02/Oct/2023
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou, na sexta-feira (29/09), sua projeção para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2023, de uma alta de 2,3% para avanço de 3,3% em 2023. Para 2024, a previsão foi mantida em um crescimento de 2,0%. Os dados oficiais das Contas Nacionais são calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Internamente, as políticas adotadas pelo governo de transferência de renda, valorização do salário-mínimo e demais programas sociais, permitem a sustentação da renda das famílias. O aumento do poder de compra da renda das famílias dinamizou o consumo e aquisição de serviços. A expansão da atividade de serviços, um setor altamente empregador, interage com o bom desempenho dos indicadores de mercado de trabalho, com aumentos na população ocupada e na massa salarial real.
Além disso, o orçamento familiar, antes bastante pressionado pelos níveis de endividamento e pelo encarecimento do crédito, tem tido algum alívio proveniente da descompressão das taxas de inflação e de medidas de renegociação de dívidas das famílias de baixa renda através de programas como o Desenrola Brasil. A política fiscal também permite a expansão dos serviços públicos essenciais captados na expansão do consumo do governo. Conforme as projeções atualizadas, pela ótica da demanda, o consumo das famílias aumentaria 2,9% neste ano e 2,0% no próximo. O consumo do governo subiria 1,8% em 2023, e teria elevação de 1,4% em 2024. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida dos investimentos no PIB), recuaria 2,1% neste ano, mas a projeção é de alta de 3,0% em 2024. O componente da demanda interna que vai na contramão desse movimento são os investimentos produtivos: a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), especialmente em máquinas e equipamentos, que pressionou a demanda interna para baixo.
Os investimentos em construção, no entanto, continuam em trajetória de alta, mesmo com a elevada taxa de juros no crédito imobiliário. O setor é altamente empregador e tem papel protagonista na expansão da ocupação formal do ano, depois do setor de serviços. Quanto ao setor externo, o Ipea espera alta de 8,5% no volume exportado em 2023, seguido de avanço de 4,1% em 2024. O volume importado aumentaria 0,5% este ano e subiria 4,3% no próximo. A Carta de Conjuntura menciona o impacto favorável da reabertura econômica da China no primeiro semestre de 2023 e o dinamismo maior que o esperado na economia dos Estados Unidos. O segundo aspecto relevante refere-se ao aumento da participação de mercado dos produtores brasileiros no comércio internacional de soja e petróleo, antes atendido por outros concorrentes. Esse ganho de novos mercados faz com que a taxa de crescimento das exportações brasileiras seja superior à taxa de crescimento do comércio internacional.
A produção agropecuária brasileira, em especial na Região Centro-Oeste, vem se beneficiando do clima desfavorável para as colheitas de grãos na Argentina e nos Estados Unidos. Sob a ótica da oferta, o PIB agropecuário cresceria 15,5% em 2023, seguido de aumento de 0,4% em 2024. O Brasil tem aproveitado o cenário favorável não apenas para manter a liderança no mercado internacional, mas ainda ampliar a participação nos embarques de commodities que até então tinham menos peso na pauta de exportação. A projeção para o crescimento do valor adicionado da agropecuária foi revista para cima, de 13,2% para 15,5% em 2023, devido ao desempenho mais positivo das produções de soja, milho, cana-de-açúcar, algodão, bovinos e aves. O PIB da indústria avançaria 1,7% em 2023 e 2,0% em 2024. Os serviços teriam expansão de 2,5% este ano e 2,1% no ano que vem.
Quanto ao desempenho da arrecadação tributária do governo central, os o aparecimento de um déficit primário é reflexo de fatores excepcionais ocorridos em 2022 que não se repetem em 2023, sendo o principal deles a própria dinâmica dos preços das commodities nos mercados internacionais, em especial do petróleo, e seu efeito sobre a base de arrecadação tributária da economia brasileira. Em relação à política monetária, a taxa básica de juros (Selic) deve encerrar o ano de 2023 em 11,75% ao ano, chegando a 9,0% ao ano ao final de 2024. No front fiscal, a hipótese é que a melhora gradual do resultado primário do setor público a partir de 2024 permita manter sob controle o grau de incerteza associado à evolução futura das contas públicas, contribuindo, assim, para um ambiente macroeconômico estável, pelo menos no curto prazo. Aliado a certa estabilidade do ambiente externo e dos preços de commodities, nosso cenário pressupõe também uma taxa de câmbio relativamente estável no horizonte de projeção.
As previsões consideram uma cotação de R$ 5,00 para o dólar norte-americano ao fim de 2023 e de 2024. Entre os pontos de atenção sobre o desempenho da economia brasileira estão a estagnação na indústria de transformação, o alto custo de financiamento de capital de giro das empresas e aumento da inadimplência de pessoas jurídicas. Por outro lado, o mau desempenho dos investimentos poderia ser superado caso entrem em vigor as medidas anunciadas pelo governo federal, do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Tais projeções podem ser frustradas por conta de externalidades causadas pelas incertezas quanto ao rumo da política monetária dos países centrais, especialmente nos Estados Unidos, a fatores climáticos, a instabilidades geopolíticas e ao quadro interno desafiador de estagnação dos investimentos em máquinas e equipamentos e da indústria da transformação doméstica. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.