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05/Dec/2023

Brasil lidera em crédito a atividades que desmatam

Pelo menos US$ 307 bilhões foram concedidos em crédito para atividades com alto risco de desmatamento desde 2016 no mundo, sendo US$ 188 bilhões apenas no Brasil, mostra levantamento sobre o fluxo financeiro para as cadeias de carne bovina, óleo de palma, papel e celulose, borracha, soja e madeira. O estudo foi realizado pela Coalizão Forests & Finance, organização que reúne oito ONGs ambientais de diferentes países. Não é possível mapear tudo porque há transações financeiras diretas que não estão nas bases de dados acessados, então os dados são subestimados. O levantamento, que abrange as florestas tropicais da Amazônia, África Central e Ocidental e Sudeste Asiático, foi feito a partir das informações divulgadas pelas próprias instituições financeiras e de relatórios anuais e trimestrais das 300 maiores companhias com atuação nas atividades avaliadas.

No total, mais de 100 instituições financeiras de todo o mundo concederam crédito a cadeias com alto risco de desmatamento. A maior parte desse crédito (US$ 127 bilhões) é oriundo de bancos brasileiros, concedidos a cadeias envolvidas, em alguma medida, com desmatamento. Dos 15 maiores credores de empresas dessas cadeias, 7 são instituições financeiras brasileiras. Globalmente, a cadeia de carne bovina foi a que mais recebeu recursos no período, com US$ 82,6 bilhões, seguida de papel e celulose, US$ 80,9 bilhões, e soja, com US$ 61,9 bilhões. No Brasil, foram US$ 79 bilhões concedidos a empresas de carne bovina, US$ 59 bilhões à soja e US$ 46 bilhões a papel e celulose. Segundo o estudo, as políticas de mitigação de risco dessas instituições são perigosamente inadequadas para evitar que recursos sejam usados na supressão de mata nativa de forma legal ou ilegal.

Os próprios bancos e os investidores não têm políticas para garantir que o dinheiro que estão aplicando não vai ser usado para financiar o desmatamento, e não há como provar que nenhuma das empresas está envolvida em desmatamento. A partir de 38 critérios aplicados a cada uma das seis commodities analisadas, a Forests & Finance criou um sistema de pontuação para classificar o nível de controle que as políticas adotadas pelos bancos oferecem. No Brasil, a média obtida pelas instituições financeiras foi de 11%, abaixo dos 17% observados no ranking geral. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirma que as resoluções do Banco Central já criam impedimentos para a concessão de crédito quando há irregularidades ambientais e que as instituições também estabelecem protocolos para a gestão dos riscos de desmatamento ilegal e critérios para a concessão de crédito.

A Febraban cita ainda a normativa estabelecida pelo seu Conselho de Autorregulação em março de 2023 com foco em frigoríficos. Pelas regras, os bancos participantes terão de solicitar aos clientes frigoríficos presentes na Amazônia Legal e no Maranhão a implementação de sistema de rastreabilidade e monitoramento que permita demonstrar, até dezembro de 2025, que não compram gado associado ao desmatamento ilegal. A iniciativa é positiva, mas não tem força de lei. É um compromisso entre as partes e que depende da boa vontade do próprio banco. O estudo defende a necessidade de os bancos adotarem políticas de desmatamento zero, seja ele legal ou ilegal. De alguma forma, o crédito rural já tem alguns critérios, não permite financiar fazendas com áreas embargadas, mas isso depois de o ato já estar feito e apenas relacionado ao desmatamento ilegal. Nenhum tipo de desmatamento deveria ser financiado. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.