ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

31/Aug/2023

Ártico vira zona de disputa entre a Rússia e OTAN

O aquecimento global traz uma série de ameaças. Um desses efeitos colaterais é o derretimento da calota de gelo do Ártico, que abre a região para o transporte de mercadorias e para a exploração de recursos naturais, aumentando o risco de atritos entre os oito países com território no Círculo Polar: Rússia e sete membros da OTAN. A Rússia não esconde o desejo de expandir sua presença na região, e pode ganhar uma companhia inusitada: a China, interessada em adotar uma “Rota da Seda Polar”. A competição aumentou a preocupação dos países nórdicos com a espionagem russa e os Estados Unidos reforçaram exercícios militares e abriram um posto diplomático em Tromso, no Ártico norueguês, a primeira missão diplomática na região desde os anos 90. Os oito países criaram o Conselho do Ártico para cooperação entre Estados Unidos, Canadá, Islândia, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Noruega e Rússia.

Após a invasão russa da Ucrânia, o grupo paralisou suas atividades, em razão da recusa de seus membros em trabalhar com o governo russo. Segundo a Universidade de Tromso, o desejo da Rússia de explorar o Ártico deixa a OTAN preocupada com a possibilidade de acirrar uma rivalidade na região. Segundo estudo da Organização das Nações Unidas (ONU), o Ártico aqueceu quatro vezes mais rápido do que o restante do planeta nos últimos 40 anos. A Iniciativa Climática Internacional da Criosfera estima que a emissão de gases estufa pode derreter todo o gelo polar até 2050. As mudanças rápidas no ambiente abrem possibilidades de navegação. Algumas décadas atrás seria impossível cogitar a exploração de recursos do Ártico. Mas agora os países estão interessados. Segundo o Instituto Americano de Geociências, o Ártico possui 90 bilhões de barris de petróleo (16% do total global) e 44 bilhões de gás natural líquido (38%).

Segundo o Instituto Norueguês para Estudos de Defesa, ainda é caro explorar petróleo no Ártico e o tráfego marítimo ainda é muito baixo. Muitas expectativas criadas não vão acontecer. Mas, em 20 anos, quando não tiver mais gelo, pode ser que a competição se torne realidade. O interesse da Rússia no Ártico é antigo e a região é palco de atividades militares desde a Guerra Fria. Em caso de uma guerra global, o protocolo soviético previa um ataque aos Estados Unidos partindo do Polo Norte. É a rota mais curta. Então, a região estava totalmente militarizada. A Guerra Fria acabou, mas a Rússia ainda tem uma forte presença militar na região, com bases navais, mísseis e submarinos nucleares estacionados no Ártico. A Rússia transferiu recursos para o Ártico, moveu tropas e reabriu bases da Guerra Fria, o que causa preocupação com uma nova militarização da área. A China não tem território no Ártico, mas nem por isso está fora da geopolítica polar. A China já participa do Conselho do Ártico como país observador.

Segundo o Instituto Finlandês de Relações Exteriores, a China quer se aproveitar da aliança e do isolamento da Rússia para barganhar o uso de território russo no Ártico para abrir novas rotas comerciais. Esta expansão preocupa os Estados Unidos, principalmente em razão do Alasca e da possibilidade de espionagem. A espionagem entre Rússia e países nórdicos é corriqueira. Em 2022, a Noruega prendeu um espião russo que trabalhava na Universidade de Tromso e entrou na Noruega com um passaporte brasileiro. Ele se dizia um especialista em segurança no Ártico. Outra ameaça à segurança no Ártico vem da sabotagem. De acordo com uma investigação conjunta de emissoras públicas de TV de Noruega, Dinamarca, Suécia e Islândia, a Rússia tem uma frota no Mar do Norte especializada em sabotar parques eólicos, tubulações de gás e cabos de comunicação.

As embarcações navegam disfarçadas de pesqueiros, cargueiros e navios de pesquisa, carregando equipamentos de vigilância subaquática e mapeamento. Especialistas, no entanto, afirmam que um conflito entre Rússia e OTAN no Ártico não ocorrerá enquanto a guerra na Ucrânia estiver sendo travada. A Rússia não quer um aumento da presença militar na região, quer proteger seus submarinos nucleares e explorar o potencial econômico do Ártico, o que não é possível fazer se houver um conflito na Ucrânia. O Ártico não deve ser palco de um conflito nos mesmos moldes da guerra na Ucrânia, mas as animosidades criadas entre a Rússia e o Ocidente prejudicam a cooperação em outros temas importantes. A deterioração na relação torna mais difícil o trabalho conjunto em temas como mudanças climáticas, militarização e exploração comercial do Ártico. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.