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29/Aug/2023

Questão ambiental garante protagonismo político

Meio ambiente não dá voto no Brasil, mas garante protagonismo político. Segundo levantamento feito em 2022 pela Atlas/Arko, apenas 2% dos brasileiros consideram os problemas ambientais como os mais graves do País. As dificuldades na saúde pública, a falta de qualidade da educação, o desemprego, a corrupção e a pobreza são as grandes batalhas a serem enfrentadas pelos governantes, mesmo o País tendo vivenciado nos últimos anos desastres ambientais gravíssimos, como o ocorrido em Brumadinho, Minas Gerais. Esse certo distanciamento com o tema não faz do brasileiro indiferente ao assunto. Pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que 77% dos brasileiros se dizem muito preocupados com o meio ambiente e para 95% é possível alinhar progresso econômico e conservação ambiental, em particular da região amazônica.

Pode não ser a questão ambiental a força motriz para determinar o voto do brasileiro, mas, sem sombra de dúvidas, o assunto é de interesse do eleitor e pode gerar uma relação direta entre o candidato e quem o escolhe. Marina Silva foi projetada em 2010 como candidata à Presidência da República, após sua experiência como ministra do Meio Ambiente, cargo que ela voltaria a ocupar no atual governo Lula. Marina conseguiu ser a candidata com a melhor intenção de votos de uma terceira via no pós-redemocratização. Na sua primeira tentativa fez 19,33% dos votos. Em 2014, quando assumiu a campanha após a morte do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, fez 21,32%. O Partido Verde, que foi a primeira legenda que permitiu a Marina Silva ser candidata à Presidência, também já lançou Fernando Gabeira, Alfredo Sirkis e Eduardo Jorge para o Planalto.

A saída de Marina Silva para a criação da Rede Sustentabilidade, no entanto, enfraqueceu a legenda, que chegou a ter relevância na política nacional, mas ultimamente apenas sobrevive graças a uma federação feita com o PT. Com apenas seis deputados federais, o PV ficaria sem Fundo Partidário e tempo televisivo. A própria Rede, idealizada por Marina, também só sobreviveu por uma federação partidária com o PSOL. Essa diminuição dos verdes no Brasil contrasta com o movimento em nível global. No Parlamento Europeu, os verdes são a quarta força política, no Bundestag alemão, têm 10% dos assentos, são 14% no parlamento austríaco e são o quarto partido em número de filiados no México. As pautas ambientais cada vez mais estão no cerne das grandes lideranças políticas mundiais. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, desde a campanha, comprometeu com as pautas ambientalistas, sendo um feroz defensor delas. Como presidente, anunciou pacote de US$ 2,3 bilhões para infraestrutura ambiental e combate a condições climáticas extremas e desastres naturais.

O Brasil é um grande ator global quando a pauta é meio ambiente e sustentabilidade. Desde a ECO-92, no Rio de Janeiro, o País se tornou liderança diplomática no assunto. O anúncio de que o Brasil sediará a COP-30, em novembro de 2025, o projeta como autoridade extrema na agenda. A escolha de Belém (PA) para receber o evento impacta o jogo político de 2026. Helder Barbalho, governador reeleito do Pará, anfitrião da COP-30, tem se tornado uma importante liderança da agenda ambientalista mundial. Recebido pelo rei Charles III, do Reino Unido, que tem um histórico de ativismo ambiental, Helder tem roubado o protagonismo de Marina Silva como referência política na área. O MDB, seu partido, que ficou em um hiato de 24 anos sem lançar candidatura própria à Presidência da República e que já vem de duas eleições apresentando alternativas ao eleitorado brasileiro, Henrique Meirelles em 2018 e Simone Tebet em 2022, pode buscar no governador do Pará, que conseguiu o feito de se reeleger com 70,14% dos votos, uma nova cara para a corrida presidencial de 2026, eleição que pode ser a primeira de uma nova geração de políticos.

A participação de Helder na contenda presidencial de 2026 é tida como muito provável. Resta saber em qual posição do jogo ele estará. Caso Lula venha tentar a reeleição, sua vice será absolutamente disputada, e o nome de Helder, certamente, fulgurará entre os postulantes com maiores possibilidades. Ao conseguir transformar Belém na capital da Amazônia e na sede da discussão global sobre meio ambiente, em uma época estratégica, faltando menos de um ano para a próxima eleição presidencial, Helder Barbalho mostra que a pauta ambiental é um ativo poderoso para projetar personalidades políticas. Numa construção exógena, de fora para dentro, o governador do Estado do Pará tem amealhado alguns importantes incentivadores nos quatro cantos do planeta para que esteja no próximo jogo eleitoral. A dimensão interna, contudo, que alcançará ao longo dos próximos anos será o fiel da balança para a concretização ou não desse fato. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.