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25/Aug/2023

Remoção de carbono: governos e grandes empresas

A tecnologia para remover carbono da atmosfera ainda não foi provada em grande escala, e a economia da atividade apenas começa a tomar forma. Mas, o que ficou claro este ano é que a remoção de carbono foi dominada por empresas gigantes e com grande apoio governamental. O Departamento de Energia dos Estados Unidos comprometeu-se este mês com US$ 1,2 bilhão para criar dois centros de remoção de carbono no Texas e na Louisiana, Estados que abrigam grande parte da indústria de combustíveis fósseis dos Estados Unidos. O maior concorrente no projeto do Texas será a Occidental Petroleum, que possui sua própria aposta de bilhões de dólares na tecnologia

Três acordos este ano cimentaram o envolvimento corporativo no setor: a Exxon Mobil comprou uma das maiores operadoras de oleodutos que transportam carbono para armazenamento no subsolo; a Occidental comprou uma das duas empresas de tecnologia de remoção de carbono mais bem estabelecidas; e a outra destas empresas concluiu o primeiro processo verificado por terceiros e lucrou com a venda de créditos de carbono para a Microsoft e outras grandes empresas. A tecnologia de remoção de carbono de maior destaque, e que conta com o aval do governo, da Occidental e destas startups, é a chamada captura direta do ar.

Ele emprega dispositivos semelhantes a aspiradores e ventiladores que sugam o ar, retiram o carbono e o enterram no subsolo. Trata-se de uma variação artificial do que as árvores fazem todos os dias. Este processo é diferente da captura de carbono a partir de chaminés. Esta opção é considerada mais fácil, pois as emissões são muito mais densas em carbono do que no ar livre. O dinheiro do Departamento de Energia, que representa um investimento recorde no setor e o maior de um governo, destina-se a criar uma indústria que é considerada vital para restringir as alterações climáticas. Mesmo os cenários mais otimistas de transição dos combustíveis fósseis não preveem progressos suficientes nas emissões sem a remoção de parte do que já existe, e a mitigação das emissões inevitáveis no futuro.

Segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos, é preciso colocar estes projetos em funcionamento para estimular que uma onda comercial os siga. Caso sejam financiados e concluídos, os dois centros de remoção de carbono tirariam da atmosfera cerca de 1 milhão de toneladas de dióxido de carbono, e armazenariam no subsolo. O montante equivale às emissões anuais de cerca de 220 mil automóveis movidos a gasolina, o que é uma fração do que é necessário globalmente para limitar as alterações climáticas. Cada projeto seria quase 250 vezes maior do que a única instalação de captura direta do ar atualmente em operação comercial.

O Departamento de Energia norte-americano também tentará estimular um modelo de negócio viável para a indústria, comprometendo-se a pagar US$ 35 milhões pelo carbono que as empresas removerem do ar. Trata-se do mesmo tipo de compra de créditos de carbono que a Microsoft e o JPMorgan Chase fizeram recentemente para incentivar a indústria. O financiamento não se limita à captura direta do ar, impulsionando potencialmente outras abordagens promissoras. As grandes empresas de combustíveis fósseis há muito se interessam por tecnologias que removem carbono da atmosfera, porque elas poderiam neutralizar as emissões que seus produtos criam.

A Occidental, gigante dos combustíveis fósseis mais agressiva na remoção de carbono, gastará bilhões de dólares neste esforço. A captura direta do ar permitiria à empresa continuar a produzir petróleo por décadas. Recentemente, a empresa anunciou a compra de um de seus parceiros tecnológicos no centro do Texas, a startup Carbon Engineering, por US$ 1,1 bilhão, a maior transação desse tipo no setor. Muitos analistas climáticos continuam céticos em relação à remoção do carbono, com temores de que seja caro demais e que possa dar aos produtores de combustíveis fósseis uma licença social para continuarem a poluir. Os críticos argumentam que a remoção do carbono da atmosfera apenas para compensar o novo carbono bombeado pelos combustíveis fósseis não ajudará a combater as alterações climáticas.

Para o Instituto de Legislação e Política de Remoção de Carbono da American University, isto realmente levanta algumas questões fundamentais sobre a sustentabilidade política destes esforços. As pessoas presumem, cada vez mais, que a produção de petróleo e a captura direta do ar andam juntas. Isso não é saudável quando se objetiva separar as duas coisas. Em julho, a Exxon Mobil concordou em pagar quase US$ 5 bilhões pela Denbury, uma operadora de gasodutos que transporta dióxido de carbono. Os dutos da Denbury normalmente transportam carbono capturado de chaminés, e não ao ar livre, mas a sua infraestrutura poderia ser utilizada para ambos os esforços.

A empresa também injeta carbono em campos petrolíferos envelhecidos para aumentar a produção, utilizando o processo conhecido como recuperação avançada de petróleo. Os centros de remoção de carbono foram financiados pela lei de infraestrutura de 2021. As empresas têm de contribuir com recursos equivalentes aos subsídios do governo, e são responsáveis por quaisquer custos extras. Em breve, o Departamento de Energia dos Estados Unidos concederá bilhões de dólares para centros de hidrogênio, utilizando mais financiamento da legislação sobre infraestrutura, outro passo para impulsionar um setor climático. A principal empresa do centro da remoção de carbono na Louisiana é a Climeworks, que administra a primeira instalação mundial comercial de captura direta do ar na Islândia.

Além de vender créditos a grandes empresas, a empresa levantou US$ 650 milhões de forma privada junto a grandes investidores no início do ano passado, outro marco financeiro para a indústria. As empresas estão ansiosas por mitigar as suas próprias emissões, e os créditos de carbono, como a preservação das florestas ou as energias renováveis, têm sido criticados por não conseguirem reduzir o carbono na atmosfera. A remoção de carbono tornou-se cada vez mais interessante para as empresas porque proporciona a certeza de que elas contribuirão para o clima, embora muitos consumidores continuem hesitantes. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.