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06/Dec/2023

COP28 tem recorde de pessoas ligadas aos fósseis

Sediada nos Emirados Árabes Unidos, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, a COP28 registrou uma presença sem precedentes de pessoas ligadas aos interesses das empresas de combustíveis fósseis. Uma análise feita pela coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO) e divulgada nesta terça-feira (05/12) estimou que o número de lobistas credenciados para participar dos eventos da conferência é sete vezes maior do que o número de representantes indígenas na conferência. A análise da KBPO levou em consideração a lista provisória mais recente de participação de pessoas com vínculos explícitos com empresas do setor em negociações até o momento. De acordo com a análise pelo menos 2456 pessoas ligadas a empresas de petróleo participam da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. A KBPO é uma rede que reúne 450 organizações da sociedade civil que defendem a redução da influência de grandes poluidores no debate climático.

A rede explica que a metodologia utilizada para classificar alguém como lobista do petróleo leva em consideração as informações disponibilizadas pela própria pessoa no cadastro na conferência. Além disso, a rede leva em conta pessoas que tenham interesse em influenciar nos debates e definições das políticas climáticas. Ao descobrir que o delegado autodeclarou seus vínculos com uma empresa de combustíveis fósseis, uma organização com interesses em combustíveis fósseis ou qualquer fundação diretamente associada por propriedade ou controle a uma empresa de combustíveis fósseis, leva a classificá-lo como um lobista de combustíveis no contexto de sua presença na COP28. Nesta terça-feira (05/12), debates da COP28 foram focados nos povos indígenas. A cada dia, a Conferência tem como foco um tema diferente, como financiamento, transição energética, e outros.

A ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, que chefia a delegação brasileira na conferência no momento, evitou criticar a prevalência de representantes das empresas de petróleo ante membros do movimento indígena. A delegação brasileira reúne o maior grupo indígena da COP28. São mais de 300 indígenas de todas as regiões do mundo. É claro que pelo tamanho da população indígena no mundo, pelo trabalho que a gente presta de proteger naturalmente o meio ambiente, é um número pequeno, mas está avançando. A luta é por mais indígenas nas mesas de negociações, do Brasil e outras partes do mundo, disse a ministra. O levantamento da KBPO mostra que a “delegação de lobistas” supera praticamente a de todos os países participantes da COP28, exceto do Brasil, que tem 3.081 pessoas (o maior grupo de um país visitante), e dos Emirados Árabes Unidos, com 4.409 pessoas. A sociedade civil e ambientalistas têm pressionado nesta COP para que os países assumam compromissos no sentido de abandonar o uso de combustíveis fósseis.

A medida, no entanto, encontra resistência e é um passo de difícil acordo, uma vez que todas as decisões incluídas no documento final devem ser obtidas em consenso. Os participantes ligados à indústria de combustíveis fósseis também receberam um número maior de passes para acessar eventos restritos do que todas as nações mais vulneráveis em termos climáticos. Além de os Emirados Árabes Unidos serem um grande produtor de petróleo, a escolha de Sultan Ahmed al Jaber como presidente da conferência também gerou desconfiança na área ambiental. Ministro da Indústria no país sede, al Jaber preside a gigante petrolífera Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (ADNOC). A presidência da COP é um posto-chave durante o encontro global por ter a atribuição de escolher os temas que serão prioritários na conferência. O número de pessoas ligadas às empresas de petróleo nas COPs tem aumentado expressivamente ao longo dos anos. Enquanto foram apenas 503 na COP de Glasgow, em 2021; no ano seguinte, em 2022, na COP de Sharm el Sheik foram 636.

Este ano, pela primeira vez, graças à pressão sustentada da sociedade civil, as pessoas que participaram na COP28 foram obrigadas a revelar quem representam, revelando muitos lobistas que provavelmente teriam participado incógnitos nas COP anteriores. A discussão sobre o uso de combustíveis fósseis tem dado a tônica de boa parte dos eventos da Conferência e ocupado o centro das pressões exercidas pela sociedade civil. Até agora, no entanto, não há sinalização de que os países venham a adotar alguma medida grandiosa em relação ao combate a esses recursos. O tema também tem sido espinhoso para o Brasil que, apesar da redução dos índices de desmatamento e da retomada da agenda climática, manifestou posições contraditórias sobre a redução do uso de combustíveis fósseis. Nos primeiros dias da conferência, ao mesmo tempo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a redução da dependência dos combustíveis fósseis, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, indicou que o Brasil faria parte da Opep+, grupo criado pela Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep).

O ministro de Minas e Energia afirmou que o país não pode se envergonhar de seu potencial de combustíveis fósseis. Nos bastidores, a estratégia do governo brasileiro nas negociações da COP28 inclui pressionar para que os países desenvolvidos liderem os esforços rumo à redução do uso de combustíveis fósseis. Um dos argumentos leva em conta o princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” compromisso estabelecido na Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima (UNFCC). Nesse sentido, há a percepção de que os países ricos podem iniciar os esforços já que suas emissões são as principais responsáveis pelas mudanças climáticas, que têm afetado com mais força os países pobres. Essa estratégia é trabalhada pelo País no âmbito do bloco BASIC, que inclui Brasil, África do Sul, Índia e China. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.