03/Oct/2023
Depois da explosão das fintechs, que conseguiram constituir um mercado de empresas multibilionárias em valor de mercado, a vez está chegando para as agtech (ou agritechs), as startups voltadas para o agronegócio. Os investimentos nessas empresas dispararam nos últimos três anos, atingindo um novo patamar, mesmo para um período de juros altos e de crédito escasso na economia. Segundo dados da consultoria em inovação Distrito, até 2019, nenhum ano havia registrado mais de US$ 20 milhões (por volta de R$ 100 milhões) em investimentos em agtechs. A partir da pandemia, o mercado mudou de tamanho, superando os US$ 70 milhões (R$ 352,3 milhões) por dois anos seguidos, para culminar nos US$ 273 milhões (R$ 1,3 bilhão) registrados em 74 investimentos feitos, em 2022, uma alta de 1.265% no período. Para este ano, que permanece afetado pela aversão ao risco dos investidores, a expectativa nas agtechs é de que haja menos investimentos frente a 2022, um ano também difícil para o ecossistema das startups, mas ainda assim se mantendo no patamar superior alcançado desde 2020.
Até o fim de setembro, foram realizados 18 negócios, que movimentaram US$ 47 milhões (R$ 236,5 milhões). Há um amadurecimento do segmento no Brasil. Cresceu o número de rodadas de investimentos em geral, mas também nas etapas de investimentos mais avançados, que movimentam mais recursos. A queda de 2023 não configura algo alarmante. Aconteceu um crescimento consistente da área. Um dos negócios recentes que chamou a atenção foi a compra, no último mês, da Biotrop, de Vinhedo (SP), uma agtech focada em desenvolvimento de insumos biológicos para o plantio. A aquisição foi feita pelo grupo belga Biobest. O negócio avaliou a empresa brasileira em aproximadamente R$ 2,8 bilhões. A Biotrop pode faturar este ano R$ 700 milhões. No ano passado, a plataforma de informações Agrotools fechou captação de R$ 107 milhões, e foi avaliada em quase R$ 500 milhões, em aporte liderado pelo Inovabra, fundo do Bradesco, e da gestora de recursos KPTL.
A empresa chamou a atenção por ter criado o que considera o maior banco de dados de agronegócios do mundo, que permite monitorar riscos e a cadeia de fornecimento, e garantir que práticas de sustentabilidade, no conceito ESG, estejam sendo seguidas. Para o agro ser 100% ESG, ele precisará ser 100% digital, diz a consultoria PwC. Existem hoje no País 598 agtechs ativas. Hoje, o Brasil responde por 76,5% das startups do tipo da América Latina. A contabilização da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) soma mais de 1 mil empresas locais, mas ela contabiliza também as agtechs que estão inativas e as foodtechs (companhias que desenvolvem carne vegana e outros alimentos alternativos). O segmento mais representativo das empresas (46,8%) se dedica a oferecer tecnologias para a produção, como inovações para aplicações no plantio e o uso de drones. Ele é seguido por agtechs voltadas à gestão das fazendas (25,7%). No entanto, alguns subsegmentos vêm chamando bastante atenção e são vistos como bastante promissores. Um deles é o de biotechs, de tecnologias biológicas, como as da Biotrop.
Outro é o das agfintechs. Ele é composto por empresas como a Bart, que são um misto de fintechs e agtechs e que desenvolvem soluções financeiras, em especial, formas de financiamento para crédito agrícola. Esse subsegmento ainda não é tão representativo em número de empresas, mas movimenta quantias elevadas, surfando no amadurecimento já conquistado pelas fintechs. O florescimento das agtechs obedece a uma necessidade global pelo aumento de produtividade no campo e para que isso aconteça de forma sustentável e sem a ampliação do espaço de produção, com menor impacto para o meio ambiente. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) estima que a produção global de alimentos precisa crescer 60% até 2050 para abastecer os 9 bilhões de pessoas que viverão no planeta. A demanda deve ser acompanhada por outros desafios para os agricultores, como o aumento da competição e as incertezas e riscos trazidos pelas mudanças climáticas. Isso tudo, mais o aumento do peso do setor agro no PIB, tem ajudado as agtechs a tirarem um atraso histórico de uso de tecnologias no campo.
Elas estão vencendo resistências de empresários mais tradicionalistas e avessos a grandes revoluções tecnológicas. Segundo o SP Ventures, um fundo com R$ 500 milhões sob gestão para investir em agtechs e foodtechs, o agro demorou um pouco para chegar ao estágio atual. A conectividade de internet no campo não era boa, houve uma demora para as soluções atingirem uma maturidade maior, mas ela chegou. Entre os investidores do fundo estão grandes empresas como Syngenta, Basf, Bunge, Yara, Mosaic e Banco do Brasil. Quase metade das agtechs está em São Paulo, com 41% das empresas, de acordo com a Distrito. Logo em seguida vem os estados de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, com 11,8% cada. São 75 agtechs em cada um deles. Entre os polos mais ativos de criação dessas empresas, estão os de Piracicaba (SP), onde fica a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), de São José dos Campos (SP) e Londrina (PR). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.