15/Sep/2023
O Brasil é outro país sob os olhos internacionais no que tange à agenda verde e climática no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A visão dos investidores estrangeiros, passados nove meses do início de sua gestão, deixou de ser "catastrófica" e está "radicalmente melhor" a despeito de obstáculos políticos e posições polêmicas do petista no exterior. A direção é a correta e pode beneficiar o País em sua primeira emissão de dívida externa com pegada verde, mas falta um plano de ação para chancelar os compromissos brasileiros com o meio ambiente. Enquanto investidores locais e estrangeiros cobram mais ações do Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo pretende anunciar o seu plano de transição ecológica na semana que vem, durante viagem aos Estados Unidos. A comitiva brasileira desembarca em Nova York para participar da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU).
Para a consultoria Eurasia, essa mudança de postura do Brasil é essencial em meio a um mundo em mudanças e que faz com que muito dinheiro procure novos locais para aportar. No entanto, cada vez mais, os investidores estão levando em conta critérios "verdes" e a certeza de que não haverá desmatamento, um dos pontos mais críticos para o Brasil. Há muito capital que vai mudar de local e, ao olhar para algumas das oportunidades nos mercados emergentes, o Brasil tem vantagens, é um país onde se pode investir. Prova do maior interesse estrangeiro no Brasil foi o aumento de presença internacional durante a segunda edição do 'Brazil Climate Summit', evento organizado por alunos e ex-alunos da Universidade de Columbia, às vésperas da 'Clima Week NY', o maior evento com a temática clima do mundo e que ocorre na próxima semana. Cerca de 40% do público presente eram investidores estrangeiros em uma plateia que dobrou de tamanho, para em torno de 600 pessoas, que circularam nos dois dias.
Segundo a Maraé Investimentos, se o Brasil não fizer um esforço como país para se apresentar para o mundo como um hub de soluções, não vai conseguir atrair esse capital e gerar um ciclo positivo de desenvolvimento. Gestores brasileiros também reconhecem a melhora da visão estrangeira sobre o Brasil. Para o ex-presidente do Banco Central e fundador da gestora Gávea Investimentos, Arminio Fraga, o Brasil melhorou a sua imagem no exterior e deixou de ter uma "reputação catastrófica", que indicava pouco interesse na preservação da Amazônia. Entusiasta da agenda verde, inclusive como investidor, ele afirma que, agora, o Brasil precisa mostrar a que veio e transformar o passivo ambiental em ativo. Feitas as sinalizações maiores, agora é a hora de mostrar na prática que essas prioridades são para valer. Ele reconhece que a agenda ambiental do governo Lula tem enfrentado obstáculos, em meio a uma base mais fragmentada no Congresso, com algumas derrotas à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, cuja nomeação, na sua visão, foi um "sinal muito forte".
A direção está correta, agora é preciso ver na prática como vai funcionar. Sócio fundador da gestora eB Capital e ex-presidente de grandes empresas como Petrobras e BRF, Pedro Parente, afirma que percebeu uma melhora substancial na forma como o Brasil e sua agenda ambiental são vistos no cenário internacional. O Brasil é parte da solução, não é parte do problema. O problema era o governo anterior, que fazia questão de trabalhar contra o bom nome do País em relação aos temas ambientais. Segundo ele, o Brasil está em uma posição muito privilegiada para ajudar o mundo, considerando itens como água em abundância e uma matriz energética limpa. Hoje, de fato, é possível afirmar que o Brasil é parte da solução. O Brasil tem a condição de contribuir para a solução dos quatro grandes problemas globais: água, clima, energia e alimentos. A Cosan alerta que o Brasil precisa começar a agir rápido. O País está perdendo tempo com discussões que opõem o desenvolvimento e o meio ambiente como, por exemplo, as discussões em torno da exploração na Margem Equatorial, que abrange uma área do Amapá até o Rio Grande do Norte.
Nos corredores e nas plenárias, uma frase que ganhou força é a de que a agenda verde é um novo modelo econômico e tem de estar na ordem de frente. O Brasil perde tempo em mineração e em energia renovável. Precisa agir mais rápido. O ex-ministro da Fazenda e diretor de Estratégia Econômica e Mercados do Banco Safra, Joaquim Levy, afirma que o Brasil não consegue competir com os Estados Unidos, que turbinou os investimentos depois da lei 'Inflation Reduction Act' (lei de redução da inflação), ou da Europa. Mas também não tem necessidade. Na sua visão, o País tem de ter ambições grandes e atuar em parcerias, envolvendo outros países e investidores estrangeiros. O Brasil está em uma posição única. Pode se tornar uma economia de zero emissões de carbono e, em praticamente todos os casos, tem uma situação mais competitiva na transição energética. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.