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10/Aug/2023

América Latina mira no combate ao desmatamento

Os países da América Latina que compartilham a Floresta Amazônica deram início, na terça-feira (08/08), a um encontro de dois dias em Belém, no Pará, com o objetivo de deter o desmatamento, apontado por cientistas como responsável por acelerar as mudanças climáticas. O Brasil, que abriga 60% da maior floresta tropical do mundo, é o anfitrião da reunião de presidentes e altas autoridades dos países que possuem o bioma amazônico, incluindo Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Equador, Guiana e Suriname. O encontro de cúpula é o primeiro em 14 anos da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), grupo criado a partir da assinatura de um acordo entre as nações amazônicas, firmado em 1978, para promover o desenvolvimento harmônico da região. A França, que controla a Guiana Francesa, foi representada pelo embaixador francês em Brasília. A reunião ocorre no momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca posicionar o Brasil como voz de liderança na luta global contra o desmatamento e facilitador da cooperação ambiental no continente por meio do tratado de 45 anos.

"Nunca foi tão urgente retomar e ampliar essa cooperação. Este é o desafio da nossa era", disse Lula no discurso de abertura da Cúpula da Amazônia. Outros países com grandes florestas tropicais, como Indonésia, República do Congo e República Democrática do Congo, participaram do encontro, além de Noruega e Alemanha, que contribuem com programas contra o desmatamento. Os Emirados Árabes Unidos, que sediarão a cúpula das Nações Unidas para o clima este ano, em Dubai, também participam. Com o dobro do tamanho da Índia, a Floresta Amazônica absorve mais carbono do que libera, atuando como um freio vital das mudanças climáticas no mundo todo. No entanto, com cerca de 20% da floresta original já extinta, cientistas afirmam que a Amazônia pode estar perto de um ponto sem retorno, afetada por secas que podem levar a região a se tornar uma savana. Os efeitos podem ser globais. Cientistas do clima afirmam que a perda de florestas contribui para o aquecimento global, o que, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, explica por que ondas de calor como as observadas neste verão no Hemisfério Norte se tornam cada vez mais comuns.

O desmatamento na Amazônia brasileira atingiu o nível mais baixo em quatro anos desde que governo Lula começou, em janeiro, caindo 34% no primeiro semestre em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com dados preliminares do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Embora Lula tenha prometido reduzir a zero a destruição da floresta até 2030, argumentou que o objetivo não pode ser cumprido à custa do sustento de cerca de 30 milhões de pessoas que vivem na região. Em vez disso, segundo Lula, o Brasil deve construir uma nova economia verde na Amazônia com financiamento e investimento do exterior, além de desenvolver um mercado regulado de carbono. O Brasil conta com doações externas para ajudar a operar os órgãos ambientais, que utilizam helicópteros, drones, entre outros equipamentos, para monitorar o desmatamento ilegal em toda a região. “O que queremos é dizer ao mundo o que vamos fazer com as nossas florestas e o que o mundo tem que fazer para nos ajudar", disse Lula, em comunicado do governo.

Lula afirmou que quer pressionar os países ricos a cumprirem a promessa estabelecida no Acordo de Paris, em 2015, de fornecer US$ 100 bilhões por ano para ajudar os países em desenvolvimento a combater as mudanças climáticas. Outros países da América Latina, como Colômbia e Peru, estabeleceram metas de desmatamento, mas enfrentam desafios diante da mineração ilegal e do tráfico de drogas que controlam a floresta, situação recentemente classificada pela ONU como "narcodesmatamento". Combater o desmatamento é uma das tarefas mais urgentes da América do Sul, segundo cientistas. Áreas amplamente desmatadas da região sudeste da Amazônia já deixaram de funcionar como absorvedoras de carbono e passaram a ser fontes de carbono, segundo estudo publicado em 2021 pelo Inpe. O estudo utilizou satélites para rastrear o desmatamento. A Floresta Amazônica tem influência sobre os padrões climáticos do mundo todo, e o avanço do desmatamento pode tornar cada vez mais comum a ocorrência de condições climáticas extremas, segundo o Earth Innovation Institute, com sede na Califórnia (EUA), e que trabalha na Amazônia há mais de 30 anos.

A floresta é como uma unidade de ar-condicionado, uma enorme máquina de processamento de calor que influencia o clima no mundo todo. A própria disposição dos líderes de se reunir para discutir o assunto já representa um resultado extremamente positivo. Ondas de calor extremo afetam as pessoas em grande parte dos Estados Unidos, Europa e Ásia este ano, enquanto temperaturas excepcionalmente altas no inverno da América do Sul derreteram a neve em montanhas dos Andes. A coordenação na região é fundamental, de acordo com ambientalistas. No centro da Amazônia, onde comunidades indígenas constantemente cruzam fronteiras, madeireiros e grupos criminosos circulam livremente, e os esforços de um único país não são suficientes para barrar o desmatamento. Um encontro de cúpula como este parecia uma possibilidade remota um ano atrás, durante o governo de Jair Bolsonaro, antecessor de Lula.

Bolsonaro, que se referia a si mesmo, em tom de brincadeira, como "Capitão Motosserra", cortou o financiamento da fiscalização ambiental e se irritava com as tentativas de países estrangeiros de influenciar a administração da Amazônia, mesmo ao convocá-los a financiar os esforços contra o desmatamento. Durante o governo conservador, uma faixa de floresta maior do que o Estado norte-americano de Vermont foi destruída em quatro anos, segundo dados do Inpe. Com a eleição de Lula, em outubro do ano passado, grande parte da América do Sul passou a estar sob lideranças esquerdistas relativamente aliadas, o que facilita as negociações na região em torno de uma questão: a Amazônia, que jamais chegou a resultar em uma cooperação de fato, segundo observam cientistas políticos. Pontos de conflito, sem dúvida, existem entre os países participantes da Cúpula de Belém. Enquanto Lula considera planos para explorar descobertas de petróleo offshore perto da foz do Rio Amazonas, o que ajudaria a reduzir os custos internos com combustíveis, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, pediu, no mês passado, que todos os novos empreendimentos relacionados ao petróleo fossem suspensos na região.

“Como chefes de estado, devemos garantir o fim de novas explorações de petróleo e gás na Amazônia", escreveu Petro no mês passado no jornal norte-americano Miami Herald. "Devemos demonstrar coragem, mesmo ao abordar questões sociais fundamentais em nossos países, agravadas por uma crise de custo de vida e inflação desenfreada." Para a coalizão de grupos ambientalistas Observatório do Clima, os países amazônicos devem encontrar uma base comum na necessidade de proteger as comunidades indígenas, combater o crime nas fronteiras e apoiar as pesquisas científicas para o melhor entendimento da floresta. Os países estão em diferentes situações políticas, mas todos encontraram espaço na agenda para se reunir e discutir essas questões delicadas. O principal ponto em comum, porém, é o desejo de conseguir que as nações mais ricas ajudem a pagar por tudo isso. "Mostrem o dinheiro, é o que todos dizem". Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.