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30/Nov/2023

COP28: Brasil deverá ser o destaque nesta edição

A Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas (COP28) começa nesta quinta-feira (30/11), em Dubai, em meio a episódios recentes extremos no clima e uma retomada econômica global em geral modesta desde o choque da pandemia de Covid-19. A busca por equilibrar interesses econômicos imediatos e o meio ambiente deve continuar no cerne dos debates. Vários líderes globais estarão presentes, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um momento em que as atenções se voltam para o Brasil, que sediará a COP30 em 2025. As autoridades devem discutir a rota para tentar atingir a meta fechada no Acordo de Paris, de 2015, para limitar o aquecimento global. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não deve estar presente, com foco maior na política interna, no momento em que prepara campanha pela reeleição.

A expectativa é que o presidente da China, Xi Jinping, também não compareça, e com isso os líderes dos dois maiores emissores de poluentes no mundo estarão ausentes. O presidente russo, Vladimir Putin, deve ser outro ausente, em momento de tensões geopolíticas por causa da guerra na Ucrânia. Do Reino Unido, devem ir o primeiro-ministro, Rishi Sunak, e o rei Charles III. O presidente da França, Emmanuel Macron, também deve ir, assim como o premiê da Índia, Narendra Modi. A COP28 ocorrerá nos Emirados Árabes Unidos, sétimo produtor mundial de petróleo, com planos de expandir essa capacidade até 2030 dos atuais 3,2 milhões de barris por dia a 5,0 milhões. O presidente do evento será Sultan Ahmed al-Jaber, que entre seus cargos ocupa o de executivo-chefe da estatal petrolífera do país, Abu Dhabi National Oil Company (ADNOC), o que foi qualificado pela ativista sueca Greta Thunberg como "completamente ridículo".

A BBC reportou no dia 27 de novembro, a partir de documentos obtidos, que os Emirados Árabes pretendiam aproveitar a presença global no país para avançar na conclusão de acordos de exploração de petróleo e gás. Entre os focos para potenciais acordos estava a Colômbia. O presidente Gustavo Petro viajará a Dubai. A Hargreaves Lansdown comenta que o fato de que a COP28 é sediada por um dos maiores produtores mundiais de petróleo acrescenta uma dimensão intrigante à narrativa, já que segue incerto se este ator influente será um aliado ou um obstáculo na ambiciosa agenda para reduzir o uso de combustíveis fósseis. No ano passado, 91% das emissões globais de gás carbônico foram originadas por combustíveis fósseis, e os "lobistas do petróleo" têm participado em peso dessas reuniões, muitas vezes em número maior do que os de delegações de países, e devem estar novamente com forte presença em Dubai.

A expectativa é de bastante foco na transformação da finança climática, diante da constatação de que apenas a energia limpa precisaria de investimento anual de mais de US$ 4 trilhões para avançar até 2030. Sem mencionar a necessidade de investimento substancial em ampliar prédios verdes, transporte verde e a infraestrutura correspondente. O banco suíço Lombard Odier avalia que a definição de uma meta global de descarbonização para empresas de petróleo e gás seria um "sucesso decisivo" para a COP28. Entretanto, o grau e o nível de ambição dos agentes em relação a esse ponto ainda estão em aberto. A meta esperada deverá abranger as emissões de metano, um potente gás com efeito estufa emitido pelas infraestruturas de petróleo e gás, bem como a poluição causada pelas próprias operações das empresas de petróleo e gás. A ambição poderia ir tão longe quanto reduzir pela metade as emissões de operações de petróleo e gás da indústria, incluindo atingir emissões quase nulas de metano até 2030.

Um investimento de US$ 600 bilhões pode ser necessário para cortar essas emissões pela metade até 2030. Isso corresponde a apenas uma fração das receitas acumuladas pela indústria petrolífera em 2022, com o aumento nos preços de energia e com a crise global energética. A COP28 contará com a divulgação do primeiro Global Stocktake, o Balanço Global que relata o progresso dos países-membros no seguimento das metas do Acordo de Paris. Esse deverá ser um dos destaques do evento. Na análise do Boston Consulting Group (BCG), a pauta deste encontro parece mais focada em questões de curto prazo, na linha de mobilização de capital e de adaptação e resiliência às mudanças climáticas. O balanço, então, pelo menos servirá para deixar um "constrangimento moral" ao apontar quem está andando mais devagar e quais questões estão mais atrasadas. Isso poderá contribuir para levar os países a reavaliarem metas e chegarem à COP30 com planos mais bem estruturados para atingir seus objetivos.

No setor privado, menos de 20% das mil maiores empresas globais têm compromissos definidos e validados por metas baseadas em ciência (SBTi) para limitar o aumento na temperatura global a 1,5ºC, de acordo com uma pesquisa divulgada neste mês pelo BCG, consultoria que tem parcerias com a COP desde 2020. No Brasil, outro levantamento da empresa mostrou que houve uma aceleração na adoção de compromissos de metas de acordo com critérios técnicos, a um nível também na ordem de 20%. Esse ritmo é insuficiente. Esse é o alerta. A Eurasia também destaca que estará em foco no encontro global a primeira conclusão completa que avaliará se os atuais compromissos e ações estão em linha com as metas traçadas em Paris. Será importante manter a urgência, no momento em que países preparam metas nacionais atualizadas com contribuições determinadas sobre o tema, que devem ser submetidas antes da COP30, em 2025, a ser realizada no Brasil.

Mas, mesmo se esta COP específica não tiver resultados tangíveis em elevar a urgência, a maioria dos atores na COP sabe que os atuais compromissos precisam ser atualizados no futuro próximo, e o clima extremo entre agora e a COP30 só reforçará isso. Preocupações de curto prazo, como a inflação e o crescimento fraco, certamente complicam o quadro para a política climática. Isso ficou evidente no ano passado, na COP27 no Egito, quando o quadro econômico mais fraco e a invasão da Rússia na Ucrânia tinham mais peso, em termos de inflação elevada e choque nos preços de energia. Aquela atmosfera resultou em um conjunto relativamente mínimo de entregas da COP27. Neste ano, a situação da negociação na COP é melhor, pois a direção geral para a transição energética global fundamentalmente não mudou. A Eurasia vê ainda empresas como atores importantes para manter a ambição global na política climática, em particular quando governos mostram sinais de incerteza.

Promessas de empresas de emissão zero têm sido um fator crucial para o rumo geral da transição em várias nações, e ajudam a isolar a transição energética da volatilidade no quadro político. Nesse contexto, pode haver avanços em três frentes, na atual COP: a questão do metano, com compromissos relacionados a conter emissões do gás; compromissos de alto nível, como um potencial acordo para triplicar a capacidade global em energias renováveis até 2030, mesmo que com compromissos não vinculantes neste caso; e maior atenção às finanças climáticas, em pontos como o papel dos bancos de desenvolvimento multilateral na transição energética. Financiamento deverá ser um dos principais assuntos abordados pelo governo brasileiro neste evento, assim como o balanço global de ações dos países e a proteção às florestas, segundo o Observatório do Clima.

O Brasil deverá atuar como uma voz importante neste que é um dos assuntos mais espinhosos do momento, que é quem paga a conta. Se os países querem que todos andem mais rápido, façam mais e cortem mais emissões, o que o governo brasileiro tem dito é que é necessário recursos para isso. O Brasil assume um papel de protagonismo em política climática, a dois anos de sediar a COP30 em Belém, em 2025. Por isso, o governo brasileiro vai à conferência deste ano com uma responsabilidade maior. O Brasil vai ser um ator chave em um momento crítico. Todo o mundo está olhando para o Brasil. O País chega com um cartão de visitas bom, que é a queda de desmatamento de 22% em 2023, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.