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28/Aug/2023

Entrevista com Jim O’Neill - criador do acrônimo Bric

Criador do acrônimo Bric, iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China (o “S” da África do Sul veio em 2011), Jim O’Neill está desiludido com o bloco e surpreso com o fato de o Brasil ter aceitado novos membros. “Estou quase a ponto de dizer que o Brics acabou.” Segue a entrevista:

Como o sr. analisa a ampliação do Brics?

Jim O’Neill: Estou atordoado. Não sei qual foi a lógica usada. A inclusão deveria ser feita com critérios transparentes. Se olharmos para os novos membros, não se sabe o que eles acrescentam. E, mais importante, por que uns países e não outros? Por que Argentina, não México? Por que Etiópia, não Nigéria? Por causa do Irã, o simbolismo do Brics está ficando mais sem sentido. Para mim, está muito distante dos princípios econômicos que pensei 20 anos atrás.

A expansão traz benefícios?

Jim O’Neill: Não. Desde o início do Brics, os países foram ineficazes em atingir qualquer meta. Agora, será ainda mais difícil. Estou surpreso que o Brasil tenha concordado com isso, porque a expansão reduz a relevância do País no grupo. O fato de a Arábia Saudita fazer parte é interessante, mas não faz muito sentido.

Haverá prejuízos para os países com um aumento de endividamento por conta do banco do Brics?

Jim O’Neill: Tirando a Arábia Saudita, nenhum desses outros cinco países é grande. Eles não estão crescendo. Para o banco do Brics será complicado, porque já houve uma grande perda com a questão da Rússia (na guerra contra a Ucrânia). Há ainda o conflito do Ocidente com o Irã, que pode causar problemas políticos.

Como criador do acrônimo, o sr. se sente pai de um filho que não deu muito certo?

Jim O’Neill: Estou quase a ponto de dizer que o Brics acabou. O bloco está cada vez mais distante dos princípios que embasaram a teoria. Os Emirados têm uma população pequena. Eles têm petróleo, mas qual a lógica de tê-los no bloco? A Nigéria já é maior do que a África do Sul. Se fosse para trazer outro país africano, por que a Etiópia? Na Ásia, por que não aceitar a Indonésia, uma das 20 maiores economias do mundo. Não entendo o que estão tentando fazer. Além disso, com 11 países, em vez de 5, é mais difícil concordar com qualquer coisa.

O Brasil deve insistir no Brics?

Jim O’Neill: Eu encorajaria Lula a não ter inimigos no Ocidente por conta do Brics. Essa oposição entre G-7 e Brics é estúpida. Seria mais interessante se inspirar no que a Índia fez com sucesso em relação ao Ocidente.

A Índia deveria ser inspiração para o Brasil?

Jim O’Neill: Sim. O Brasil precisa reduzir sua dependência da maldição das commodities. Aumentar o papel da tecnologia e de produtos que não sejam commodities seria o caminho ideal.

Fonte: Broadcast Agro.