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19/Sep/2023

Brasil: posição na nova ordem do comércio mundial

A janela aberta no comércio internacional, movida principalmente pela disputa entre Estados Unidos e China, está modificando relações mercantis entre países com uma amplitude que há muito não se via. O distanciamento das duas potências movimenta o eixo do comércio exterior com base em três pilares: proximidade, relações diplomáticas e negociais e produtividade. O Brasil se vale de safras recordes e da excelência do setor do agronegócio para expandir suas vendas externas de commodities agrícolas, liderando o mercado de soja, milho e algodão. Mas, assiste com inexplicável passividade às mudanças impostas pela nova ordem econômica que se desenha, perdendo ou, quando muito, apenas mantendo posição em manufaturados e produtos de maior valor agregado. Desde os anos 2000, o comércio de manufaturados brasileiros vem caindo paulatinamente. No início daquela década, representava 59% da balança comercial; no ano passado, recuou para 29%. É como cair de um precipício.

Outro exemplo a ilustrar a perda de competitividade, desta vez em valores: em 2005, a balança de manufaturados brasileira registrou superávit de US$ 7,5 bilhões; sucessivas quedas levaram a um déficit de US$ 128 bilhões em 2022. O comércio agrícola avança, mas fica à mercê da flutuação de preços internacionais, e aqui vale ressaltar que o Brasil, apesar de grande produtor e exportador, não tem a menor influência na formação de preço dessas commodities. Ou seja, não há como os exportadores brasileiros definirem preços de comercialização. Apenas seguem o que ditam os preços internacionais. A indústria carrega o peso da baixa produtividade e da pífia competitividade, problemas que afinal podem ser atenuados pela reforma tributária, com redução gradual do altíssimo “custo Brasil”. Apesar da tramitação mais lenta do que era previsto e das modificações que o projeto tem sofrido no Congresso, a simplificação tributária proposta na reforma tende a facilitar a atuação brasileira no comércio externo.

A complexidade da estrutura atual dificulta, por exemplo, o funcionamento do Reintegra, benefício fiscal destinado a retornar aos exportadores os resíduos tributários de PIS, Cofins, Imposto de Renda e CPMF remanescentes da cadeia de produção dos produtos. O benefício existe, mas não funciona de fato. Além do mais, o decreto que regulamentou a lei limitou a alíquota de restituição a 0,1% da receita com exportação. O resultado é que a indústria brasileira não vende somente seus produtos, exporta também tributos e fica em desvantagem na competição internacional. O governo precisa voltar sua atenção às mudanças em curso no mundo todo e promover a abertura comercial do País para não perder a oportunidade de participar da onda que mudará a correlação de forças global. Guinadas no comércio mundial são movidas a circunstâncias como guerras, disputa entre potências e pandemias. A Covid-19, por exemplo, promoveu um êxodo de empresas que haviam montado bases de produção na China em busca de mão de obra barata.

Em 2018, o governo dos Estados Unidos iniciou a guerra comercial com a China, que permanece até hoje, tendo como pano de fundo a disputa pela liderança econômica mundial. O tempo que esta janela permanecerá aberta é imprevisível, mas já arrastou negociações comerciais para países próximos (nearshoring) e promoveu o retorno de fabricantes às suas bases (reshoring). O México, vizinho dos Estados Unidos, com quem divide, junto com o Canadá, um acordo comercial, é um dos países que mais têm tirado proveito da nova ordem na parcela Ocidental. Ásia, Malásia, Tailândia e Indonésia também surfam a nova onda. Enquanto isso, o Brasil, que tem na China e nos Estados Unidos seus principais parceiros comerciais, assiste inerte a todo esse movimento. Em 1980, com participação de 0,99% no comércio mundial, o Brasil estava à frente de países como China, Coreia e México, que detinham, cada um, 0,88%. A China hoje é a primeira do ranking, a Coreia está em 6º e o México, em 13º. O Brasil caiu para a 26ª posição. Está na hora de acordar. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.