20/Nov/2023
Os incêndios que consomem o Pantanal atingem, desde o dia 15 de novembro, as duas margens da Rodovia Transpantaneira, em Poconé, Mato Grosso. Em todo o bioma, as chamas já consumiram quase 1 milhão de hectares este ano, segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para se ter ideia, como a capital de São Paulo tem 152.120,2 hectares, equivaleria a mais de seis vezes esse território. A Transpantaneira cruza todo o Pantanal mato-grossense e é o único acesso por terra para fazendas, pousadas e vilas da região, no sul do Estado. As chamas, concentradas no entorno de Porto Jofre, às margens do Rio Cuiabá, na divisa com Mato Grosso do Sul, são combatidas por terra e pelo ar, com o uso de aeronaves. A região da Transpantaneira já foi atingida pelos incêndios em 2020. Além de equipes do Corpo de Bombeiros, brigadistas das fazendas e voluntários combatem as chamas.
A estrada é de terra e o risco é de o fogo atingir e destruir as pontes de madeira. De acordo com a ONG É o Bicho MT, algumas pousadas da região atingida pelas chamas são pontos estratégicos para observação de onças-pintadas, ameaçadas de extinção. Conforme o Corpo de Bombeiros, este ano está sendo considerado atípico pela falta de chuvas e pelas ondas de calor que atingem a região, favorecendo a propagação das chamas. Na semana passada, o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, esteve em Cuiabá para verificar a situação do bioma e oferecer apoio. No dia 14 de novembro, o governador Eduardo Riedel (PSDB) publicou em edição extra do Diário Oficial do Mato Grosso um decreto, determinando que, pelos próximos 90 dias, sejam suspensas as licitações para atender casos com potencial de prejuízo ou comprometimento de serviços públicos, segurança de pessoas e bens públicos ou particulares por causa dos incêndios nas cidades de Corumbá, Ladário, Miranda, Aquidauana e Porto Murtinho.
A autorização vale somente para obras e serviços que deverão ser concluídos no prazo máximo de um ano. Já foram contabilizados 816 focos de fogo desde o dia 10 de novembro nessas cidades. A onda de calor que atinge o País e a baixa umidade deixam a região em “alerta máximo”. No decreto, o governo cita temperaturas acima de 42°C em Porto Murtinho e Corumbá, segundo dados meteorológicos da Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Grande parte do entorno pantaneiro está na lista das 2.707 cidades com alerta para calor extremo pelo Instituto Nacional de Meteorologia. Em Mato Grosso do Sul, os incêndios atingem áreas de proteção ambiental do Pantanal Sul e dificultam o acesso por rodovias. Na BR-262, em Corumbá, motoristas enfrentavam corredores de fogo no dia 16 de novembro. Em alguns trechos, a fumaça encobria totalmente a estrada. A Polícia Rodoviária Federal informou que monitora a situação das rodovias no Pantanal, sinalizando os pontos críticos. O fogo avança pela região, ainda não totalmente recuperada da onda recorde de queimadas de 2020, e ameaça unidades de conservação e refúgios de onças-pintadas.
A resposta da gestão Luiz Inácio Lula da Silva à crise das queimadas na Amazônia e no Pantanal tem sido alvo de críticas. O próprio governo federal admitiu que a estrutura de combate ao fogo é insuficiente. Para o Pantanal, o Ministério do Meio Ambiente diz ter enviado mais brigadistas e promete reforço de aeronaves. O fogo cresce de maneira assustadora. Fatores, como tempestade de raios, agravaram o cenário, mas a verdade é que a estrutura de combate a incêndios é aquém do necessário. O combate a pé, a despeito da força e da coragem dos brigadistas, é humanamente impossível, afirmou o Instituto Homem Pantaneiro. O Pantanal segue como segundo plano, lamentavelmente. É preciso ter uma agenda de equilíbrio dos biomas. Um não pode ser salvo em detrimento do outro. Os dados do Lasa indicam que, de janeiro até a semana passada, o fogo consumiu uma área equivalente a 7% do Pantanal.
No total, foram queimados 950 mil hectares, três vezes mais do que no mesmo período de 2022, quando os incêndios atingiram 316 mil hectares. Apenas em novembro, já são mais de 2,3 mil focos. No dia 16 de novembro, segundo o governo estadual, 200 servidores estaduais e federais atuavam no combate ao fogo em oito frentes, em Mato Grosso do Sul. Em algumas regiões, as chamas persistem há mais de uma semana, favorecidas pela estiagem, pelo calor e por ventos fortes. No Passo da Lontra, em Piranhas, a linha de fogo avançou 50 quilômetros em cinco dias. Aeronaves do Grupo de Operações Aéreas, bombeiros e Polícia Ambiental atuam em áreas de difícil acesso. Em algumas regiões, como Paiaguás, na divisa com o Mato Grosso, os bombeiros militares só chegaram em aeronaves, pois o acesso por terra é quase impossível. O fogo deixou um rastro de aves e pequenos animais mortos, mas ainda não foi feito um levantamento da fauna atingida. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.