ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

29/Aug/2023

Problemas dos EUA e China afetam os emergentes

O aumento das taxas de juros nos Estados Unido e a lentidão econômica da China são um duplo golpe nos mercados emergentes. Os investidores esperavam que as economias em desenvolvimento, do Brasil à Tailândia, brilhassem este ano, à medida que as taxas de juros dos Estados Unidos caíssem, o dólar enfraquecesse, e a demanda chinesa se recuperasse após três anos de lockdowns provocados pela pandemia. Mas, aconteceu o inverso: o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) continuou a aumentar as taxas de juros para desacelerar a inflação, o que valorizou o dólar. Separadamente, a recuperação da China desvaneceu em meio a receios de que a economia local entre numa fase de crescimento mais lento. Os investidores desiludidos agora se desfasem de ativos de todo o mundo em desenvolvimento. Este movimento mostra os riscos que ainda pairam sobre a economia global este ano, mesmo com o encerramento, por parte de alguns bancos centrais, das campanhas agressivas de combate à inflação.

Os investidores reconhecem que as taxas de juros dos Estados Unidos provavelmente permanecerão mais altas por mais tempo do que esperavam, uma mudança que elevou os rendimentos dos títulos do Tesouro do país aos níveis mais altos em quase 16 anos. Embora o presidente do Fed, Jerome Powell, tenha defendido na sexta-feira (25/08), a manutenção das taxas neste momento, ele manteve a porta aberta para aumentá-las ainda este ano, caso a economia dos Estados Unidos não desacelere o suficiente para manter a inflação em queda. Os custos dos empréstimos nos Estados Unidos e o dólar são a espinha dorsal dos mercados financeiros globais, e as suas flutuações têm efeitos de longo alcance. Segundo a Rayliant Global Advisors, uma gestora de ativos de mercados emergentes avaliada em US$ 17 bilhões, todos estavam entusiasmados com os mercados emergentes no início do ano. Está claro que o sentimento de que as taxas permanecerão mais altas por mais tempo cresce nos Estados Unidos atualmente, então pode levar algum tempo até que o Fed relaxe, o dólar enfraqueça e a indústria se recupere.

O índice de referência de ações de mercados emergentes da MSCI caiu 7,3% em agosto, a caminho do seu pior mês em quase um ano. O peso colombiano caiu 4,7% em relação ao dólar, enquanto a rupia da Índia e o yuan offshore da China foram negociados perto de mínimas históricas. Os mercados emergentes são especialmente sensíveis à política do Fed, pois as taxas de juros mais elevadas dos Estados Unidos tornam os ativos de maior risco menos atraentes para os investidores. O rendimento extra que os títulos dos mercados emergentes oferecem em relação aos seus homólogos dos Estados Unidos caiu para o nível mais baixo desde 2007, de acordo com a Allianz Global Investors. Os títulos do Tesouro dos Estados Unidos oferecem agora retornos anuais de cerca de 2% além da inflação. Segundo a Oxford Economics, quanto pior for o diferencial das taxas de juros, mais relutantes as pessoas ficarão em investir nos mercados emergentes. As taxas de juros mais elevadas dos Estados Unidos também costumam impulsionar o dólar, o que torna mais caro para outros países comprarem bens cotados em dólares, ou pagar dívidas denominadas nessa moeda.

O dólar subiu durante seis semanas consecutivas, elevando os seus ganhos anuais para 2,2%, conforme medido pelo WSJ Dollar Index. A situação atual tornará difícil para os bancos centrais dos mercados emergentes reduzirem as suas próprias taxas de juros para estimular suas economias, à medida que estas desaceleram ainda mais. Muitos deles começaram a aumentar as taxas em 2021, bem antes do Fed, aumentando a sua credibilidade como combatentes agressivos da inflação, disse a Allianz Global Investors. Agora, muitos migram para taxas mais baixas à medida que a inflação cai, com o Chile e o Brasil à frente desse movimento. Mas, isso corre o risco de minar ainda mais a atratividade dos ativos destes países. Para a Abrdn, a reavaliação do Fed pelo mercado, provavelmente, limitará o número de cortes nas taxas que os bancos centrais dos mercados emergentes conseguem fazer. Os analistas não acreditam que a venda de ativos emergentes seja um presságio do retorno de uma turbulência extrema no mercado. Mas, as taxas mais elevadas dos Estados Unidos tornarão mais difícil para países como o Quênia ou o Egito contrair empréstimos nos mercados estrangeiros.

Alguns países emergentes mais frágeis foram excluídos dos mercados de dívida no ano passado, depois da invasão da Ucrânia pela Rússia exacerbar as pressões sobre os preços e levar os bancos centrais globais a aumentar as taxas de juros. Eles ainda têm um problema. Para a maioria destes locais, as pessoas não estão dispostas a comprar quaisquer destes títulos, a menos que seja com taxas de juros insustentavelmente elevadas. O mal-estar econômico da China também é uma desilusão para os investidores que esperavam que o abandono das políticas rigorosas de Covid zero por parte do governo chinês aumentasse a procura por petróleo, metais e bens produzidos por outros mercados emergentes. O governo parece relutante em utilizar medidas vigorosas de estímulo econômico que utilizou em desacelerações anteriores. A China está sobrecarregada por dívidas, o mercado imobiliário está em crise e quase sem coisas novas para construir e impulsionar o crescimento. Os bancos de investimento globais, incluindo o Barclays, estimam agora que a economia da China crescerá menos de 5% este ano, abaixo da meta do governo.

As dificuldades da China e o fim da era do dinheiro fácil poderão tornar mais difícil para muitas economias emergentes se expandirem às taxas espantosas do passado. Elas tiveram um crescimento anual médio de 5,2% neste século, um ritmo que, estima-se, será desacelerado para 3,9% no médio prazo, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Alguns analistas ainda veem motivos para otimismo. O remapeamento das cadeias de abastecimento globais beneficia países como o México, enquanto espera-se que o investimento governamental na transição para as energias limpas estimule o crescimento das economias emergentes. Países asiáticos como a Coreia do Sul tiveram sucesso ao desviar o comércio com a China para outros mercados, como os Estados Unidos e a Europa. Segundo a Clocktower Group, gestora de ativos, a diferença entre hoje e duas décadas atrás é que a China era o motor dos mercados emergentes naquela época. Agora, o novo motor serão os gastos de capital em todo o mundo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.