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24/Oct/2023

Transição energética: Entrevista Al Ghais da OPEP

Os países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) estão investindo em energia renovável, inclusive hidrogênio, classificado por especialistas como o substituto do petróleo a partir de 2050. Mas isso não quer dizer que estão deixando a commodity de lado, afirma o secretário-geral do grupo, Haitham Al Ghais, que tem presença garantida na COP28, no final do ano, nos Emirados Árabes.

Al Ghais entende que existem várias transições energéticas e não apenas uma, com cada país encontrando o seu caminho. Mas, a mensagem de não investir em petróleo, alerta, é equivocada. Os petrodólares são fundamentais para ajudar a financiar a transição, ao mesmo tempo em que os produtores do combustível fóssil devem buscar a redução das emissões. “É muito importante nos lembrarmos que o acordo de Paris não é sobre escolher que tipo de energia nós temos que usar, o assunto é reduzir as emissões”, afirmou. Segue a entrevista:

Petroleiras do mundo inteiro anunciaram movimentos de transição energética e recuaram na sua intensidade. Como vê isso? Há transição energética nos países da Opep?

Haitham Al Ghais: Especialmente na União Europeia, muitos países que tinham metas de transição para 2030 as postergaram para 2035. E alguns países já disseram que nem as metas para 2045 serão possíveis. Isso porque todo mundo tem que olhar essa transição energética com equilíbrio. Nós na Opep sempre dizemos que uma única forma de energia não vai sustentar o desenvolvimento econômico. O mundo vai precisar de 23% a mais de energia daqui até 2045. De todas as formas de energia, não renováveis, não só petróleo, não só gás. Porque a população mundial vai crescer. Agora somos 8 bilhões de pessoas no mundo e devemos chegar a 9,5 bilhões em 2045. A economia mundial vai dobrar de tamanho daqui até 2045. Daqui até 2030, 500 milhões de habitantes no mundo vão se mudar de áreas rurais para a cidade. São quase 50 cidades do Rio de Janeiro novas no mundo.

Mas como atender esse crescimento?

Haitham Al Ghais: Tudo isso vai precisar de muito mais energia. Por isso na Opep sempre falamos que temos de continuar investindo no petróleo. Tudo que nos cerca é feito de petróleo. Então abandonar o petróleo assim em uma década ou duas não é possível. Hoje, 30% da matriz energética é petróleo, assim como há 30 anos.

Como o senhor vê o potencial do hidrogênio verde, um combustível que está sendo planejado com o substituto do petróleo no futuro?

Haitham Al Ghais: Entre nossos países membros há muitos que estão investindo em hidrogênio, na tecnologia envolvida, e em outras fontes de energia renovável. Pessoalmente eu não duvido do hidrogênio verde. Nós falamos sempre em transições energéticas, no plural. Porque cada país tem o próprio caminho para alcançar e chegar ao mesmo objetivo, que é cuidar do meio ambiente. Não pode ter um caminho para todos os países. O Brasil tem um caminho próprio, meu país, Kuwait, tem um caminho próprio, mas o objetivo para nós todos é a mesma coisa. Por isso, nós sempre dizemos que somos países exportadores de petróleo, mas também somos países investidores em energias renováveis.

Qual tipo de investimento está acontecendo nos países produtores?

Haitham Al Ghais: Por exemplo, os Emirados Árabes Unidos, onde vai ter a COP28, têm uma companhia chamada Masdar, que investe só em energia renovável e em 40 países no mundo. Não investe dentro dos Emirados, só em outros países. Nós na Opep, temos o fundo Ofid (Opep for Internacional Development), criado em 1976, que só investe em países fora da Opep também. Até hoje temos investidos mais de US$ 25 bilhões em países que ainda não se desenvolvem na área de saúde, educação, infraestrutura e energia renovável.

Sobre transição, como a Opep avalia a corrida pela energia renovável?

Haitham Al Ghais: Quando a Agência Internacional de Energia traça cenários, às vezes passa a mensagem de que o mundo vai parar de investir em óleo e gás. Isso é muito perigoso, porque se o mundo não tiver bastante investimento, vai ter problema com o fornecimento no futuro, enquanto a demanda vai continuar subindo. A Opep sempre diz que essas mensagens são muito perigosas e que temos de continuar a investir. Nosso relatório diz que até o ano 2045, a indústria de petróleo vai precisar de US$ 14 trilhões, então são US$ 610 bilhões de dólares por ano em produção, refino, petroquímica, logística, tudo.

Como acontece a transição energética em países da Opep?

Haitham Al Ghais: Está correndo muito bem, temos muitos países membros que estão investindo bilhões de dólares na área de energia renovável, por exemplo, no hidrogênio. Eu mencionei a Masdar, mas tem uma companhia na Arábia Saudita chamada Aqua Power, e o meu país (Kuwait) está desenvolvendo sua própria indústria solar. Vamos transformar o setor de petróleo inteiro, e a eletricidade vai ser de origem solar no Kuwait até 2030. Também estamos investindo no petróleo, e em tecnologias para reduzir as emissões. É muito importante nos lembrarmos que o acordo de Paris não é sobre escolher que tipo de energia nós temos que usar, o assunto é reduzir a emissões.

Como vê a Petrobras no cenário internacional?

Haitham Al Ghais: Eu conheço a Petrobras muito bem, porque há mais de 32 anos eu comecei a trabalhar com petróleo e vendia petróleo do Kuwait ao Brasil. Então eu conheço muito o pessoal da Petrobras, como a companhia funciona. Vocês têm que ter orgulho de ter uma companhia com a Petrobras. É uma companhia fascinante. Com o tamanho do País, com a população desse País, a gente chega ao posto de gasolina abastece o carro vai embora, nem pensa. Vai ao aeroporto, pega seu voo e vai embora. Quem faz tudo isso aqui? As pessoas não pensam nessas coisas. É importante lembrar a importância de ter uma companhia sólida como a Petrobras. Isso permite a você nem pensar se amanhã vai ter gasolina no posto de gasolina ou não. Porque é perto de casa, é só pegar.

E o Brasil no cenário do petróleo? Como o senhor imagina o país em alguns anos?

Haitham Al Ghais: O Brasil tem muito potencial, vai chegar a uma produção de 5 milhões de barris de óleo equivalente por dia em 2030. Isso não é petróleo bruto, é total líquido. Então, 5,3 milhões de barris por dia é mais do que muitos países membros da Opep. A produção de petróleo fora da Opep vai ser concentrada em três países: Estados Unidos, Guiana, e Brasil, com crescimento até 2030 e, pouco depois, vai chegar a um platô de estabilidade.

Mas com a transição energética a demanda por petróleo não deve cair?

Haitham Al Ghais: A demanda vai continuar subindo e a Opep vai ter que fornecer mais. Por isso, exatamente, a razão de nós sempre continuarmos investindo em mais produção. Por exemplo, a Arábia Saudita está investindo para chegar a 13 milhões de barris por dia de capacidade; os Emirados a 5 milhões; o Kuwait, meu país, de 3 agora para 4 milhões, e vários outros membros estão todos investindo, porque nós sabemos que no futuro a demanda para o petróleo da Opep vai subir de 32 milhões de barris por dia agora para 46 milhões de barris por dia em 2045.

Fonte: Broadcast Agro.