vantagem de 19,8 pontos. No Brasil, os alunos com a melhor nota em Matemática (399) foram aqueles que usaram aparelhos digitais na escola para lazer de 2h até 3h, vantagem de 22 pontos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.