12/Sep/2023
Um estudo da consultoria Roland Berger, com base em números do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), estima que a atração de empresas para o Brasil por meio do "nearshoring" pode adicionar US$ 8 bilhões ao ano em exportação. É um número importante, mas bem menor do que os recursos esperados para o México, da ordem de US$ 35,2 bilhões anuais. O Brasil tem um posicionamento geográfico estratégico. Pode atender o resto da América Latina, o sul da África e o norte da Europa. O México não tem uma matriz energética tão limpa quanto a brasileira, mas tem a vantagem inegável da proximidade com os Estados Unidos. De acordo com o estudo, o Brasil tem um potencial maior no setor automotivo. Se o País conseguir substituir 30% do que compra da China em autopeças, por exemplo, seria possível agregar US$ 1 bilhão à cadeia do setor.
Num primeiro momento, as empresas que vêm para o País importam, mas, depois, começam a localizar a produção. Com projetos definidos de produção local de veículos híbridos e elétricos, quatro montadoras da China já se instalaram no País nos últimos dois anos. Os investimentos confirmados somam mais de R$ 13 bilhões, mas podem passar de R$ 20 bilhões no médio prazo. Fornecedores de componentes também podem chegar ao País nos próximos anos. A visão do governo chinês é de que companhias locais devem expandir seus negócios para gerar riquezas em outras partes do mundo, do contrário, não vai ter quem compre seus produtos. O grupo GWM comprou a fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP), e deve iniciar produção dos seus modelos em maio do próximo ano. O aporte total será de R$ 10 bilhões até 2026 para fazer veículos híbridos, híbridos plug-in e, futuramente, elétricos.
A expansão dos negócios chineses deve ocorrer em países considerados estratégicos para a China, como a África do Sul e o Brasil, que é base exportadora para os demais mercados da região, inclusive o México, com os quais tem acordos comerciais. O Brics, grupo que hoje reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, já é um elo que fortalece essa estratégia. Além disso, a China tem interesse nos minerais usados na produção de baterias, e o Brasil é grande produtor de alguns deles, como o lítio. Outra vantagem é a possibilidade de exportar para os Estados Unidos, já que a guerra comercial entre Estados Unidos e China não permite essa relação, e para a Europa, onde o produto chinês tem pouca entrada. Vão vir muito mais empresas para o Brasil, não só montadoras. A BYD, maior fabricante de carros elétricos do mundo, já anunciou aportes de R$ 3 bilhões no País para produzir carros, caminhões e chassis de ônibus elétricos, além de uma unidade para processamento de lítio.
O grupo deve ficar com a fábrica da Ford, em Camaçari (BA). Os aportes podem ser ampliados dependendo da prorrogação ou não do programa automotivo de incentivos a empresas na Região Nordeste, que será votado no Senado como parte do projeto de reforma tributária. Outra chinesa que iniciará a montagem de ônibus no País em 2024, em Fortaleza (CE), é a Higer Bus. O grupo XCMG, também chinês, pretende produzir caminhões elétricos rodoviários em Pouso Alegre (MG) a partir de 2025. O investimento ainda não foi divulgado. A necessidade de as indústrias desenvolverem cadeias de abastecimento mais sustentáveis e se instalarem em localidades propícias para isso, condição batizada de "greenshoring", é um fator que pesa favoravelmente ao Brasil. Se esse movimento ganhar força, o País se beneficiaria por dispor de grande oferta de energia solar, eólica e hídrica, que poderia ser usada na fabricação de hidrogênio verde.
Para o Bradesco, se a reforma tributária passar no Senado e o País melhorar a infraestrutura, o Brasil pode ser notado como um hub de produção de bens sustentáveis. O Brasil tem uma posição competitiva relativamente boa para atrair investimentos devido à ausência de conflitos militares, a um ambiente de negócios conhecido para países Ocidentais (ainda que complexo) e, sobretudo, à matriz energética limpa. Ex-vice-presidente do Banco Mundial e membro do think tank Policy Center for the New South, Otaviano Canuto concorda sobre o potencial da matriz energética limpa nessa corrida. O País tem enormes chances de ampliar a produção de energia limpa e pode atrair processos industriais intensivos no uso de energia. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.