26/Sep/2023
A queda de 48% do desmatamento no Brasil nos últimos oito meses, destacada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da Assembleia Geral da ONU na semana passada, em Nova York, foi várias vezes citada e elogiada pelo embaixador e assessor sênior do enviado especial do presidente Joe Biden para o Clima, John Kerry, David Thorne, durante entrevista a jornalistas brasileiros na manhã desta segunda-feira (25/09) em São Paulo (SP). Quando indagado sobre a possibilidade de Estados Unidos ou outros países seguirem a postura da comunidade europeia, que aprovou neste ano o chamado Green Deal (lei que coíbe importações de produtos associados a desmatamento, legal ou ilegal), que vem monopolizando as atenções de entidades do agronegócio brasileiro, ele respondeu não acreditar que os Estados Unidos irão pelo caminho de dizer ao Brasil "o que fazer".
O Brasil terá de encontrar o seu caminho para a solução, e os Estados Unidos podem encontrar formas de ajudar a alcançar outros caminhos. É óbvio que os Estados Unidos estão interessados em ver o desmatamento diminuir, mas não dirá ao Brasil o que fazer, afirmou Thorne. Os Estados Unidos querem ajudar o Brasil a encontrar alternativas ao desmatamento, que sejam lucrativas para a economia, e isso pode mudar o foco da forma como as coisas são feitas agora para as grandes oportunidades que podem surgir na outra direção. Ele não quis comentar sobre o direito, previsto no Código Florestal Brasileiro, que proprietários de terras têm de desmatar legalmente determinado percentual de sua propriedade, de acordo com o bioma em que esteja inserida. Thorne lidera a missão Green Tech, cujo objetivo, além de promover a cooperação entre os dois países, é apoiar esforços do Brasil para se adaptar às mudanças climáticas, descarbonizar a economia e avançar em atividades econômicas sustentáveis.
A comitiva é formada por oficiais de alto escalão do governo norte-americano, líderes de organizações não governamentais (ONGs) e de 42 empresas, sendo 15 de origem norte-americana, entre elas Bayer, Cargill, John Deere, Merck Animal Health e Sylvamo. A ideia é apoiar o Brasil em seus contínuos esforços de combate ao desmatamento, uma conquista incrível até agora. Os Estados Unidos parabenizaram o País por ter conseguido tudo isso recentemente. Outras missões "Green Tech", prévias à Conferência das Partes (COP) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), a próxima COP, a 28, ocorrerá em novembro em Dubai, resultaram em acordos e há expectativa que a Green Tech deste ano também termine com alguns resultados concretos. Conseguir fazer algo específico é o objetivo a ser alcançado, ao menos três ou quatro diferentes possibilidades, para ser realista, comentou.
A delegação liderada por Thorne terá uma série de encontros em São Paulo (SP) até esta terça-feira (26/09) e no Rio de Janeiro (RJ) na quarta-feira (27/09) e quinta-feira (28/09). Nesta segunda-feira (25/09), ocorreu um encontro com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em São Paulo. É uma missão para tratar especificamente e amplamente como os Estados Unidos podem apoiar a transição verde. Estas viagens funcionam como eventos de força de ação, porque as pessoas não necessariamente têm a chance de se encontrar com tantas outras lideranças e oficiais de governo. Thorne afirma estar "cautelosamente otimista" sobre medidas que vêm sendo adotadas no mundo para promover a transição energética de fontes fósseis para outras limpas e renováveis e limitar o aquecimento global no longo prazo.
O embaixador lembrou que a Agência Internacional de Energia (IEA) informou recentemente que é preciso investir em torno de US$ 4 trilhões anualmente na transição da matriz energética para, até 2050, o planeta se tornar "net zero" (compensar suas emissões de gases de efeito estufa). Citou, em seguida, que no ano passado o investimento ficou perto de US$ 2 trilhões. Não é impossível chegar lá, mas realmente depende de incentivos do governo e do engajamento do setor privado; também de algumas 'varas' (punições), não apenas 'cenouras' (incentivos), mas funciona melhor com cenouras", disse o embaixador, em referência à expressão "carrot and stick", usada para falar do uso de incentivos ou punições a fim de alcançar um objetivo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.