21/Nov/2023
Em abril, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou que a Índia ultrapassou a China em número de habitantes. Os motivos: com as políticas chinesas que restringiam o número de filhos que um casal poderia ter, a taxa de natalidade caiu ao longo das décadas, contendo o crescimento populacional. Até 2050, a população chinesa deverá cair 8,0%, de 1,4 bilhões para 1,1 bilhões (ONU). Estima-se que a Índia, por outro lado, registrará um crescimento populacional de 0,7% ao ano, devendo chegar em 1,5 bilhão de habitantes em 2030 (ONU). As diferenças entre os países não envolvem somente a quantidade de habitantes. Esse recorte pode trazer oportunidades ao Brasil? A população chinesa é, em sua maioria, mais idosa, reflexo da política estatal do filho único, instaurada em 1950, que teve fim em 2015. A Índia tem maior número de jovens, maior taxa de fertilidade e teve menor taxa de mortalidade infantil nas últimas três décadas.
A economia ocupa a quinta posição no mundo e o crescimento populacional contribuiu para a melhora do PIB. A religião predominante é a hindu que proíbe o consumo de carne bovina, mas, diferentemente do que se pensa, a Índia não é um país vegetariano. A segunda religião com maior número de seguidores é o islamismo. Com isso, todas as carnes com certificação Halal podem ser exportadas para o país, pois existe demanda potencial. A renda per capita na Índia é de US$ 2.601,00 e na China é de US$ 13.721,00 que favorece o consumo dos chineses. Em outubro, foi divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) a perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em diferentes países, dentre eles o da China. Em 2023, houve redução de 5,0% no crescimento da população chinesa e, em 2024, espera-se retração de 4,2% no crescimento do país frente a 2023. Há incertezas quanto ao mercado de trabalho, fator que tem pesado sobre o consumo da população.
A permanência ou não desse cenário, dependerá de ações do governo chinês. A expectativa para a Índia, por outro lado, é de crescimento, que deverá ser de 6,1% a 6,3% em 2023 e deve acelerar a partir de 2025. O crescimento é puxado, principalmente, pelo setor de serviços, que contribui com cerca de 50% do PIB. Na Índia, o destaque é para a eficiência na utilização dos recursos para a produção. Além disso, o mercado de trabalho tem criado melhores oportunidades comparado à China, com a população mais jovem entrando ao mercado. Mas o desafio reside na renda per capita local. A Índia gastou com produtos importados do Brasil US$ 6,30 bilhões em 2022 e, até setembro de 2023, esse montante fora de US$ 3,44 bilhões (Secex). Os principais produtos importados pelos indianos foram óleos de origem vegetal, com destaque ao óleo de soja, açúcares e melaços e óleos de origem mineral, como o petróleo. No entanto, para abastecer o aumento populacional, a Índia deve produzir ou importar mais alimentos.
A Índia possui o maior rebanho bovino (corte e leite) do mundo. São 307,6 milhões de cabeças, quase 113,7 milhões de cabeças a mais que o rebanho brasileiro, segundo maior do mundo (USDA). A produção de carne bovina na Índia, porém, é de 4,5 milhões de toneladas em equivalente carcaça (TEC), enquanto a produção brasileira é de 10,8 milhões de TEC. Em 2019, o Brasil iniciou a exportação de carne de aves in natura para a Índia, sendo o principal mercado, no setor de carnes, que pode aumentar o faturamento brasileiro. A carne de frango é a mais consumida no país e, ao longo dos anos, com o aumento da renda per capita e da população, aumentou o consumo de carne. Em 2023, até outubro, o consumo foi de 4,4 milhões toneladas, um aumento de 53,4% em 10 anos. O consumo de carne bovina na Índia, em toneladas de equivalente-carcaça (TEC), é de 3,0 milhões de TEC, com expectativa de crescimento para 3,1 milhões de TEC em 2024.
Considerando os 4,4 milhões de TEC produzidos em 2023 e a população em 1,428 bilhão de habitantes, o consumo per capita é de 2,1 Kg/habitante/ano. Considerando que, do total de habitantes na Índia, apenas 20,0% não são de religião hindu e consomem carne bovina, o consumo em relação a esse público, seria de 10,5 Kg/habitante/ano. Mas o que podemos esperar para os próximos anos? A população indiana deverá ser de 1,5 bilhão em 2030 (ONU). Se considerarmos que o perfil religioso de lá para cá não mude, serão 14,4 milhões de habitantes a mais para consumir carne bovina, o que, considerando a média de consumo apresentada em 2023, elevaria a demanda anual de carne bovina para 3,1 milhões de TEC, abaixo da produção atual indiana (4,5 milhões de TEC). O ritmo de crescimento do país pode colaborar com o cenário, contudo, mais importante que isso, o aumento da renda será primordial para uma aceleração de demanda e possibilidade de, um dia, a Índia ser a nova China aos olhos do Brasil, ou, ao menos, mitigar a "chino dependência" nos próximos anos.
O mercado indiano tem potencial para aumentar a demanda pela carne de frango, no entanto, apesar das projeções de consumo aumentarem para 2024, não será um aumento expressivo, devido aos fatores cultural e religioso, que dificilmente serão mudados drasticamente, mesmo com um aumento da população e consequente aumento do consumo. A Índia deve continuar sendo um parceiro comercial para o Brasil, mas os principais produtos importados devem continuar sendo os óleos de origens vegetal e mineral e o açúcar. Quanto a China, segundo estimativas do USDA, a expectativa para 2024, é de que a importação de carne bovina caia de 3,6 milhões de toneladas de equivalente carcaça para 3,5 milhões de TEC, não devendo afetar o mercado brasileiro. A produção de carne bovina da China deve subir de 7,5 milhões de TEC para 7,7 milhões de tec em 2024, e o consumo doméstico também deve aumentar de 11,1 milhões de TEC para 11,2 milhões de TEC. Portanto, para 2024, o cenário deve ser de manutenção dos negócios entre Brasil x China, quanto à comercialização de carne bovina in natura. Fonte: Alcides Torres. Broadcast Agro.