ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

01/Sep/2023

Consumo de duráveis e semiduráveis enfraquecido

Segundo cálculos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em meio ao ambiente de juros altos e endividamento elevado, os brasileiros permanecem com dificuldade de recuperar o patamar de consumo de produtos não essenciais que exibiam no pré-pandemia. No segundo trimestre deste ano, o Consumo das Famílias cresceu modestamente, alta de 0,4% em relação ao primeiro trimestre, contribuindo para o freio no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que teria subido apenas 0,2% no período. A falta de fôlego reside na aquisição de bens em segmentos mais dependentes do crédito, enquanto a compra de itens essenciais e serviços permanece resiliente. O Consumo das Famílias como um todo encerrou o mês de junho em patamar 3,85% superior ao nível pré-pandemia, de fevereiro de 2020.

O consumo de bens não duráveis estava 4,93% acima, e o de serviços estava 7,53% acima. Por outro lado, a aquisição de bens semiduráveis permanecia 11,50% abaixo do patamar pré-covid, enquanto a de bens de consumo duráveis estava 4,58% aquém, conforme dados desagregados do Monitor do PIB. O Brasil aumentou muito a taxa de juros para conter a inflação. Isso acaba tornando esses bens, que normalmente recebem mais financiamentos, mais caros. Então, as famílias acabam postergando o que elas podem de compras de duráveis. Os dados consideram a série histórica encadeada do volume consumido pelas famílias já com ajuste sazonal. O resultado oficial do PIB brasileiro no segundo trimestre será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (1º/09).

Segundo a Pesquisa Mensal de Comércio, apurada pelo IBGE, o volume de vendas do comércio varejista encerrou junho em patamar 3,0% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia de Covid-19. No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, as vendas operavam 4,8% acima do pré-pandemia. No entanto, apenas metade dos segmentos investigados funcionava acima do pré-crise sanitária: artigos farmacêuticos, combustíveis, supermercados, veículos e material de construção. Permaneciam consideravelmente aquém do volume vendido no pré-crise as atividades de móveis e eletrodomésticos (13,1% aquém do nível de fevereiro de 2020); outros artigos de uso pessoal e domésticos, que incluem as lojas de departamento (16,9% abaixo); vestuário (19,6% abaixo); equipamentos de informática e comunicação (20,3% abaixo); e livros e papelaria (37,4% abaixo).

As vendas de veículos superaram em junho pela primeira vez o nível pré-pandemia, impulsionadas pelo programa de descontos do governo para a aquisição de carros populares. O incentivo ajudou o desempenho do varejo ampliado no mês, mas o varejo restrito ficou estagnado. Embora o varejo restrito esteja há três meses sem avanço nas vendas, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) elevou sua projeção para o volume vendido no ano de 2023, de 1,6% para 1,8%, graças ao início do ciclo de cortes na taxa básica de juros. Com o início do ciclo de afrouxamento monetário, a CNC ficou mais confiante na recuperação das vendas de setores dependentes do crédito ainda no segundo semestre. É uma melhora marginal para esse ano, por conta de uma percepção de que os juros vão cair na ponta.

O cenário prevê impactos positivos de medidas do governo, como uma possível regulamentação do juro rotativo do cartão de crédito e a implementação do programa de renegociação de dívidas Desenrola. Existe uma agenda paralela de sinal claro de reativação da aceleração do nível de atividade econômica. Do ponto de vista das variáveis tradicionais, é o juro que deve capitanear esse processo. Isso é um efeito que só será observado de forma mais contundente e mais constante em 2024. Mas, essa agenda paralela, sem dúvida, vai contribuir para a construção de um cenário melhor para consumo. A CNC revelou na semana passada que a propensão dos brasileiros ao consumo melhorou em agosto, impulsionada pelo freio na inflação no País.

A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) cresceu 1,4% em relação a julho, descontados os efeitos sazonais, para 101,1 pontos, o maior patamar desde abril de 2015. O indicador retornou à zona de otimismo, acima dos 100 pontos, pela primeira vez em mais de oito anos, frisou a entidade. Apesar da resiliência maior que a esperada mostrada pela economia brasileira no primeiro semestre, a demanda doméstica seguiu praticamente estável no período, comprometendo o resultado não apenas de alguns segmentos do varejo, mas, consequentemente, também da indústria de transformação, ponderou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). A indústria, como tem sido a regra, foi o setor que pior se saiu na primeira metade do ano, com uma queda de 0,3% na produção no primeiro semestre.

O quadro geral é de estagnação industrial. O Monitor do PIB da FGV estima que houve um avanço de 0,5% no PIB da indústria de transformação no segundo trimestre de 2023 ante o trimestre imediatamente anterior. O resultado é positivo, mas ainda insuficiente para recuperar as perdas dos trimestres anteriores: depois de ficar estagnado no terceiro trimestre de 2022, o PIB da indústria de transformação caiu 1,3% no quarto trimestre do ano passado, seguido de recuo de 0,7% no primeiro trimestre deste ano. A produção de máquinas e equipamentos para a própria indústria já somam sete trimestres seguidos de queda, dando um indício negativo para o investimento do setor. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.