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23/Aug/2023

China: crise econômica e potencial alcance global

A gigante do setor incorporador China Evergrande pediu recuperação judicial às autoridades dos Estados Unidos no dia 18 de agosto. Nada indica que se trate de um drama corporativo isolado, mas do prenúncio de uma crise financeira sem precedentes na China e com potencial de irradiar-se pelo planeta com força proporcional à de 2008. O quadro é altamente preocupante. Reflete a incapacidade do governo chinês enfrentar mazelas há muito conhecidas nos seus mercados doméstico e externo. De outro lado, expõe a justa desconfiança de investidores sobre o desempenho econômico chinês dado o gradual aumento da censura de estatísticas desde 2012.

Alertas adicionais têm sido disparados nas bolsas de valores de Xangai e Hong Kong, com a redução de exposição de investidores estrangeiros aos ativos da China. Mais recentemente, as notícias sobre a suspensão de pagamento de compromissos externos pela Country Garden, concorrente da Evergrande, e pela Zhongrong International Trust, comercializadora de produtos financeiros, agravaram a percepção de risco de desmonte da indústria incorporadora e, a reboque, do setor financeiro do país. As três companhias, assim como concorrentes menores, estão em franca crise há anos. Ambos os setores estiveram no centro da estratégia de crescimento econômico no pós-crise de 2008.

Ao centrar-se no impulso ao mercado doméstico, a construção civil e a venda de imóveis ganharam peso como meios de atrair investimentos, de mover a economia do país e de girar parcelas significativas do setor financeiro. O equívoco dessa política incentivada pelo governo chinês é visível nos milhões de imóveis vazios, particularmente nas chamadas cidades fantasmas, e na queda acentuada de seus valores. Ao colapso desse modelo se soma o fracasso do governo de Xi Jinping em fazer as mudanças e adaptações mais do que necessárias. As medidas anunciadas nos últimos anos mostraram-se insuficientes para evitar as crises financeira, imobiliária e no consumo, que se retroalimentam.

Nada disso seria preocupante não fosse a China responsável por 35% da atividade global neste ano, conforme estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), e uma das economias mais expostas ao mercado externo. Outro fator acentua as preocupações. Por maior que seja sua abertura desde os tempos de Deng Xiaoping e por mais atraente que tenha se tornado aos grandes investidores nas últimas décadas, a China continua a portar-se como uma imensa caixa-preta. Há rara clareza sobre o quadro fiscal de governos e estatais provinciais, assim como a ação dos shadow banks, os organismos não financeiros que há anos prestam socorro a essas instituições e às do setor imobiliário.

A opacidade abarca também milhares de estatísticas gradualmente censuradas ao público desde a ascensão de Xi Jinping. Antes apenas alvo de desconfiança, os dados econômicos tornaram-se escassos demais no momento em que a China se converte em epicentro de uma potencial crise global. O governo chinês insiste há anos em responder ao mundo como se fosse uma economia menor e isolada. Somam-se incertezas sobre os resultados de seus planos mais recentes para superar as crises que se multiplicam em seu território, uma vez que os anteriores falharam e há maior desconhecimento sobre a dimensão delas. O último corte da taxa básica de juros e as recentes medidas tomadas pelo regulador do mercado de valores para “elevar a confiança” dos investidores dificilmente acalmarão os mercados e suspenderão especulações.

A frustração da perspectiva de expansão da atividade do país em apenas 3,5% neste ano, calculada pelo FMI, está dada, assim como o ceticismo sobre a performance da economia mundial nos próximos anos, sobretudo das nações mais dependentes do mercado chinês. A China se orgulha de ter trilhado um caminho próprio para se tornar uma potência global, mas aparentemente os limites desse modelo foram atingidos. O governo chinês, fiel à cartilha autoritária, prefere censurar estatísticas e postergar medidas nevrálgicas para enfrentar seus problemas. Se não quiser ser visto como um “tigre de papel”, aquele que, segundo Mao, referindo-se aos Estados Unidos, só é poderoso na aparência, a China precisa mostrar que entendeu o tamanho de sua crise. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.