14/Sep/2023
O PIB acumulado do primeiro semestre de 2023 gerou um interessante debate sobre a capacidade de o agronegócio impulsionar o crescimento da atividade econômica do País sobretudo em 2024. Digo 2024 porque no segundo semestre de cada ano, dada a característica sazonal da produção agropecuária, a força do setor para impulsionar o PIB tende a ser menor. Os dados de crescimento do PIB agropecuário em 2023 medidos pelo IBGE são muito contundentes. A taxa acumulada do setor no ano foi de 17,9% em relação ao primeiro semestre de 2022. Mesmo descontando a queda ocorrida no ano passado, por conta de frustrações de safra, o incremento em 2023 foi muito elevado. Em valores ajustados para a mesma base de preços, o PIB da agropecuária do primeiro semestre é o mais alto desde 1996. Embora a ordem de grandeza seja diferente, o PIB do agronegócio medido pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP (Cepea) também cresceu.
O Cepea divulgou o PIB do agronegócio para o primeiro trimestre de 2023 relativamente ao mesmo período de 2022. O crescimento foi de 0,19%, tendo sido 1,38% olhando apenas para o setor primário, 0,11% para agroindústria e 0,15% para os agrosserviços. A análise do PIB do agronegócio do Cepea traz informações importantes para o tema deste artigo, ou seja, o vigor do agro em continuar impulsionando o PIB brasileiro. A informação inicial é que no primeiro trimestre de 2023, embora a safra de grãos tenha sido recorde, a estimativa do Cepea para este ano indica pequena queda na participação do agro no PIB do Brasil. Ou seja, outros setores deverão ganhar espaço. A segunda informação é a decomposição em quantidade e preço do valor bruto de produção. Essa análise explica se o desempenho de um determinado setor se deveu a maior ou menor produção ou a maior ou menor preço.
No setor de insumos, preço e quantidade caíram nos defensivos e fertilizantes. Máquinas caiu quantidade, mas subiram os preços. Nas lavouras e na pecuária a quantidade produzida aumentou, mas os preços caíram, resultando em pequeno aumento do valor bruto nas lavouras e pequena queda na pecuária. O crescimento em quantidade das lavouras chama atenção, 12,5%, mas a queda de preço foi de -10,7%, chamando a atenção da mesma forma. Na soja, o crescimento em quantidade foi de 23,3%, mas o recuo de preços foi de -17,9%. O PIB do agronegócio já dá a pista para pensarmos sobre 2024: a capacidade de o setor puxar para cima o PIB brasileiro, como assistimos em 2020, 2021 e 2022 depende, sobretudo, da evolução dos preços. Inspirado na análise do Cepea, fiz algo semelhante para as exportações do agro. O mercado internacional representa ao redor de 60% do valor bruto de produção da agropecuária e 50% do valor adicionado da agropecuária e agroindústria.
Vê-se que o desempenho nas exportações é determinante do desempenho do PIB do setor, dada a enorme relevância do consumidor internacional. Além disso, é o agronegócio que gera os superávits de balança comercial brasileiros. Fiz a decomposição do valor exportado separando quantidade e preços, assim como feito pelo Cepea. Com base nos dados de exportação janeiro-julho de 2023, elaborei a estimativa para o ano. E criei um indicador de valor, preço e quantidade. Olhando uma série mais longa, de 2014 até 2023 (projetado), o volume exportado cresceu 227%, ao passo que os preços avançaram 76,4% (as contas foram feitas com os preços em US$). Observa-se que o principal fator que explica o crescimento das exportações agroindustriais brasileiras foi o aumento do volume exportado.
Mas, quando olhamos um período mais curto, de 2019 até 2023, os dados mostram que até 2022 foram os preços que tiveram maior peso no resultado, com crescimento de 47%, ao passo que a quantidade cresceu 13,8%, resultando em aumento de 64,8% no valor exportado. Ou seja, o crescimento observado das exportações agroindustriais em 2020, 2021 e 2022 teve importante contribuição do incremento dos preços em USD. Já 2023 projetado com base nos dados de janeiro a julho indica um comportamento totalmente diferente. Com relação a 2022, o ano de 2023 indica queda de -3% nos preços de exportação, aumentos de 16,9% no volume e de 7,7% no valor exportado. Ou seja, o volume cresce com vigor, mas os preços estão em queda. As exportações agroindustriais cresceram, em valor, 18,6% em 2021 sobre 2020 e 33,6% em 2022 sobre 2021. Conforme citado, a projeção para 2023 aponta 7,7% de crescimento sobre 2022. O menor avanço comparado aos dois anos anteriores decorre da queda de preços.
A força do agronegócio no PIB brasileiro vai depender do comportamento dos preços em 2024. É muito provável que a produção agropecuária continue crescendo em volume, conforme vimos esse ano. Se os preços caírem mais ou não subirem, o agro não deverá puxar o PIB brasileiro no próximo ano. As projeções de preços do Banco Mundial para produtos agroindustriais já indicam a queda de 2023, relativamente a 2022, e apontam outra queda, embora menor, em 2024 relativamente a 2023. Para farelos proteicos e óleos vegetais, estimam -1,9% de queda em 2024. Para grãos, -7,8%, e, para café, entre -2% e -4%. Nas carnes, projetam queda no frango e, como exceção, aumento de preços na carne bovina e no açúcar. Se confirmadas as projeções do Banco do Mundial, podemos ter preços em US$ em 2024 menores do que 2023. Menores preços em US$ em 2024 vão segurar crescimento das exportações e, mantida a mesma taxa de câmbio, devem se refletir em menores preços domésticos também.
Da mesma forma, os preços dos insumos agropecuários terão mais queda de preços, o que alivia o custo de produção. Mas da perspectiva de valor adicionado, que é o conceito de PIB, menores preços em R$ devem afetar negativamente o desempenho do PIB agropecuário em 2024. Menores preços são sempre uma boa notícia para os consumidores. No entanto, para um País que depende tanto, do ponto de vista macroeconômico, do agro como puxador de PIB e empurrador de exportações, menores preços do agro devem atrapalhar o crescimento da economia. Assim, é preciso pensar que setores vão alçar o PIB em 2024 no lugar do agro. Faço votos que seja o investimento privado, no lugar de setores que requeiram estímulo fiscal e mais déficit público. Fonte: André Nassar. Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Broadcast Agro.