27/Nov/2023
Um estudo encontrou, pela primeira vez, uma área com características de clima árido no Brasil. Ela fica no centro-norte da Bahia e tem pouco mais de 5,7 mil Km². Com exceção do Sul e do litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro, a transição para um clima mais seco avança a passos largos no País. Regiões semiáridas têm crescido, em média, 75 mil Km² a cada década. Segundo cientistas, isso é resultado da elevação das temperaturas, puxada pelas mudanças climáticas. A aridez é calculada pela razão entre a precipitação (chuva) e a demanda de evaporação da atmosfera (evapotranspiração). Se o índice for menor do que 1, significa que chove menos do que é demandado pela atmosfera. A depender da taxa de secura, a área pode ser classificada como árida (inferior a 0,2), semiárida (inferior a 0,5) e sub úmida seca (menos de 0,65).
Para o estudo, os pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) usaram dados diários de precipitação, temperatura máxima e mínima, radiação solar, velocidade do vento e umidade de 1961 até 2020. Para evitar distorções por mudanças em anos pontuais, eles compararam blocos de 30 anos para a pesquisa (1960 a 1990, 1970 a 2000, 1980 a 2010 e 1990 a 2020). O indicador de aridez ajuda a identificar, localizar ou delimitar regiões com variável déficit de água disponível, condição que pode afetar severamente o uso efetivo da terra para atividades como agricultura ou pecuária e que no longo prazo podem levar à desertificação. Essa última é um processo de degradação que tem relação com a ação humana de uso inadequado do solo. Como o estudo observou apenas variáveis climáticas, só é possível dizer que o avanço da aridez torna essas regiões mais suscetíveis à desertificação, mas não necessariamente que sejam um produto dela.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o principal fator que tem influenciado (expansão da aridez) é o aumento da temperatura. É o processo de aquecimento global. Os períodos secos se tornam mais frequentes quanto mais árido o clima é. E a população já encara a escassez de água, relata a Arcas, organização da rede Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) na Bahia. O norte e nordeste do Estado são regiões bastante quentes e, nos últimos anos, isso se intensificou. A falta d’água afeta o consumo humano, a agricultura e a pecuária, mas os efeitos dela são sentidos com menos intensidade nas cidades que melhor se preparam, com sistemas de reserva do recurso, como cisternas e poços artesianos. Há muitas cisternas já instaladas. As pessoas não sofrem tanto, mas têm o prejuízo com a questão das perdas dos rebanhos e mortandade das pastagens, pouca produção da caatinga, dificuldade na recuperação de um ano para o outro.
O País viveu em novembro uma onda de calor cujo alerta máximo chegou a 2,7 mil cidades. O fenômeno foi atribuído aos efeitos do El Niño, que aquece o Oceano Pacífico, e ao cenário global de mudanças climáticas e emissões de gases de efeito estufa. Neste mês, o Inpe divulgou que o número de dias em cada ano com ondas de calor no País saltou de 7 para 52 em um período de três décadas. De 1991 a 2000, as anomalias positivas de temperatura máxima não passavam de cerca de 1,5°C, detalhou o governo. Porém, atingiram 3°C em alguns locais para o período de 2011 a 2020, especialmente na Região Nordeste e proximidades. No período de referência, a média de temperatura máxima no Nordeste era de 30,7°C e sobe, gradualmente, para 31,2°C em 1991-2000, 31,6°C em 2001-2010 e 32,2°C em 2011-2020, informou o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. De forma geral, a pesquisa alerta para o aumento da aridez em todo o País, exceto no Sul e no litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde o aumento das chuvas garante que sigam na contramão do resto do Brasil.
Isso ocorre com o aumento da evapotranspiração causado pela alta de temperaturas. O avanço das áreas classificadas como semiárido, que somam 796.175 Km², ocorre a passos largos. Pelo oeste da Região Nordeste e pelo norte de Minas Gerais, elas têm crescido, em média, 75 mil Km² a cada década. Esse crescimento se deu principalmente em áreas antes do sub úmido seco. Essas, na contramão, tiveram redução média de 12 mil Km² por década. Mas, no período de 1990 a 2020, houve incremento de 20.829 Km², com novos Estados apresentando características desse clima. Ou seja, migraram do úmido para o úmido seco, diante das maiores securas e temperaturas. Antes concentradas na Região Nordeste e no norte de Minas Gerais, chegam ao Mato Grosso do Sul, na bacia do Rio Paraguai, e em uma pequena área no norte do Rio de Janeiro. Embora ações de mitigação que busquem reduzir as emissões de gases de efeito estufa e frear as mudanças climáticas sejam importantes, especialistas destacam que, frente ao avanço da aridez, a adaptação à realidade climática atual é urgente.
Essa situação de 1°C, 1,5°C (acima dos níveis pré-industriais) é praticamente irreversível. A mitigação é um esforço global e não depende só do Brasil. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), ao ritmo atual de emissões, o mundo caminha para aumento da temperatura média entre 2,5ºC e 2,9ºC neste século. O Ministério do Meio Ambiente informou que tem diálogo frequente com Cemaden e Inpe e a partir dos dados da nota técnica, intensificará o diálogo com os governos de Pernambuco e Bahia e governos municipais. O objetivo é traçar estratégias de ação conjunta. A Pasta destaca que, em setembro, relançou o projeto Redeser, para combater a desertificação em áreas suscetíveis da Caatinga, que inicialmente funcionará nos municípios de Uauá e Sento Sé, na região do São Francisco. A expectativa é de que mais de 13 mil hectares sejam geridos de forma sustentável, e o projeto deve atuar em 12 comunidades e alcançar 820 famílias. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.