09/Nov/2023
Há mais de dois meses, o Amazonas sofre com a maior seca em 121 anos. O transporte fluvial foi interrompido, faltam alimentos e remédios, além de frequentes nuvens de fumaça em Manaus, causadas pelo recorde de queimadas no Estado. O governo Luiz Inácio Lula da Silva, que divulga a pauta ambiental como uma de suas bandeiras, patina para responder à crise na região, onde vivem 38 milhões de brasileiros. O próprio Ibama admitiu que a estrutura é insuficiente no combate ao fogo. As cenas dos últimos meses foram de rios que deram lugar a paisagens áridas, centenas de botos mortos e comunidades isoladas. Nas redes sociais, vídeos e mensagens documentam a rotina de poeira sobre a capital amazonense, onde os moradores são obrigados a até a retomar as máscaras para proteger a saúde.
Até agora, foram anunciados quase R$ 700 milhões para tentar solucionar a crise social e ambiental, mas a falta de soluções efetivas desencadeia cobranças por parte da oposição e do Ministério Público Federal (MPF). Também motiva críticas sobre a necessidade de preparar melhor o País para eventos climáticos extremos. Há meses, por exemplo, a comunidade científica internacional já alertava que El Niño iria agravar a seca na Região Norte do País este ano e em 2024. Isso significa também, segundo especialistas, que não adiantará apenas repetir as estratégias antidesmate que funcionaram no primeiro governo Lula. O cenário agora é de uma floresta mais degradada, ocupada pelo crime organizado.
As queimadas também serão uma ‘dor de cabeça’ na Cúpula do Clima (COP28) este mês, nos Emirados Árabes, quando o governo será cobrado a mostrar resultados após as promessas de ação ambiental feitas no início do ano. Lula não foi à região da floresta para tratar da crise. Há um mês, o vice-presidente Geraldo Alckmin visitou o Amazonas junto com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e de outros colegas de Esplanada. Lá, anunciaram R$ 627 milhões para áreas como Saúde, Defesa Civil, Meio Ambiente, Segurança e Desenvolvimento Social. No pacote, anteciparam R$ 100 milhões em emendas para o Estado, liberados após cobrança de parlamentares da região. Além da insuficiência da resposta, o colapso ambiental põe em xeque o planejamento do governo.
O Ibama diz ter aumentado em 18% o total de brigadistas: são 2.101, sendo 1.356 na Amazônia Legal, e aumentado o orçamento. Pressionado, agora o governo pretende pedir verba do Fundo Amazônia para reforçar o combate ao fogo. O problema é que o envio do projeto de reforço orçamentário é previsto para o fim do ano e cuja liberação do dinheiro depende ainda dos trâmites do Fundo Amazônia. Enquanto isso, as queimadas não dão sinal de trégua. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, há crédito pré-aprovado pelo Fundo Amazônia de R$ 35 milhões para prevenção e combate a incêndios pelo Corpo de Bombeiros local, dependendo apenas da apresentação de projeto. Cerca de R$ 5 milhões foram destinados a ações do Ibama e do ICMBio, incluindo gastos com brigadistas, aeronaves, helicópteros e resgate de fauna.
Além disso, especialistas dizem que a contratação emergencial de brigadistas e equipamentos é importante, mas é necessário planejamento estratégico para atacar as raízes do problema, sob risco de apenas enxugar gelo e ver os problemas se repetirem de forma mais grave em 2024. Toda a população brasileira (poderia ser chamada) para ser brigadista e ainda assim não seria suficiente para combater incêndios na Amazônia. A área é muito grande, com lugares de difícil acesso, um trabalho árduo, afirma a Universidade Oxford (Reino Unido). O ano é de reestruturação dos órgãos ambientais, que estavam extremamente sucateados e o número de servidores diminuiu. Há uma herança maldita na área, mas havia coisas que poderiam ser feitas.
Entre essas ações, está o uso de informações de pesquisas e dados de monitoramento remoto para antecipar territórios mais suscetíveis a queimadas. O Ibama fala, por exemplo, que 3/4 do fogo tem origem em áreas já desmatadas. Após um evento no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em março, um grupo de pesquisadores ligados a diferentes instituições, como Oxford, Embrapa e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), apresentou documento com indicações para proteger florestas degradadas. Entre as medidas apontadas estão: 1) Criar um fundo emergencial para anos de secas extremas 2) Formalizar um grupo técnico-científico para auxiliar o Ministério do Meio Ambiente 3) Definir territórios prioritários e 4) Aprimorar análises de áreas degradadas por incêndios. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.