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22/Sep/2023

Brasil se prepara para lançamento de green bonds

O Tesouro Nacional monitora o mercado internacional com atenção para lançar a sua primeira emissão de dívida externa com critérios sustentáveis, os chamados 'green bonds'. A expectativa é de que a operação ocorra nas próximas semanas e que ajude a pavimentar um caminho para financiar a agenda verde do País tanto da ótica pública quanto privada. Além do Tesouro, a Aegea, empresa de saneamento, também prepara uma emissão de green bonds no valor de US$ 500 milhões. Ao longo desta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teve uma agenda bastante intensa em Nova York, nos Estados Unidos, para apresentar o Plano de Transformação Ecológica do governo a investidores estrangeiros, empresários de multinacionais e representantes de organismos multilaterais. Um dos principais pontos foi exatamente a primeira emissão de dívida externa do governo brasileiro com critérios sustentáveis em sua agenda paralela à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cidade, aproveitando a semana do clima em Nova York, um dos maiores eventos do mundo com essa temática.

A operação já foi apresentada a investidores dos Estados Unidos e da Europa e, agora, depende de uma janela de oportunidade para ser levada a mercado. Foram 36 reuniões e que atraíram cerca de 60 investidores. A decisão tanto do momento quanto do volume a ser captado depende do Tesouro deve ocorrer nas próximas semanas. O valor da operação é estimado em cerca de US$ 2 bilhões, recursos que vão turbinar o Fundo Clima. A cifra final, contudo, depende do apetite dos investidores, bem como do custo para o Tesouro emitir. O ministro Fazenda afirmou não acredito que o Brasil vai ter qualquer dificuldade na colocação desses títulos que vai abastecer o Fundo Clima e isso vai alavancar investimentos verdes no Brasil. A afirmação foi feita após reunião com investidores e empresários em Nova York. Segundo ele, a reação dos investidores à futura emissão de dívida do Brasil foi a melhor possível, sobretudo por conta dos critérios sustentáveis atrelados.

A mudança da visão do Brasil no exterior pode impulsionar a demanda pelos títulos verdes que serão lançados e, em sendo bem-sucedidos, beneficiar também empresas interessadas em captar recursos em troca de compromissos sustentáveis. Segundo a Shein para a América Latina, o Brasil agora está aberto para negócios verdes. E, de acordo com Haddad, a primeira emissão do Tesouro é só o começo. Considerando o Plano de Transição Ecológica do governo que tem a ambição de catapultar a geração de energia limpa no País, o potencial é de dobrar na próxima década, o hidrogênio verde, e ainda a produção de produtos verdes como, por exemplo, a semente de cana-de-açúcar, um sonho antigo dos canavieiros brasileiros para facilitar a plantação da cana-de-açúcar. Do ponto de vista do Plano de Transformação Ecológica, a emissão de green bonds é um recurso inicial muito pequeno. O Brasil tem condição de captar muitos recursos no exterior, pios tem a melhor matriz energética do mundo, uma das mais ricas do mundo, e mais importante, tem condição de dobrar a produção de energia limpa em um prazo inferior a 10 anos.

A estreia do Tesouro no mercado de green bonds ocorre em meio ao salto desta fonte de recursos nos últimos anos. Para 2023, a expectativa é de que as emissões alcancem o patamar anual inédito de US$ 1 trilhão, segundo o Bank of America (BofA). O número não é o suficiente para suportar as necessidades verdes e de transição energética ao redor do mundo, mas era impensável há alguns anos. Grandes empresas brasileiras já se valem desse mercado para captar recursos em troca de rigor quanto à pauta ESG (compromissos ambientais, sociais e de governança). Suzano e Natura já emitiram green bonds e mais nomes devem acessar esse mercado ainda neste ano. Um deles é a Aegea, que prepara uma nova emissão de dívida verde no valor de cerca de US$ 500 milhões. A emissão do Tesouro também está movimentando os bastidores de Wall Street e da Faria Lima.

Bancos se articulam para tentar entrar no sindicato de assessores financeiros e esse teria sido um dos temas que foram levados a Haddad durante a sua passagem em Nova York. Por ora, os bancos escalados para assessorarem a emissão do Tesouro são o norte-americano JPMorgan, o Santander e o Itaú Unibanco. A Europa, o maior mercado de green bonds do mundo, também está debruçada em impulsionar ainda mais este segmento, compartilhando a sua experiência com outros países. Na visão da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, é uma das ferramentas mais eficazes para financiar projetos sustentáveis. US$ 1 bilhão investidos podem alavancar até US$ 15, US$ 20 bilhões. Nos últimos anos, os Estados Unidos têm ampliado o seu mercado de green bonds. Ainda que em menor escala, a América Latina também começa a ganhar mais espaço.

O Brasil não é o primeiro país da América Latina a fazer isso. Chile e Uruguai já fizeram. Segundo a Universidade de Columbia, o Chile é um dos mais ativos. O Brasil já deveria ter estreado no mercado de green bonds há tempos. Mas, apesar do potencial do País e dos avanços recentes, o Brasil enfrenta obstáculos para ampliar adesão e o acesso a instrumentos para financiar a descarbonização. É o que mostra pesquisa da Deloitte para a AYA Earth Partners, com foco na bioeconomia, divulgada durante a semana do clima em Nova York. Sete em cada dez executivos em cargos de liderança dizem não ter acesso a mecanismos de financiamento verde. Do público ouvido, 10% sequer sabe onde encontrá-los. A pesquisa ouviu mais de 100 executivos em posições de liderança em bancos e fundos que compram participações em empresas no País. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.