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11/Aug/2023

Comércio fraco e a divisão da economia mundial

A desaceleração do comércio mundial, demonstrada pela queda das exportações chinesas e redução nas importações dos Estados Unidos, reflete principalmente uma fase de fraco crescimento econômico global. Mas também levanta questionamentos sobre a existência de mudanças mais profundas em andamento, com as décadas de integração econômica global dando lugar a uma nova era em que a China e o Ocidente reduzem o comércio mútuo e concentram os negócios com aliados políticos. As tensões geopolíticas, agravadas pela invasão da Ucrânia pela Rússia, aumentam as restrições por parte dos Estados Unidos e da Europa aos negócios com a China. A escala e a complexidade dos vínculos globais de comércio e investimentos, porém, significa que qualquer processo de separação em blocos de países com ideias semelhantes deve ser gradual e incompleto. O comércio global está enfraquecido principalmente porque a demanda por bens está baixa.

Taxas de juros mais altas nos Estados Unidos, Europa e outras economias, em uma batalha contra a inflação, levaram a uma ampla desaceleração internacional. Além disso, os consumidores que gastaram mais com bens durante e logo após a pandemia agora gastam uma parcela maior da renda disponível com serviços que, com exceções como o turismo, tendem a ser fornecidos localmente. As economias altamente industrializadas da Ásia sentem as consequências. O comércio de serviços é mais vigoroso do que as remessas de mercadorias, graças, principalmente, à recuperação das viagens e do turismo internacional, que devem crescer este ano para perto dos níveis anteriores à pandemia. A própria inflação afeta o comércio também. Os preços dos alimentos e da energia permanecem mais altos do que antes de a Rússia invadir a Ucrânia, no início de 2022, reduzindo a renda disponível de consumidores no mundo todo, embora os preços de commodities como grãos e gás natural tenham caído em relação ao pico do ano passado.

Segundo a London School of Economics, a história principal parece ser a desaceleração global da indústria, após o forte aumento registrado após a pandemia. Fragmentação, desglobalização, redução de riscos terão papel maior e mais significativo nos próximos anos. Mas, há dúvidas de que isso possa acontecer de um dia para o outro. A demanda persistente do consumidor dos Estados Unidos, ajudada pelo forte crescimento dos salários, é um ponto positivo para a economia mundial. Mas, a elevação das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) pesa sobre o investimento das empresas, incluindo gastos com bens de capital. Os dados do comércio começam a refletir este cenário. Segundo a Oxford Economics, no primeiro semestre, as importações totais dos Estados Unidos caíram 4% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as exportações cresceram 2,6%, segundo informou o Departamento de Comércio no dia 8 de agosto.

As importações caíram 1% em junho em relação a maio, para US$ 313 bilhões, nível mais baixo desde dezembro de 2021. Embora a temporada de férias no Hemisfério Norte possa representar alguma melhora nos fluxos comerciais, a expectativa é de ‘ventos contrários’ na forma de taxas de juros mais altas, redução da demanda do consumidor e uma leve recessão, impedindo uma recuperação sustentada até 2024. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê a redução do crescimento do comércio global para 2% este ano, ante 5,2% no ano passado. O Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMC) preveem que o comércio crescerá apenas 1,7% este ano. Mesmo uma recuperação parcial em 2024 deve ficar abaixo do crescimento médio anual do comércio global durante as duas décadas que antecederam a pandemia, de 4,9%. Economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de outras organizações multilaterais culpam principalmente o lento crescimento em geral, especialmente nas economias avançadas.

Mas também expressam preocupação com o efeito de longo prazo das rivalidades geopolíticas no comércio global, com o possível surgimento de um bloco comercial envolvendo a China e a Rússia, e outro em torno dos Estados Unidos e aliados. O FMI vê um aumento das restrições comerciais impostas mutuamente entre os países, com a disseminação de tarifas e regulamentações restritivas. Há um impacto também no investimento direto, o que tem muita importância. Os Estados Unidos devem anunciar novas restrições ao investimento em empresas de tecnologia chinesas, mais uma medida para restringir o acesso do país ao know-how norte-americano, após as restrições do ano passado à exportação de semicondutores avançados e equipamentos para fabricação de chips. O governo Biden manteve a maioria das tarifas sobre produtos da China e de outros países implementadas por seu antecessor, Donald Trump. Muitos países europeus vêm reprimindo investimentos chineses na região, e líderes do continente buscam maneiras de reduzir a dependência da China na aquisição de matérias-primas sensíveis e outros insumos.

Empresas da Alemanha e de outros países com forte dependência do mercado chinês, no entanto, vêm resistindo aos apelos políticos. Os esforços do Ocidente para isolar a Rússia expõem a dificuldade de se desfazer a globalização. Apesar das sanções à Rússia e dos pedidos de retirada das empresas, muitas companhias europeias e norte-americanas seguem operando na Rússia. Os picos nas exportações alemãs para países vizinhos da Rússia, como a Geórgia e o Cazaquistão, geram suspeitas de que a Rússia ainda importa muitos produtos ocidentais por meio de rotas indiretas. Por outro lado, os países europeus substituíram a maior parte do petróleo e gás naturais russos por outras fontes, enquanto a Rússia redireciona as exportações de energia para a China e outros países, mostrando que a guerra é capaz de produzir mudanças rápidas. Outras recentes mudanças geográficas incluem o aumento do comércio entre Estados Unidos e Europa, apesar da desaceleração do comércio ocidental com a China; o crescimento do México como o maior parceiro comercial dos Estados Unidos; e o realinhamento das exportações dos países em desenvolvimento para o mercado chinês em vez do Ocidente.

O ritmo e os padrões da globalização já sofreram mudanças no passado. A economia mundial tornou-se mais interconectada após o fim da Guerra Fria e o colapso do comunismo, e particularmente depois da entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001. Durante anos, o comércio e o investimento entre fronteiras cresceram como parte da atividade econômica global. Mas, a globalização começou a estagnar após a crise financeira global de 2008. O comércio já não crescia mais rápido do que a economia mundial como um todo, mas também não apresentada uma queda expressiva. A maioria dos economistas concorda que o aumento do comércio foi extremamente benéfico, de forma geral, ajudando a retirar centenas de milhões de pessoas da linha da pobreza e aumentando a produção tanto nas economias avançadas como nos países em desenvolvimento.

Mas, os ganhos não foram distribuídos uniformemente, em detrimento dos trabalhadores de renda média a baixa nos países ricos, o que alimentou reações políticas. Seguiu-se um retorno a tarifas mais altas e outras formas de proteção comercial, principalmente durante o governo Trump. Agora, a guerra na Ucrânia trouxe de volta o fantasma dos conflitos entre "grandes potências", incluindo China e Estados Unidos, e com isso uma pressão por mais barreiras econômicas. No início do século 20, as grandes guerras encerraram a primeira era do comércio global profundamente interconectado, que só foi restabelecido após a queda do Muro de Berlim. Agora, muitos economistas temem que uma reversão da explosão comercial deste século possa acarretar um alto custo econômico, resultando em preços mais altos e menor eficiência se a produção se deslocar para blocos politicamente aliados. Do ponto de vista econômico, uma divisão real do mundo em dois blocos seria uma grande perda. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.