20/Oct/2023
É como um efeito dominó. A seca forte vem, encontra a floresta já desmatada, a deixa mais suscetível ao fogo, diminui o processo de evapotranspiração responsável por quase 50% da água sobre a Amazônia, reduz as chuvas que se deslocariam para outros pontos e fragiliza ainda mais o bioma. Em um processo cada vez mais frequente, a estiagem atual é a quarta que atinge a região com intensidade desde o ano 2000, as mudanças climáticas trazem um novo período semelhante, novos incêndios surgem, a pluviosidade se altera, a recomposição da vegetação é afetada e a resistência da floresta vai sendo minada.
Os efeitos da atual falta de chuva, impulsionados pelo fenômeno El Niño, ainda vão permanecer na Floresta Amazônica por muito tempo. Para pesquisadores, a ação humana, as mudanças climáticas e os eventos extremos colocam a resiliência do bioma em xeque. Segundo pesquisa publicada na revista científica PNAS (The Proceedings of the National Academy of Sciences), as secas recorrentes aumentam o risco de eventos em cascata ao ultrapassar as capacidades adaptativas da floresta. Conforme o estudo, as regiões sul e sudeste amazônicas, as mais afetadas pela ação humana, são também as que sofrerão os maiores impactos e riscos de savanização.
Segundo a Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, em 15 anos foram três secas. Era esperado que ocorresse uma assim a cada 100 anos. A floresta amazônica recicla a umidade que vem do oceano e produz até 50% das suas próprias chuvas. Todo o bioma está interligado nesse sistema, o que significa que os danos numa região se espalham para as áreas vizinhas. Segundo a pesquisa, que desenvolveu um modelo matemático, esse sistema será fortemente afetado por secas mais frequentes, conforme as previsões de tendências do aquecimento global, que já altera de forma quantificável os padrões de precipitação e a duração da estação seca.
A estimativa do estudo é que os danos globais causados por um evento extremo como o atual possam aumentar em até um terço. A chuva no sul da floresta depende do que acontece no norte. Se for perdido um pedaço da Amazônia, por desmatamento ou mudanças climáticas, isso irá afetar outras regiões do bioma. Antes da seca de 2023, o bioma foi atingido pelas secas de 2005, 2010 e 2015/2016. Em 2020, a região sul da floresta também sofreu com falta de chuva, assim como o Pantanal.
Assim, o que se vê neste ano na floresta não pode ser dissociado do que veio antes. Se a superfície da cobertura de água no estado do Amazonas atingiu sua menor extensão desde 2018 e se o Rio Negro atingiu seu menor nível na história, de 13,49 metros, em Manaus, as notícias sobre queimadas e recordes sucessivos de desmatamento que explodiram e se acumularam nos últimos anos também fazem parte do mesmo roteiro de acontecimentos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.